Médico Anísio e a enfermeira Aucilene
Médico usou boneca para explicar como salvou Annita

Hemerson Pinto

Era madrugada de quarta-feira, 30 de julho de 2014. Até os profissionais de imprensa que cobrem a área policial na noite imperatrizense já haviam se recolhido. Na central de operações do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, SAMU, os plantonistas encaravam mais uma rotina, até a normalidade ser quebrada por um telefonema. A ligação estava prestes a escrever mais um episódio para os capítulos da história de Imperatriz.
Na base da Avenida Bernardo Sayão, bairro Três Poderes, os atendentes recebem o pedido de socorro para uma vítima de disparo de arma de fogo. A vítima? Uma mulher identificada como Sousa Costa, 32 anos, que acabara de ser atingida por um tiro na cabeça, no bairro Bacuri. Enquanto se preparava para sair, a equipe foi informada que a mulher já estava morta. Quem ligou informando teve o cuidado em comunicar que a vítima estava grávida. Os profissionais do SAMU resolveram seguir para o local da ocorrência.
O acesso era difícil. O condutor da ambulância acertou o endereço após ser interceptado por uma viatura da Polícia Militar, que o levou até a cena do crime. No ambiente, muitas pessoas ao redor do corpo. Dilvânia estava morta havia cerca de 20 minutos.
Na barriga, uma criança. Os sinais de vida do bebê eram poucos. O médico, um imperatrizense de 27 anos, formado em dezembro do ano passado pela Universidade Federal do Maranhão - UFMA, apalpou a barriga da gestante e notou que uma pequena esperança ainda existia.
Anísio Cavalcante estava acompanhado dos enfermeiros Aucilene Almeida e Danilo Bilio, além do motorista da equipe, identificado como Breno. A decisão foi rápida e partiu do grupo. Em poucos segundos estavam com o corpo da mulher dentro da ambulância, onde realizaram a cirurgia cesariana para a retirada da criança.
“Utilizamos as manobras necessárias dentro da ambulância. Agimos, mas não agimos em excesso. Fizemos a cesariana dentro da ambulância, e era uma menina. Estava com parada cardiorrespiratória e sinais de sofrimento fetal. Temos uma equipe bem preparada tecnicamente e usamos as drogas necessárias para reanimação cardiopulmonar. Depois de 25 a 30 minutos de reanimação, ela conseguiu voltar a respirar e ouvimos o coração bater. Saímos em disparada para o Hospital Regional, onde a criança foi recebida com toda a estrutura necessária”, explica o médico Anísio Cavalcante.
Na calçada do Hospital Regional Materno Infantil, uma multidão se reuniu após a chegada da recém-nascida. Eram as mesmas pessoas que estavam no local onde a mãe da menina foi assassinada. A torcida era pela vida da pequena Annita Vitória, nome que recebeu na manhã seguinte por uma tia que a visitou na maternidade.
Na manhã da quarta-feira, quando Anísio recebeu nossa reportagem, ainda era visível a emoção. O médico dividiu o mérito com toda a equipe, que segundo ele, a partir do momento em que decidiram interferir pela vida da criança, não desistiram.
Até o fechamento desta edição de O PROGRESSO, Annita Vitória permanecia internada em uma UTI do Hospital Regional. Segundo a direção do hospital, o estado de saúde da menina é grave. Annita respira com ajuda de aparelhos.