* Roberto Wagner
Anos atrás, em um discurso histórico na ONU, quando já não sabia mais o que argumentar em defesa da criação do Estado da Palestina, Yasser Arafat desabafou, quase gritando: “Não queremos a Lua!”. Quis dizer com isso que o povo palestino não queria algo impossível. Semanas depois, em entrevista concedida à revista Veja, repetiu a frase, bastante lembrada até hoje.
Guardadas as devidas proporções e circunstâncias de um caso e outro, penso que o cidadão de Imperatriz, de modo geral, pelo que ficou evidenciado na votação de domingo passado, alimenta os mesmos desejos e expectativas de um cidadão palestino, na medida em que, ao que tudo faz crer, sonha, tão somente, com o dia em que terá, ao seu dispor, serviços públicos que, com singeleza mas com efetividade, isto é, sem ostentação midiática ou aparatos supérfluos, funcionem a contento, que, enfim, dêem conta do recado. Como Arafat e seus conterrâneos, não almeja a Lua. Uma lamparina, desde que preste, lhe basta.
Esse, em resumo, foi o verdadeiro recado dado pelo eleitor no presente pleito. Não por coincidência, o prefeito eleito foi exatamente aquele que, entre os quatro que disputaram o posto com chances reais de vitória, não prometeu a Lua a ninguém. Os três demais candidatos, numa luta desesperada para ver quem prometia mais, não perceberam, ou não tiveram tempo para perceber, que o eleitor queria ouvir outras coisas. Coisas que sabe, por intuição, serem possíveis, factíveis.
Como agora ficou bem claro, o eleitor queria ouvir dos candidatos, por exemplo, o compromisso de que, se eleitos, os colégios da rede pública não mais sofrerão atraso no calendário escolar e que o seu filho terá, todos os dias, uma merenda de boa qualidade; que no “Socorrão”, assim como nos postos de saúde, não faltarão, daqui para frente, nem médicos nem medicamentos, que se precisar ir a algum deles, será tratado com respeito e dignidade e que as infames filas para marcação de consultas e exames deixarão de existir; que haverá ônibus em número suficiente para que não mais se veja obrigado a ter de desembolsar para pagar duas corridas de mototáxi, se precisar vir da Vila Cafeteira ao Centro, e vice-versa, por exemplo, a quantia de vinte reais, um troco para os afortunados, mas uma importância astronômica para quem ganha, como a maioria, um mísero salário mínimo. Coisas assim.
Ficou a nítida impressão, pelo menos para esse humilde e despretensioso escriba que vos fala, de que o cidadão comum se cansou, finalmente, de promessas mirabolantes, de ouvir candidatos, com a maior naturalidade do mundo, prometerem como sem falta e faltarem como sem dúvida, para usar uma pérola da sabedoria popular. O candidato que se elegeu, volto a dizer, foi, sintomaticamente, o que menos prometeu. Logo, e isso o eleitor terminou percebendo, era o que menos estaria fadado a decepcioná-lo. Deu no que deu.
Se a sua gestão dará certo, se de fato será um bom prefeito, isso só o tempo dirá. De minha parte, e acho que de parte da esmagadora maioria da população, torço para que faça um governo exemplar, do primeiro ao último dia de sua administração. Pela leitura que fiz, a maioria dos eleitores que votaram nele pertence às camadas mais pobres e humildes. É certo que governará para todos, indistintamente, mas deverá dar especial atenção a esse povo mais sofrido, mais enganado, mais esquecido, que, no frigir dos ovos, só indiferença e desprezo tem recebido por parte dos nossos gestores, dos nossos políticos. Que Deus guarde e ilumine o prefeito eleito na árdua e desafiante tarefa que terá pela frente e que ele siga prometendo pouco, mas que faça muito. Até a próxima.
Advogado *
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