O horário de entrada é pontualmente às 7h30. Depois de guardarem suas bicicletas, as máquinas de costura começam a ser ligadas. O som ambiente logo toma conta do local. O cheiro do café já é característico do lugar. As ações se repetem de segunda a sexta, de maneira que já fazem parte da rotina das costureiras de uma fábrica de uniformes. Em seguida, sentadas, comentando como foi à noite anterior, começa então a "maratona de rádio", como é dito por elas.
De, aproximadamente, 7h45 até meio dia, o rádio permanece sintonizado. Atualmente trabalham no local três costureiras fixas e uma que vai de acordo com a necessidade da empresa. Hoje elas não têm o costume de ligar com tanta frequência o aparelho, mas ainda assim conversam entre si por conta do rádio e suas programações.
Gisele, 27 anos, ouve o rádio somente pelo Mano Santana, radialista local. "Como a gente fica aqui tão isolada, a gente fica querendo saber o que "tá" acontecendo lá fora. E eu gosto dele porque ele fala de tudo. Tanto da cidade, quanto do mundo. Ah, e das novelas também", afirma com entusiasmo e garante que prefere ouvir rádio a músicas gravadas no celular.
A dona da empresa, Maria Macedo, conta que hoje elas são mais discretas. "Antigamente ouviam bastante rádio, com várias programações. Era o dia inteiro antenadas na rádio. Hoje, elas ouvem mais no celular do que no aparelho convencional". Quando pergunto sobre o que acha da relação entre as suas funcionárias e o rádio, a proprietária explica que "muitas vezes elas fazem pausas no trabalho, para comentar sobre o que estavam ouvindo, principalmente na hora do Namoro no Rádio".
Quando um dos quadros de mais audiência do programa do Mano Santana é citado, Maria acaba recordando de algumas situações engraçadas que ocorreram em sua fábrica anos atrás. "Uma das minhas funcionárias costumava fazer ligações para a rádio com o intuito de marcar encontros. Era um hábito dela. Quando ela chegava para contar como foi, dizia que já estava pensando nos seus próximos encontros".
A empresária conta que de todas as costureiras que já passaram por lá, as mais velhas eram as que mais tinham prazer em ouvir o rádio. Hoje, ela nota que as jovens estão mais ligadas nas suas músicas gravadas, mas que sempre há exceções. Segundo Maria, "o rádio é uma forma de distração para as funcionárias". Assim, apesar de perceber que o aparelho, muitas vezes, atrapalha o desempenho delas, a empreendedora ressalta que nunca chegou ao ponto de chamar a atenção.
Carmem* foi uma das poucas evangélicas que passou pelo local. Logo na entrada, ela ia deixando sua bicicleta na porta e tirando da cestinha seu aparelho movido à pilha. "Colocava na rádio que passavam hinos e cantava junto, como se estivesse mesmo no púlpito da igreja", conta sua patroa. Mas nada disso atrapalhava a sua produção, pelo contrário, aparentemente, ela era uma das mais empenhadas, afirma.
O assunto que movimenta as manhãs no ambiente de trabalho é pautado pelas frequências da rádio local. De acordo com o que vai passando é que elas vão interagindo e fazendo comentários. O horário em que passam os resumos das novelas é o auge, principalmente quando se trata da atração do horário nobre. "A comunicação entre elas é cada vez maior por conta do rádio", afirma Maria.
Revisão Nayane Brito e Thays Assunção
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