A luta das mulheres por igualdade, respeito e contra a discriminação é milenar. Ao longo dos séculos, muitas perderam a vida para que algumas conquistas estejam hoje presente no mundo ocidental sendo comemoradas.
Acompanha-se diariamente o anúncio das lutas das mulheres daqui desse lado do Planeta, e até no fechado oriente médio. Quem ainda não ouviu a história da estudante paquistanesa Malala Yousafzai conhecida e reconhecida internacionalmente como ativista pelos direitos à educação e o direito das mulheres? A luta por igualdade de gênero, mercado de trabalho, espaço político, respeito e contra a discriminação, não é nova, tem sido intermitente.
As mulheres hoje ocupam postos máximos de comando politico e corporativo. Ângela Merkel e Michele Bachelet acabam de ser eleger, pela segunda vez, respectivamente para os comandos da Alemanha e do Chile; a Coreia do Sul, na Ásia, também tem uma mulher no comando.
De fato, ao debruçar os olhos sobre a história da luta da mulher, veremos muitos avanços e que muita coisa mudou. Em se tratando de Brasil, esses direitos conquistados acabaram positivados na Constituição e nas leis infraconstitucionais.
No País já tivemos uma mulher no comando do Supremo Tribunal Federal (STF) a mais alta corte da justiça pátria, e hoje uma delas comanda a nação. Ainda falta uma mulher na presidência da Câmara ou do Senado, mas é só uma questão de tempo.
Executivo e Judiciário hoje no Maranhão têm mulheres no comando. No âmbito municipal o que não faltam são elas em postos gerenciais, sendo ainda o município pioneiro na Criação de uma Secretaria de Políticas Públicas para Mulheres. Exemplos não faltam aqui na cidade, no Estado e no mundo afora.
Bem, se continuar nessa trajetória acabarei por fugir do assunto da coluna de hoje, e não é sobre as conquistas das mulheres que inicialmente desejava escrever.
Na coluna de hoje quero fazer uma provocação sobre a forma como o sexo feminino, de uns anos para cá, tem sido tratado no Brasil por parte da indústria fonográfica, pra não dizer pornográfica. Trata-se de uma questão muita séria, já que atinge profundamente a dignidade da pessoa humana, e o ruim é que tudo é visto e ouvido passivamente; diferente de países como a Alemanha que, como me exemplificou o padre e sociólogo Francisco Lima, costuma levar quem se volta para essa seara, aos tribunais.
A Constituição Federal Brasileira em pelo menos cinco incisos do famoso artigo 5, (IV, VI, VII, VIII e IX) garante a livre manifestação do pensamento, que se tornou uma espécie de sacramento quando se fala de liberdade, mas também abriga ressalvas como interpreta o constitucionalista Alexandre de Moraes que diz que a liberdade de manifestação de pensamento não exime a possibilidade de apreciação pelo Poder Judiciário qualquer eventual responsabilização civil ou criminal.
Temos visto nos últimos anos “hits” que expõem a mulher da pior maneira possível ser alçado ao topo das músicas mais bem executadas nas rádios do País. O que dizer de versos como Eu não tô de brincadeira/Eu meto tudo, eu pego firme pra valer/Chego cheio de maldade/Eu quero ouvir você gemer/Eu te ligo e chega a noite/Vou com tudo e vai que vai/Tem sabor de chocolate o sexo que a gente faz”? De autoria do funkeiro Naldo essa foi a segunda musica, segundo o ECAD, mais executada no Brasil nas boates e casas de shows no Brasil em 2013.
E falar o quê desta pérola do MC Pano? Abre as pernas e relaxa vem por cima e senta, senta senta... Ou deste outro funk: Vem amor, bate, não para, com o peru na minha cara. Bate, bate com o peru na minha cara.
O sertanejo, além de sua vertente romântica e inocente, sempre apostou nesse tipo de composição degradante e duplo sentido. A dupla Gino e Geno aparece com esta:
Eu Já Fui de Você
“Eu só fui de você, eu não fui de mais ninguém
Você me fez feliz e eu te fiz feliz também
Eu já fui de você, eu já fui de você
Meu amor eu não me esqueço que eu já fui de você”
E essa outra de Felipe e Falcão.
Monzão no Pau
“Eu não entendo eu já lhe dei uno zero
Um picasso amarelo tá devendo na cidade
Tô com vergonha com os amigos pegou mal
Porque ela vive andando
Com o seu monzão no pau”
Sandro e Gustavo, vem com esta:
A Garagem da Vizinha
“Põe o carro, tira o carro.
Na hora que eu quiser
Que garagem apertadinha
Que doçura de mulher
Tiro cedo, ponho a noite e também de tardezinha
Tô até trocando óleo na garagem da vizinha”
O que parece num primeiro momento engraçado é como parte indústria da indústria da musica brasileira trabalha hoje a imagem da mulher: é xingamento que não acaba mais, e o danado é que muitas ainda vibram, pulam dançam, num tácito aceite das agressões.
No inconsciente das novas gerações, diante dessas excrescências, que alguns insistem chamar de musica, vão sendo construídos conceitos nocivos sobre a mulher com consequências futuras inimagináveis. Um verdadeiro dano moral social e tudo isso assistido passivamente.
Ainda bem que as agressões não são absolutas e ainda existem compositores que tratam muito bem a mulher.
Da minha parte ainda prefiro versos como a de duas imortais composições do saudoso Pixinguinha, Rosas e Carinhoso.
Em carinhoso ele ataca
Vem, vem, vem, vem
Vem sentir o calor dos lábios meus a procura dos teus
Vem matar essa paixão que me devora o coração
E só assim então serei feliz
Bem feliz
Já em Rosas o compositor aparece com esse poema:
Tu és divina e graciosa
Estátua majestosa do amor
Por Deus esculturada
E formada com ardor
Da alma da mais linda flor
De mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor
Se Deus me fora tão clemente
Aqui nesse ambiente de luz
Formada numa tela deslumbrante e bela
Teu coração junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado sobre a rósea cruz
Do arfante peito teu
Ao ouvir essas duas canções e viajar na letra do poeta a gente até sente saudades de um tempo que não viveu
Elson Mesquita de Araújo, jornalista.
Publicado em Cidade na Edição Nº 14913
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