Hemerson Pinto
A remoção de famílias que habitam uma área considerada de risco por causa de uma erosão no bairro Caema deveria ter sido iniciada na manhã dessa quarta-feira, mas o protesto realizado pelos moradores impediu a ação da Defesa Civil e de homens do 50º Batalhão de Infantaria de Selva (50º BIS), convocados para ajudar no transporte de móveis e eletrodomésticos para um condomínio no bairro Santa Rita. O local foi alugado pelo Município e seria moradia provisória até os moradores receberem as residências do programa Minha Casa, Minha Vida, no Jardim Sumaré.
Antes das 6h, as ruas Nova e Vale do Amanhecer foram interditadas com sofás, carrochas, pedaços de embarcações, armários e outros obstáculos. Tudo para impedir a passagem dos três caminhões do Exército e um da Secretaria de Planejamento Urbano e Meio Ambiente. Os moradores ficaram no meio da rua erguendo cartazes, afirmando que não deixariam suas residências.
“A gente sabe dos riscos, mas o local para onde estão nos mandando é muito pequeno e não cabe todas as famílias, é apertado. Queremos sair, mas para um local que nos acomode, como em nossas casas”, afirmou o carroceiro Francisco Gomes.
O comerciante João Viana mora há 20 anos na Rua Vale do Amanhecer. Ele está entre as 16 famílias daquela quadra que, de acordo com o Ministério Público e com laudos da Defesa Civil, precisam deixar o local.
“Eu não concordo em ir para aquele condomínio, é um local que não tem comodidade e, além do mais, fica perto de outro riacho, vai ficar a mesma coisa. Se aqui nós temos o Riacho Bacuri, lá o Capivara passa nos fundos. Dizem que serão seis meses até saírem as casas do Minha Casa, Minha Vida, e ainda assim, teremos que pagar as taxas do programa do Governo Federal. Minha casa é própria, vou sair daqui para ficar pagando por mês?”, questionou.
O Ministério Público deu dois prazos para o Município fazer a remoção das famílias que moram próximo à erosão. Na manhã de ontem, deveria ser iniciada a retirada dos moradores, o que tinha previsão de encerrar na próxima sexta-feira. Como as famílias se recusaram, a Defesa Civil informou que vai manter toda a logística à disposição dos moradores até o prazo para o fim das mudanças, 12 de dezembro.
“Estamos fazendo o que é possível. Ficaremos à disposição até sexta-feira, às 18h. Passando daí, não temos mais nenhum tipo de responsabilidade. Vamos fazer um relatório ao Ministério Público especificando todas as providências que puderam ser tomadas até agora”, disse o superintendente da Defesa Civil, Francisco das Chagas.
Desde 2010 a erosão às margens do Riacho Bacuri, no bairro Caema, é considerada um perigo para os moradores. Atualmente, segundo a Defesa Civil, existem residências que estão a menos de 1 metro de distância do precipício, e a cratera aumenta a cada dia. A aproximação do período chuvoso aumenta o perigo. Um dos postes da rede elétrica precisou ser mudado de lugar duas vezes para não ser ‘engolido’ pelo buraco. Uma casa já foi demolida pelo proprietário.
Das 22 famílias, sete aderiram ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC); outras seis aceitaram, após a notícia de que teriam de deixar o local, a inclusão no programa Minha Casa, Minha Vida. Nove famílias ainda resistem e não pretendem deixar as casas.
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