Elso Araújo

O texto não é sobre a existência de vidas inteligentes em outras galáxias, mas sobre a grande aldeia global, ou “big brother”, em que o planeta se tornou nos últimos anos. As “lentes do mundo” foram ampliadas e todos são espionados em tempo real dando origem ao que poderia ser chamado de “o grande olho”, aquele que tudo vê; fenômeno que reputo ser de enorme impacto psicossocial em todas as sociedades e que ainda carece de muito estudo para que sejam analisados com mais acuidade seus efeitos negativos ou positivos.
Como se comportar diante da certeza de que não estamos mais só ante o fato que há sempre um equipamento apontado na nossa direção a nos observar, a gravar nossas conversas e a coletar intencionalmente, ou não, nossa imagem? Creio que poucas pessoas já pararam para pensar a respeito desse novo momento global, o do domínio do “olho a que tudo vê”; ressalte-se não no sentido do conhecimento espiritual, mas da extinção do instituto da privacidade.
As ações, atos e omissões, sejam positivas ou negativas, dos “nobres ou dos comuns” são acompanhadas hoje em tempo real, não só pela mídia convencional ou pelas novas mídias. Juntou-se a tudo isso a espionagem clandestina, a espionagem patrocinada pelo aparelho estatal, tanto o brasileiro quanto o estrangeiro, como já foi comprovado e escandalosamente revelado pela grande mídia.
Diante dessa realidade, qualquer um pode ser transformado em herói ou bandido ao ter sua intimidade e ou privacidade devassadas em questão de segundos. Como disse, trata-se de um fenômeno relativamente novo que as sociedades brasileira e mundial ainda não conseguiram se adaptar direito, mas que apresenta influência direta no comportamento do indivíduo e da sociedade.
Como tudo na vida, as atividades do “olho que tudo vê” apresentam, e isso não precisa de muito estudo para identificar, aspectos positivos e negativos.  Quantos corruptos, quantos assassinatos, assaltos, acidentes com mortes que poderiam ficar impunes já não foram elucidados? Por outra via, quantas pessoas honestas já não tiveram a vida devassada e  estraçalhada com a exposição criminosa de sua privacidade/intimidade por esse big brother?
Imperatriz é um pequeno exemplo do que já ocorre no resto do Brasil. Sem motivações políticas, industrial, grandes investigações ou questões de  soberania; e sim pelo avanço da violência, aos poucos a cidade vai se transformando nesse big brother. O monitoramento já faz parte da rotina da cidade.
O “sorria você está sendo filmado” nunca esteve tão presente na vida de Imperatriz quanto nos últimos dois anos. E não é só na região central. Em alguns bairros, um olhar mais acurado e logo é possível perceber a existência de câmeras estrategicamente instaladas, seja em postes, árvores, ou mesmo “escondidinha” em um ponto qualquer das residências ou empresas.
Alguns crimes de repercussão ocorridos por aqui e que poderiam ter caído na “galeria do esquecimento” e se transformado em um mero procedimento investigatório sem muita consequência, só foram elucidados graças às imagens captadas por essas “câmeras escondidas”.
Já virou até clichê das autoridades policiais quando entrevistadas pela imprensa dizer que “vamos levantar se alguma câmera nas imediações conseguiu captar as ações dos criminosos”.
Pelo que podemos constatar, nós podemos até ser diferenciados pela fama, pelos cargos que ocupamos, pela conta bancária, pela roupa, pelos títulos acadêmicos ou religiosos que ostentamos, contudo automaticamente nos tornamos iguais diante do “olho que tudo vê”.