Geovana Carvalho

Em fevereiro de 1978 chegava em Imperatriz Irmã Rina. Italiana de Milão, a religiosa estava destinada a morar no Congo (África), porém, devido a uma guerra iniciada naquele ano, Irmã Rina foi mandada ao Brasil.
A freira concluiu o curso de Enfermagem na capital romana em 1964, logo em seguida foi para a Bélgica. “Fiz especialização em Obstetrícia e em 1965 fiz votos perpétuos. Em 04 de junho de 1967 saí da Itália, cheguei ao porto de Santos dez dias depois, a viagem foi feita de navio. Foi um momento sofrido, deixei a família”, relembra a irmã.
Na cidade de Araras-SP, a missionária fez curso técnico em Enfermagem para poder trabalhar no país – o diploma italiano não tinha validade no Brasil. Após dez anos prestando serviços às comunidades carentes daquela cidade, Irmã Rina foi encaminhada a Imperatriz: “Fiquei muito contente, alegre por poder trabalhar num lugar que as pessoas precisavam mais. Aqui era mais carente que Araras. Foi um choque. Era muito atrasado. A Vila Nova tava começando. A estrada [para o bairro] vivia interrompida pela água... só tinha três ruas: a rua A, que hoje é a Bandeirantes; a B, que é a Dom Marcelino, e a C, que é a Itaipu. Só tinha construída a nossa casa, as outras (poucas) eram todas de barro. Em 80, fizeram o Centro Social, que era no fim da Vila Nova. A nossa igreja foi construída aos poucos com ajuda da comunidade que trabalhava nos festejos e realizava mutirões. Vi muita prostituição, muitas doenças venéreas... crianças com 14/15 anos mães! Havia muitos partos prematuros”.
Irmã Rina - da ordem canossiana, nome que homenageia a fundadora da ordem: Santa Madalena de Canossa - trabalhou no Senac, onde formou várias turmas de técnicos em Enfermagem. A canossiana conta que a situação da saúde na região da Vila Nova era crítica, porém a mão de obra formada pelo Senac amenizou o quadro. Durante muitos anos, ela morou ao lado da Igreja Menino Jesus. No local, crianças recebiam cuidados básicos de saúde, mães faziam pré-natal e assim os índices de mortalidade diminuíam. Também em povoados, Irmã Rina levou seus conhecimentos e qualificou parteiras. Ela conta que, nos lugares afastados, as grávidas não tinham acesso a assistência médica. Muitas mulheres e bebês morriam por infecção, tétano e problemas que poderiam ser evitados com noções simples de higiene.
Na Vila Nova, a freira realizou seiscentos partos. “Hoje tem muitas pessoas que eu ‘peguei’. As mães sempre dizem aos filhos que eu fiz o parto. Tem muitas que me tomam a bênção, outros me chamam de mãe, consideram mãe de pegação... Todos os partos foram registrados em um livro que repassei, de boa fé, a quem tomou a frente do ‘postinho’, quando mudamos para o Santa Lúcia. Nunca mais vi, o livro sumiu, que pena...”.
Hoje o posto em que consultava, ao lado da paróquia, está desativado. Em 1992, todas as irmãs canossianas que moravam na Vila Nova mudaram para o Parque Santa Lúcia. Segundo a italiana, em 1991 a região que compreende o Parque Santa Lúcia sofreu um processo de invasão. As canossianas compraram um terreno no novo “bairro”. Elas decidiram mudar de lar por causa das precárias condições sociais em que viviam os moradores daquela área. “Aqui era só pasto. As casas eram esparsas. Tinha muita criança carente, desnutrida... em 1993 construímos a Capela Santa Josefina Backita. As crianças desnutridas recuperamos através da multimistura.”
A chamada multimistura – mistura de cereais, sementes e folhas – difundida pela Patoral da Criança - conta ela - era aliada no combate à desnutrição e à mortalidade infantil. Além disso, as mães recebiam noções de higiene, importância da vacinação e da amamentação e prevenção de acidentes domésticos. “Não adiantava recuperar o desnutrido se em casa a mãe não continuasse o trabalho e não tivesse cuidados básicos”.
O “posto das canossianas”, hoje, está desativado. O prédio foi alugado pela Prefeitura e deverá voltar a funcionar ainda este mês. “Todo esse trabalho que temos feito gostaria que continuasse. É muito melhor prevenir do que curar”, diz Irmã Rina.