Escritora maranhense Lília Diniz

Tomou posse nessa terça-feira, dia 19 de agosto, na Academia de Letras do Brasil Seccional DF, a escritora maranhense Lília Diniz, que é também membro da Academia Imperatrizense de Letras. Na oportunidade tomaram posse, ainda, os escritores Luci Afonso e Isolda Marinho, Pedro César Batista e Roberto Klotz.
A Academia de Letras do Brasil Seccional DF é presidida pela escritora Vânia Moreira Diniz e tem vários projetos desenvolvidos no Distrito Federal, dentre eles o Coral Líteromusical, coordenado por Nestor Kistner.
Lília Diniz vem se destacando no cenário literário nacional e tem como principal intervenção artística a valorização da cultura maranhense, expressada no que escreve, compõe e interpreta como atriz. Durante a posse, que não poderia ter sido diferente vindo da escritora que foi “forjada nas farinhadas, nos engenhos de rapadura e nas debulhas de feijão”, o pedido da palavra e a quebra do protocolo com uma homenagem emocionante aos pais, seu José Ferreira Diniz e dona Alice da Silva Diniz, “e por extensão a todos os analfabetos e analfabetas do país que carregam grande sabedoria e que sabem o valor do conhecimento na sociedade letrada”, disse emocionada a escritora durante a posse.
Lília Diniz tem o dom de recitar como se os versos brotassem das profundidades da alma, com leveza e muita verdade e a homenagem rendeu lágrimas na plateia quando a escritora declamou o clássico poema de Patativa do Assaré “Poeta da Roça, reafirmando seu atrelamento ancestral com os poetas populares. “Não tenho sabença/pois nunca estudei/Apenas eu sei o meu nome assinar”.
A escritora agora ocupa da cadeira de número 41 e tem como patrono, por ela escolhido, o cordelista Leandro Gomes de Barros. Autor de centenas de folhetos de cordel começou a publicar no final da década de 1880 e início dos anos 1890, foi um dos poucos poetas populares a ter nessa atividade sua principal fonte de renda durante toda a vida.
Muitos folhetos de cordéis do Patrono, que segundo Carlos Drummond de Andrade, “Não foi príncipe dos poetas do asfalto, mas foi, no julgamento do povo, rei da poesia do sertão e do Brasil em estado puro.” (Jornaldo Brasil, 9 set. de 1976), foram lidos por Lília ainda na infância vivida no povoado de Alto Alegre (povoado de Barra do Corda-MA). O cachorro dos mortos”, “Cancão de Fogo”, “Peleja de Manoel Riachão com o Diabo”, “O Testamento da Cigana Esmeralda”, “História da Donzela Theodora”, “História de Juvenal e o Dragão” e muitos outros romances do cordelista foram motivos de encantamento para a escritora que se diz alfabetizada nas letras e artisticamente pela literatura de cordel e trás em sua a marca viva dessa influência, com rimas e ritmos de coco, baião e alegria.

“Desfiando os meus versos
arremedo embolador
faço lamento de dor
e também de alegria
troco a noite pelo dia
o bucho da fome eu vou
com vontade pinicar
com minha língua amolada
faço verso em disparada
para no mundo soltar”

Lauro Soares
Escritor e Professor de Literatura