Raimundo Primeiro
O Maranhão perdeu, no mês passado, um de seus principais pesquisadores, sobretudo dos fatos relacionados aos acontecimentos inerentes a sua história recente. Trata-se do professor João Renôr, que faleceu em 20 de março (domingo), vítima de complicações decorrentes de um câncer de intestino. O corpo do ex-professor do Departamento de História da Universidade Federal do Maranhão foi cremado no Crematório da Pax União, em Paço do Lumiar, Região Metropolitana de São Luís (capital), na segunda-feira (21). O estudioso dirigiu o Campus da Ufma em Imperatriz. Aqui possuía diletos amigos. Deixou saudades, uma enorme lacuna.
Em dezembro de 2012, João Renôr colocou no mercado editorial de Imperatriz a terceira edição – crítica e ampliada – do livro “O Sertão – Subsídios para a História e a Geografia do Brasil”, de autoria da escritora maranhense Carlota Carvalho, nascida na cidade de Riachão, na Região Sul do Maranhão, a cerca de 300 quilômetros de Imperatriz.
A preciosa obra de história, geografia e antropologia do povo sertanejo traz informações valiosas sobre o Sul do Maranhão, o Norte do Tocantins, o Sul do Pará, o Amapá e a Região do Parnaíba, no vizinho Estado do Tocantins. O pesquisador revelou, durante entrevista exclusiva que fiz com ele para O PROGRESSO, na redação do jornal, em 12 de dezembro de 2012, que a obra havia sido publicada pela primeira vez no Rio de Janeiro sob o patrocínio da Academia Brasileira de Letras (ABL), em 1924, tendo “juízo crítico” do eminente escritor Luiz Murat (1861-1924).
Atenção – Sobre Carlota Carvalho, escreveu Luiz Murat: “Para esta senhora ilustre a atenção de quantos desejam estabelecer relações com os ornamentos da nossa cultura intelectual. Seu espírito lúcido, admiravelmente aparelhado por longos estudos positivos, não exagera o que descreve, analisa, ou pressupõe, em preciosas sínteses históricas, nas quais as conclusões religiosas ou filosóficas são rigorosas, ao ponto de vista do filosofismo recorrente”.
Durante a conversa, naquela inspiradora manhã, já na sede própria de O PROGRESSO, aqui na rua Amazonas, 55 (Centro), o pesquisador João Renôr disse tratar-se de uma obra polêmica e que foi, por muitos anos, considerado o livro “maldito do Maranhão e do Brasil”, porque a autora, Carlota Carvalho, teve a coragem de denunciar em 1924 a corrupção dos governantes do Maranhão e condenar Duque de Caxias por crimes contra a humanidade na “Guerra da Balaiada”.
Para Carlota Carvalho, o Patrono do Exército Brasileiro só praticou “crimes hediondos” contra o povo sertanejo do Maranhão. Por esta razão, o Exército Brasileiro também condenou o livro. Os maranhenses desconhecem os fatos narrados pela autora.
Contribuição – Porém, por iniciativa do professor João Renôr, da Universidade Federal do Piauí, e com apoio do escritor, editor, historiador e acadêmico Adalberto Franklin, proprietário da Ética Editora, de Imperatriz, o livro “O Sertão” foi reeditado na capital piauiense, ou seja, Teresina.
Sobre a terceira edição de “O Sertão”, Adalberto Franklin – editor e coordenador da obra – ressalta que, apesar de ainda pouco conhecida do grande público brasileiro, o livro é uma obra que se coloca entre as mais densas e ricas contribuições à interpretação do Brasil interiorano, da gênese e índole do povo nordestino que nos séculos XVIII e XIX se esparramou pelos sertões maranhenses e goianos – hoje tocantinenses – e, ainda, uma das mais originais releituras dos importantes episódios da história brasileira.
QUEM FOI JOÃO RENÔR
O professor João Renôr nasceu em Riachão, no Sul do Maranhão, era membro da Academia Imperatrizense de Letras (AIL). Foi diretor do Campus II da Universidade Federal do Maranhão (Ufma) em Imperatriz, durante o período 1992-1995, sendo transferido para a Universidade Federal do Amapá (Macapá), ficando por lá de 1996 a 2001. Depois, esteve em Teresina (Piauí), onde se aposentou, voltando a Imperatriz.
Aqui trabalhou o Projeto de Mestrado em Educação Ambiental, no Centro Superior de Imperatriz (Cesi) da Universidade Estadual do Maranhão (Uema).
Origens – Filho de agricultor sem terra e mãe analfabeta descendente de nação indígena Timbira, João Renôr é graduado pela Faculdade Federal de Pernambuco (Ufpe), em Recife. Logo cedo se destacou e correu o mundo, atrás de conhecimento, sempre conectado aos acontecimentos que marcaram os maranhenses e os brasileiros de modo geral. Mestrado em Geografia Humana pela Universidade e doutorado em História Latino-Americana pela Universidade de Sorbonne, em Paris (França). Atualmente, morava com amigos em Imperatriz.
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