Tambores fincados no chão aguardam água que não vem
Louças sujas em pias das residências
Moradores da Rua Aguanembi vão pagar carro pipa

Hemerson Pinto

A atitude que parece desesperadora tem explicação: “É falta de água mesmo!”, diz um dos moradores da Rua Aguanambi, na divisa entre o Parque Alvorada e o bairro Vilinha, em Imperatriz. Sem água há quase uma semana, a solução encontrada para garantir o líquido indispensável à sobrevivência é contratar um caminhão pipa para fazer a água chegar ao bairro.
O blogueiro Jesnem Morais, do blog Asmoimp, convidou O PROGRESSO para conversar com moradores da Rua Aguanambi. Durante a visita, nossa reportagem encontrou residências com pias cheias de louças sujas, roupas para lavar e improvisos na tentativa de garantir o único pingo d’água do dia que talvez caia da torneira.
Jesnem mora há dez anos no mesmo endereço e afirma que desde quando chegou ao bairro o sistema de abastecimento de água nunca funcionou por completo. “A água chegava nas torneiras apenas à noite, a gente enchia a caixa de água, mas nunca subia para encher por completo”, lembra. Há três dias, segundo Jesnem, a água deixou de chegar às torneiras da residência onde mora.
Para suprir as necessidades, a família do blogueiro pega água de um vizinho que mora sozinho e consome pouco conteúdo do reservatório. A ideia de contratar um caminhão para atuar no transporte de água partiu de um vizinho de Jesnem. “Seu Afonso está procurando o contato de um carro pipa e nós estamos de acordo a pagar para trazer água pras nossas casas”, afirma.
Outra alternativa encontrada pela família de Jesnem é perfurar um poço no quintal da residência. “A gente não tem dinheiro não, mas temos a necessidade de água”. Em outra ocasião, ele afirma que deixou de pagar o boleto da companhia responsável pelo fornecimento. Em poucos dias teve a água cortada. Pagou a conta e, mesmo assim, o direito de usar a água não foi atendido.
Aproveitando a presença da nossa reportagem, o blogueiro fez apelo aos representantes de Imperatriz na Assembleia Legislativa do Maranhão. “Os deputados da região, principalmente os eleitos pela nossa cidade, devem se movimentar pela nossa sociedade. A falta de água existe em vários bairros da cidade. A Caema recolhe o dinheiro da cidade e não faz serviço nenhum em Imperatriz”, desabafa.
A dona de casa Doralice Borges nos apresentou uma pia com louças sujas e um balde onde havia roupas a serem levadas. “A roupa ficou ensaboada porque não tinha água pra terminar de lavar”, comenta. No quintal a família introduziu dois tambores grandes no chão, ficando mais baixo que o cano que deveria trazer água da rua. “Quando cai um pouquinho a gente apara, mas a maior parte do tempo fica seco mesmo”.
Michel Gomes também vive o drama há quatro dias. “A gente não vê uma gota de água. Estamos vivendo como se não fôssemos nem seres humanos, pagando impostos e não temos o retorno”.
Na semana passada, o vereador Rildo Amaral levou à Câmara de Vereadores reclamações que afirma receber diariamente sobre a falta de água em diversos bairros de Imperatriz. Segundo o legislador, a Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (Caema) tem contrato com o município de Imperatriz desde 1974. O documento é válido por 50 anos, ou seja, se estende até 2024.
“Estou cobrando da Caema o que foi arrecadado e o que foi investido em Imperatriz nos últimos dez anos. Em 2009 o ex-diretor disse aqui na Câmara que menos de 2% do que era arrecadado em Imperatriz voltava para a cidade”, conta Rildo Amaral. O vereador explicou que a Caema tem até 30 dias para responder o questionamento feito por ele; caso contrário, afirma que vai acionar o Ministério Público.
Nossa reportagem tentou contato com a direção da empresa, mas não foi atendida.