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A comunicação da morte de Seu Espanhol foi feita às 9h54 pelo engenheiro Luiz Carlos Salani, marido da professora Graciete Salani. Segundo ele, Seu Jaime teve "morte serena". Luiz Salani relembra que sábado, dia 30 de maio, véspera dos 98 anos do sogro, a família toda estava na fazenda onde Seu Jaime optou por morar há muitos anos. Naquele sábado, à tarde, Jaime Ferreiro conversava com Luiz Salani, a quem pediu que o levasse de carro até a Espanha, para revisitar a terra natal, Villalba, na província de Lugo, região da Galícia. Incontinenti, Luiz Salani prontificou-se: "Pode preparar a mala, Seu Jaime! Sabe o caminho de carro até a Espanha?"

No dia seguinte, domingo, 31, aniversário do pioneiro empreendedor agrícola imperatrizense, os 98 anos foram celebrados com bolo, cantos e o aconchego de filhos e demais familiares.
Embora perto dos cem anos, o rijo homenzarrão Jaime Fernandez Ferreiro não dava mostras de que seu tempo nesta vida estava em suas últimas 72 horas. Apenas uns esquecimentos ("brancos") aqui, outros ali, uma e outra dificuldade ao andar -- entretanto, nada aparentemente grave ou fatal se denunciava naquele desbravador rural em seu cotidiano de uma grande e bonita fazenda próxima a Imperatriz.
Discreto, contido, quando há alguns anos fui me encontrar com ele, sua esposa, Dª Rocilda, entre outras pessoas, sorridentemente me avisaram que ele dificilmente se "abriria" em conversa comigo, para falar dele, de sua história, da Espanha até Imperatriz. Para encurtar: Seu Jaime e eu conversamos, rimos, almoçamos, voltamos a conversar, foi quase um dia inteiro -- só não o sendo ante os cuidados da pressurosa Dª Rocilda, que, sabiamente, ponderou que o marido, muito acima dos 90 anos, precisava repousar um pouco. Depois estive em um dos aniversários subsequentes à minha conversa com ele.
Escrevi um pouco do muito que Seu Jaime tinha para dizer. Foram publicados e distribuídos folhetos com o texto além de fotos que colhi e imagens da terra natal dele. O engenheiro Luiz Carlos Salani disse-me: "Você fez assim uma homenagem muito boa pra ele, e nós agradecemos, tá certo? Essa homenagem que você fez a ele, que você escreveu, foi bastante interessante, uma pequena biografia dele que retrata muito bem a passagem dele aqui por Imperatriz. Ele realmente fez isso que você falou mesmo".
Causa espécie esse acendrado e acentuado desejo de voltar a ver a terra natal, como se um "aviso" antes da morte. Nesta quarta-feira, antes da mensagem em áudio do Luiz Salani, eu estava lendo, na versão de Josué Montello, sobre o desejo de voltar e a viagem de volta, inconclusa, do poeta caxiense Gonçalves Dias, que estava em Portugal, para o Maranhão, onde, adoentado, queria passar seus últimos dias. Poucos minutos depois recebo o depoimento do Luiz Salani, falando-me de um mesmo desejo, em sentido contrário, ou seja, do Brasil, neste caso, de Imperatriz para a Europa, neste caso, a Espanha, aliás, ali, colada e abraçada a Portugal, este cinco vezes menor em área (a Espanha tem 505 mil quilômetros quadrados, um pouco menos do que a Bahia, que tem 564 mil km2; Portugal tem 92 mil km2, menor que Santa Catarina, que tem 95 mil km2).
Mas o destino, com suas enigmáticas decisões, não deixou Seu Jaime voltar à Espanha. Afinal, aqui em Imperatriz foi onde ele viveu a maior e, dir-se-ia, mais útil e inovadora, parte de sua vida.
Foi aqui em Imperatriz onde ele tanto, como agropecuarista, trabalhou a terra. Limpou-a. Revolveu-a. Semeou-a.
Portanto, não é de estranhar que a terra que ele tanto trabalhou requeira o direito de tê-lo em eterno descanso.
Da terra que Seu Jaime aguou com suor e sangue agora brotam lágrimas...

Descanse em paz,
Seu Jaime.

EDMILSON SANCHES