São Luís - "O importante é fazer melhorias constantes nos processos! Pequenas melhorias com o passar do tempo promoverão uma grande mudança", destacou o consultor da CNI e engenheiro de produção, Marcos Yoshikazu Kawagoe, que comandou na noite da última quinta-feira (20) o Diálogo Industrial na sede da FIEMA, com o tema "Sucesso na crise: Aumento da Produtividade. Fazendo mais, com menos".
O objetivo do encontro foi promover o debate entre empresários maranhenses, de todos os portes e setores, sobre os principais temas que impactam na competitividade, despertando-os para a necessidade de se unirem na busca por novas formas de atuar para defender um ambiente de negócios mais favorável e o compartilhamento de experiências.
Um dos grandes problemas hoje nas indústrias é o desperdício, segundo o consultor Marcos que durante o diálogo apresentou alguns cases que demonstraram a mudança com processos simples que consomem recursos e não adiciona valor, comprometendo a competitividade.
Taiichi Ohno, lendário líder da Toyota, classificou o desperdício em 7 categorias: Defeito (Inspeção e Retrabalho), Espera, Movimentações desnecessárias, Excesso de produção, Transporte, Processamento desnecessário e Estoque.
"É importante que o empresário perceba como se relacionar com as pessoas, com os processos e até com ele mesmo, dentro da produção, para aplicar ações que possam melhorar a sua empresa. O dia a dia dos empresários é bem corrido. As empresas são enxutas, muitas delas familiares, começaram do nada e foram crescendo e tendo sucesso e se acostumam com a fórmula que eles aprenderam a fazer. Só que no mundo de hoje, globalizado, se você não se atualiza, acaba ficando para trás. Hoje o empresário não concorre só com o brasileiro, mas com os chineses, americanos e o mundo inteiro. Às vezes, os empresários não param para pensar que realmente tem que fazer algo rápido para não perder esse tempo!", destacou o consultor.
"Essa ação fez parte das atividades do Programa de Desenvolvimento Associativo (PDA), desenvolvido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e executado pela Federação das Indústrias do Estado do Maranhão (FIEMA). Nesse novo formato, o diálogo propõe essa troca de experiências com empresários!", destacou a especialista em política e indústria da Gerência Executiva do Desenvolvimento Associativo da CNI, Maitê Sarmet.
ENTREVISTA
Agora que muitas empresas estão lutando para não fechar as portas, onde se encaixa a discussão da produtividade?
MARCOS KAWAGOE - O momento é ideal. Muita gente olha e diz que a crise está em todo lugar. Na verdade, quem já passou por períodos assim sabe que esse é o momento que precisa ser mais produtivo mesmo. Antes da crise, as empresas diziam que não poderiam parar, que tinham de produzir. Se não, elas nunca terão a chance de parar e otimizar seus processos. O que vemos com a experiência é que as empresas que fazem essa reflexão durante a crise chegam à recuperação mais preparadas.
Conduzi o programa de excelência empresarial da Embraer. Em 2007, 2008, a situação era ruim para a indústria aeroespacial. Pensamos que tínhamos de melhorar naquele momento. Mexemos em todos os processos e quando voltamos, voltamos melhor e mais enxutos. A própria liderança, a alta direção da Embraer, reconhece que o programa de melhoria, que ficou conhecido com P3E, teve suma importância para atravessar a crise nos últimos anos. Tivemos de produzir aviões que nunca havíamos feito, não podíamos contratar. Resolvemos mexer nas linhas de produção, tiramos pessoas das linhas e as deslocamos para as linhas novas, de aviões militares e executivos. Rearranjamos 3 mil pessoas dentro da empresa. Foi muito importante para a Embraer, na época.
Dá para melhorar fazendo coisas rebuscadas? Dá, claro. Com máquinas mais novas, provavelmente, a produção será mais eficiente. Mas, primeiro, as empresas precisam aprender a melhorar a produtividade com coisas simples, sem grandes investimentos. O que vemos nas fábricas é que ainda há muitas coisas básicas a fazer. E cada vez que fica mais sofisticado, há outras oportunidades de melhoria. Se a empresa internaliza o espírito da mudança, acaba se transformando. Sobretudo agora, que ninguém quer ter mais gastos, as pessoas precisam explorar a inteligência, a criatividade que têm.
Para empresas, ganhar produtividade tem benefícios óbvios. Mas e para o trabalhador?
MARCOS KAWAGOE - O que falo sempre é que o trabalho tem que ser bom, lógico, para a empresa, mas principalmente para quem faz, quem executa os processos. A pessoa vai trabalhar mais facilmente, perderá menos tempo, se cansará menos e focará mais no trabalho sem ter de perder tempo com outras coisas. Mexemos muito com ergonomia. Procuramos eliminar o carregamento de peso, movimentos bruscos, movimentação desnecessária.
O que as pequenas e médias empresas podem aprender com as grandes empresas, como Embraer e Toyota, que são conhecidas pelas estruturas de produção?
MARCOS KAWAGOE - Já trabalhei com empresas fornecedoras da Embraer, que são menores, de 50 a 200 funcionários. E sempre digo a elas que a filosofia do lean, da produção enxuta, não tem a ver com o tamanho do negócio. Por menor que ela seja, a empresa tem processo e processo tem desperdício. É totalmente aplicável para qualquer porte de empresa. Importante é a liderança. Para fazer qualquer tipo de melhoria, a liderança tem que estar bem engajada. Tanto na alta administração, nos donos da empresa, quanto na liderança intermediária, com supervisores e gerentes. E, por incrível que pareça, é o líder intermediário que mais tem problemas com a mudança.
O trabalho não é só técnico, mas uma questão estrutural, que mexe com as pessoas. Mexer com as lideranças intermediárias resulta em grandes mudanças. É natural a resistência. A gente precisa romper isso porque estamos propondo uma nova forma de fazer. Questionamos muitas coisas porque vemos desperdícios. Por isso, projetos como o Indústria+Produtiva são importantes, porque mostramos na prática e em um piloto.
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