Hemerson Pinto
A prática de tortura seguida de morte. Há muitos anos, foi uma das estratégias utilizadas para eliminar os opositores dos guerrilheiros durante a época do regime militar. Também usada para calar a boca de que era contra a ditadura. No geral, justiçamento ocupa o lugar da Justiça, pune com a morte, às vezes culpados, às vezes inocentes.
Nos últimos anos, o Brasil tem registrado casos e mais casos de justiçamento, presente nas cenas onde pessoas são linchadas até a morte. Os crimes têm acontecido desde as menores cidades às metrópoles, em momentos onde a população, acreditando fazer justiça, se transforma em assassina, por não acreditar que a Justiça ainda possa ser feita. É a ‘justiça’ com as próprias mãos.
Mãos que ficam sujas de sangue. Sangue de ladrão, estuprador, ou sangue de trabalhador confundido com alguém que agiu à margem da lei, e no entendimento da sociedade, desacreditada das leis, merece ter castigo semelhante ou mais grave do que o mal que o suspeito (daqui a pouco vítima) possa ter causado a alguém.
Um caso recente de justiçamento aconteceu em Imperatriz na semana passada. Suspeito de furtar um celular, o marceneiro Iranildo Salazar, 42 anos, foi espancado até a morte depois de agarrado por um grupo de pessoas na Vila Esmeralda (região Grande Cafeteira) e amarrado a um poste. Foram pedradas, pauladas, socos e pontapés.
O sangue que manchou o corpo de Iranildo foi o mesmo que manchou as mãos das pessoas que cometeram o homicídio. O pior. Ninguém conseguiu comprovar que Iranildo tinha mesmo furtado um celular. A vítima do espancamento foi agarrada no meio da rua quando alguém o apontou como o tal suspeito, sem ter certeza, segundo o que contam parentes e vizinhos do homem assassinado.
O que os agressores não sabiam era que Iranildo passava por problemas relacionados ao álcool, como afirmou a família. Estava separado da esposa havia algum tempo, saiu do emprego aonde era gerente de uma marcenaria no município de Tailândia-PA. Em Imperatriz buscava o apoio dos irmãos e demais familiares.
A abstinência era quem o atormentava. Estava sem beber havia alguns dias, lutando para entrar em uma casa de apoio, o que estava previsto para acontecer no dia em que foi morto. A família conta que em uma das crises Iranildo fugiu de casa, na Avenida Jacob, Vila Redenção. Quando os parentes souberam o paradeiro, era tarde.
Como a população de Imperatriz, a exemplo de outras cidades do Brasil, vive assustada com os índices de violência, bastou alguém gritar: ‘pega o ladrão’, acusando Iranildo sem ter certeza do que estava fazendo. Pai de seis filhos, foi morto sem tempo de questionar por que o matavam.
Sem confiança nas fracas leis do país, a sociedade mais uma vez “julgou”, erroneamente, a seu modo.
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