Quarenta e cinco por cento dos estabelecimentos especializados no município de Imperatriz (a 622km de São Luís) apresentam irregularidades na produção, no acondicionamento e no transporte de leite e seus derivados. O número foi constatado nos 100 estabelecimentos fiscalizados durante as inspeções feitas pela Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor de Imperatriz (PJDC), com as Vigilâncias Sanitárias estadual e municipal, com o apoio das polícias Militar e Civil.
As ações são resultado da parceria desenvolvida desde março deste ano pelo Ministério Público do Maranhão (MPMA) e pelo Sindicato das Indústrias de Leite e Derivados do Estado do Maranhão (Sindileite), que estima que 80% do leite e derivados produzidos no município são clandestinos (aqueles que vão diretamente do produtor ao consumidor, sem nenhum controle de qualidade, violando normas sanitárias).
Os números levaram o MPMA a instaurar, em julho deste ano, por meio da Portaria nº 12/2011, Inquérito Civil para investigar as denúncias e as constatações quanto à comercialização e ao consumo de laticínios clandestinos.
Da parceria entre o MPMA e o Sindileite e da investigação nasceu a ideia de uma campanha de combate ao comércio do leite e derivados clandestinos, que está sendo desenvolvida em duas fases.
O promotor de Justiça de Defesa do Consumidor de Imperatriz, Sandro Pofahl Bíscaro, explica que a primeira fase da campanha pedagógica consiste na veiculação de chamadas na televisão e na distribuição de panfletos. De acordo com ele, nesta fase, a intenção também é envolver, em março do ano que vem, alunos do curso de Engenharia de Alimentos da UFMA e utilizá-los como agentes multiplicadores nas escolas. “Esta fase será permanente porque o problema cultural (comercialização e consumo de laticínios clandestinos) é combatido com contracultura”, ressalta.
Em sua segunda fase, a campanha é focada em ações das Vigilâncias Sanitárias estadual e municipal, das polícias Militar e Civil e do MPMA, além de medidas administrativas (autuação e interdição de estabelecimentos).
Nesse caso, os proprietários dos estabelecimentos irregulares estão sujeitos a penas que vão de dois a cinco anos de detenção, ou pagamento de multa, conforme determina o artigo 7º, da Lei Federal nº 8.137/90. A legislação versa que é crime “vender, ter em depósito para vender ou expor à venda ou, de qualquer forma, entregar matéria-prima ou mercadoria, em condições impróprias ao consumo”.
Duas questões
“O combate a essas práticas envolve duas questões: a defesa do consumidor (saúde pública) e a livre concorrência, ambas princípios da ordem econômica”, afirma o promotor de Justiça, que, em 2003, instaurou Procedimento Administrativo para investigar a comercialização e ao consumo de laticínios clandestinos.
Para ele, uma forma importante de combate à concorrência desleal é a intervenção do Estado no mercado, sem a qual empresários eventualmente podem ser empurrados para a clandestinidade.
Em 2009, laudo emitido pelo professor José Fábio França Orlanda, da Universidade Estadual do Maranhão (Uema), verificou a existência de micro-organismos patogênicos nas amostras de leite clandestino colhidas em Imperatriz. “O leite clandestino, dadas suas condições absolutamente precárias de produção, acondicionamento e transporte, pode causar de uma simples diarreia até a morte. Já foram constatados até casos de salmonela em tais produtos, o que pode levar a pessoa à morte”, alerta o promotor. (Adriano Rodrigues - CCOM-MPMA)
Publicado em Cidade na Edição Nº 14285
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