Raimundo Primeiro
Dia desses, andava pela rua Luís Domingues, quando me dirigia para o Centro, ao afirmar que o amor é o sentimento dos seres imperfeitos, posto que a função do amor é levar o ser humano a perfeição. Havia trazido à baila, recônditas lembranças dos meus remotos tempos de infância, que época áurea (!), durante a qual minhas atenções estavam voltadas para a beleza de uma menina que morava na outra rua, cujo quintal de sua casa, porém, fazia ligação com o da nossa residência.
Não que eu era imperfeito, pois ainda vivia os primeiros anos de uma infância marcada por brincadeiras que já não são mais vistas, tampouco praticadas nos dias de hoje. Recordei-me dos momentos em que nos reuníamos, colocando cadeiras nas calçadas e, desta forma, uma saudável brincadeira, chamada “Caí no Poço”, era iniciada. A gente ficava a mil quando surgia o momento do beijo em uma das meninas que participavam. Doces e inesquecíveis momentos, que reminiscências prazerosas!
Ali, na inocência dos nossos 9/10 anos, até surgiam às primeiras paixões, os primeiros namoros, momento em que a troca de olhares entre meninos e meninas era recíproca, a ponto de a gente ficar esperando os momentos dos encontros, das brincadeiras, quando estávamos livres das atividades da escola, sempre durante as noites em que faltava energia elétrica – e isso acontecia com frequência naqueles tempos de moleque, deixando ruas de grande movimentação às escuras, caso da avenida Getúlio Vargas, por exemplo, onde moravam meus avós maternos, a mineira dona Ana, e o baiano, o seu Napoleão. Os dois já partiram. Sinto saudades deles.
Muitas meninas moravam nas ruas próximas a residência de meus pais e de meus avós maternos. Entretanto, algumas se destacavam, despertavam a atenção ante a beleza das mesmas. Verdadeiras joias, cruas ainda, pois eram ainda muito jovens. Entretanto, uma, em especial, mexia comigo. Era linda, bonita, sem defeitos, pelo menos naquela época. Sua pela parecia de veludo, ter sido especialmente tecida, tal a maciez e a sensibilidade percebidas a distância. Quisera poder declinar o nome dela, mas tudo bem. O que vale é poder narrar, trazer à tona, sentimentos há anos guardados no íntimo da minha perceptível timidez, pelos durante as primeiras fases da minha vida. Só que continuo sendo aquele rapaz meio que sem jeito em relação ao ato de abordar mulheres. Timidez mesmo!
Tive, graças a Deus, uma infância feliz. Sem dúvida, os momentos áureos vividos durante os tempos em que morávamos na rua Sergipe (Centro) e corria solto, sempre que podia, ficarão marcados em minha mente durante longos anos; certamente, até o fim da vida. Ah, lembrei de um amigo com o qual já ensaiava o ofício que exerceria futuramente, sendo uma espécie de prenúncio de meu ingresso prematuro no jornalismo, trabalhando, anos depois, na imprensa de Imperatriz. Com ele, escrevia algumas peças teatrais, alguns trabalhos literários e, depois, corríamos atrás ao encontro da turma para a montagem de pequenos espetáculos, ou seja, o objetivo era tornar público o que havia no papel.
Próspera e abençoada semana!
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