O país está anestesiado e vivendo a sua maior crise política, econômica, social e moral, em toda a sua história. Os ânimos estão se acirrando, o radicalismo está aumentando e não se visualiza uma saída a médio prazo. Hoje, servimos de chacota em programas humorísticos no exterior com os nossos governantes sendo recebidos a panelaços, buzinaços, aplaudaços e adjetivos depreciativos. Estamos trilhando o caminho da Venezuela com a vantagem de nossas Forças Armadas continuarem atreladas aos princípios constitucionais.
Os escândalos se sucedem dia após dia e muita coisa irá aparecer quando as investigações se concentrarem em atividades de outros ministérios. Os “mensalões” e “petrolões” são apenas pontas de icebergs. Quantos serão os “mal feitos” em nossas estradas, ferrovias, aeroportos, usinas, hidrelétricas, construção civil e programas de assistência social, por exemplo?
É passível de contestação a decisão de um juiz de convocar para depor – de modo coercitivo – um cidadão que não havia demonstrado, na esfera federal, o desejo de não fazê-lo. De igual modo, podem ser criticadas as ações espalhafatosas de agentes da lei previamente acertadas com a mídia para a cobertura do evento. Porém, é de estarrecer o linguajar usado por um ex-presidente da República para manifestar a sua indignação. Deveras surpreendente, também, o apelo do bispo a seus fiéis para “pisarem na cabeça” da jararaca pelo fato de o depoente ter afirmado que somente o “rabo” do ofídio tinha sido atingido.
Pode ser considerado louvável o apoio da presidente a um correligionário, amigo e criador envolvido, com seus familiares, em inúmeros casos suspeitos. Contraditório, até, o seu desejo de convidá-lo para ministro de Estado a fim de desfrutar de foro privilegiado. Mas tudo deveria ser feito às claras, de modo discreto e com recursos próprios para a observância, no mínimo, de princípios éticos. O exemplo vem de cima e não se pode jogar o povo contra autoridades constituídas de outro Poder. Esta demonstração de afeto e coesão não foi prestada a seu líder político no Senado Federal e deu no que deu.
A delação não é bem aceita no meio militar e, em caso de guerra, pode ser até considerada uma traição. O “dedo duro” também não é bem recebido no meio civil, haja vista que um empreiteiro de renome criticou duramente seus colegas que aderiram à “delação premiada” após tantos anos de aproveitamento nos gabinetes de autoridades de diferentes níveis, sem nada falarem.
Este ambiente deplorável ocupa todos os espaços da mídia e não são enfatizados os graves problemas de segurança pública diariamente vividos.
Um jovem de 20 anos é confundido com policial, brutalmente torturado e queimado vivo por traficantes do Complexo do Chapadão, no Rio de Janeiro.
No interior de Minas Gerais, um sargento da Polícia Militar arrisca sua vida, prende dois marginais armados com revólveres calibre 38 e baleia a perna de um deles. Encaminha-os à Delegacia de Polícia Civil e a titular, após ouvi-los, os libera. Os bandidos voltam ao mesmo local do crime para nova investida, são novamente presos e encaminhados à mesma delegada que, surpreendentemente, os dispensa outra vez. Enquanto isto, o sargento é detido e responde a processo por lesão corporal no criminoso, que reagiu à prisão.
Estas coisas só acontecem em um autódromo esburacado, deteriorado, com fiscais de pista omissos, com veículos obsoletos e totalmente desgovernados, diante de expectadores perplexos e inseguros.
Daqui para frente tudo pode acontecer!
DIÓGENES Dantas Filho é Coronel R1 do Exército Brasileiro, ex-Comandante do 50º Batalhão de Infantaria de Selva (50º BIS) e Doutor em Planejamento e Estudos Militares
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