Comissão se organiza para ouvir Manoel da Conceição
Manoel da Conceição antes do depoimento

Hemerson Pinto

Em uma das salas da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) em Imperatriz, o líder camponês Manoel da Conceição prestou depoimento na manhã de ontem à Comissão Nacional da Verdade (CNV), que chegou a Imperatriz na última sexta-feira e até este domingo deve colher depoimentos de trabalhadores rurais sobre a violação contra camponeses e indígenas no período da Ditadura Militar.
“Estamos aqui com o objetivo de ouvir Manoel da Conceição como vítima da Ditadura Militar, uma pessoa que sofreu todo o tipo de violação dos direitos, foi preso ilegalmente, exilado, torturado, lhe arrancaram uma perna. Essa história está sendo contada pela primeira vez, oficialmente, para o Estado brasileiro. Um depoimento que tem significado para o Brasil e para o nosso estado também”, explica o presidente da Comissão Parlamentar da Verdade no Maranhão, deputado estadual Bira do Pindaré.
A psicanalista Maria Rita Kehl é um dos sete membros da comissão encarregada de investigar a violação dos direitos humanos a camponeses e povos indígenas. Segundo ela, o mais difícil é encontrar documentação que possa levar a esses momentos sofridos por indígenas e camponeses. “Diferente do que aconteceu com militantes políticos, que existem registros, por exemplo, da entrada de uma dessas pessoas em delegacia. Nessa época o campo e os povos indígenas eram mais isolados”, declara, afirmando que a expectativa está nos depoimentos que a comissão colhe para a formação de um relatório.
Maria Rita Kehl contou uma experiência vivida recentemente pela Comissão Nacional da Verdade em Dourados, Mato Grosso do Sul, diante do depoimento de um indígena. “Ele disse que estão sendo expulsos o tempo todo pelos plantadores de soja e a polícia sempre está do lado dos fazendeiros. Eles continuam dificilmente encontrando a justiça, continuam vulneráveis. É grande a quantidade de assassinatos contra membros indígenas, e a falta de apuração é padrão”. As informações do indígena faz Maria Rita refletir: “É como se a ditadura não tivesse acabado”.
Antes de começar a ser ouvido pela Comissão Nacional da Verdade, Manoel da Conceição comentou com O PROGRESSO: “O golpe militar torturou, matou, prendeu. Nós vencemos. O trabalhador venceu”.