Luiz Maia da Silva: "Revoltas sociais durante o período regencial"

Raimundo Primeiro

Feriado no Maranhão. Nesta sexta-feira, 194 anos atrás, o Estado aderia à Independência do Brasil, ocorrida em 7 de setembro de 1822, quando, às margens do riacho Ipiranga, Dom Pedro I, levantou a espada e gritou: "Independência ou Morte!". 
Foi em 28 de julho de 1823, quase um ano depois, que os maranhenses aderiram a emancipação do Brasil. Houve resistência forte, tendo em vista que os colonizadores mantinham significativa relação com os portugueses. Na época, o Maranhão era uma das unidades mais prósperas da federação, no âmbito econômico.
NA SÉRIE ENTREVISTAS DA SEMANA, o professor Luiz Maia da Silva, graduado em História e Geografia pelo Centro de Estudos Superiores de Imperatriz (Cesi) da Universidade Estadual do Maranhão (Uema), hoje Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão (Uemasul), criada em novembro de 2016, fala um pouco sobre o processo que motivou o Maranhão a aderir a Independência do Brasil, lembrando que os interesses daqui [Brasil] não eram os mesmos que os de lá [Portugal].
Resistindo as determinações vindas do Rio de Janeiro, capital do Brasil, os maranhenses relutaram, por meses, até que os comerciantes de algodão decidiram assinar o termo de adesão a Independência no Maranhão.  
A seguir, íntegra da entrevista concedida pelo historiador Luiz Maia a O PROGRESSO.

O PROGRESSO - Por quais motivos, professor, o nosso Estado resistiu em emancipar-se de Portugal?

LUIS MAIA- O atraso do Estado do Maranhão Colonial em aderir à Independência do Brasil, deve-se aos interesses das elites lusitanas (políticas, militares e econômicas) aqui residentes. Dessa forma, os brasileiros, defensores da nossa independência política, sofreram forte represália.

O PROGRESSO - Sobre a República, o que tem a falar?

LUIZ MAIA - Importante você perguntar sobre a implantação da República no Brasil. A mesma ocorreu em decorrência das transformações verificadas no seio do capitalismo, internacional e nacional, que não comportava mais o regime monárquico, centralizado no Rio de Janeiro.

O PROGRESSO - Quanto aos movimentos de Independência na América Latina?

LUIZ MAIA - Podemos afirmar que, apesar de os mesmos serem antiga aspiração de nossas colônias - sempre duramente reprimidos pelas classes dirigentes coloniais e metropolitanas - as independências, de fato, ocorreram quando fatores de ordem política/econômica, intelectual e ideológica, de caráter externo, aqui chegaram.
É o que nos faz crer, pelo fato de a maioria de nossas colônias latino-americanas terem se emancipadas a partir do início do Século XIX, após séculos de domínio político europeu. Os interesses dos autênticos brasileiros seguramente divergiam dos interesses dos metropolitanos.

O PROGRESSO - Em relação a Independência do Brasil, existem peculiaridades?

LUIZ MAIA - Podemos perceber particularidades entre as américas espanhola e portuguesa, pois houve maior envolvimento das diversas camadas sociais no processo de luta em prol de suas emancipações.
Com a adesão a Independência, o Estado do Maranhão deixa de ser dependente da metrópole portuguesa e passa a ser dependente do Império do Brasil, na condição de Província.
O Império, praticamente, obrigou o Estado do Maranhão a aderir a Independência.

O PROGRESSO - Ocorrem mudanças?

LUIZ MAIA - Podemos afirmar que, para as camadas sociais populares, a realidade socioeconômica não mudou, inclusive em nível de Brasil, após a Independência. Prova disso, são as revoltas sociais ocorridas no período regencial.