Hemerson Pinto
Troca de acusações e denúncias de ameaças de morte, onde qualquer passo um pouco mais largo pode ser mal interpretado. O PROGRESSO visitou o Parque Amazonas e durante 1 hora ficou entre brancos e índios que disputam uma área de pouco mais de 2.000 m². O clima é tenso no terreno que abriga um prédio abandonado e desde sábado é ocupado por mais de 100 famílias.
Itamar Rodrigues é um dos responsáveis pela ocupação. Ele explica que nenhuma das pessoas interessadas em adquirir um dos lotes que estão sendo demarcados tem casa própria. “É uma das condições para participar deste movimento: não ter casa própria, morar de aluguel. Estamos aqui de rosto limpo e cabeça erguida, não estamos fazendo nada incorreto. Apenas lutamos para que cada um aqui adquira seu lote”, defende.
No quinto dia da ocupação, que começou no último sábado, dezenas de lotes eram desenhados e limitados por estacas. Algumas pessoas erguiam as armações de barracos, posteriormente cobertos com palhas. “Vim pegar um lote pro meu neto que está noivo. Por enquanto, ele mora comigo, mas quero ajeitar aqui pra ele”, comenta o aposentado Cicero Sabino, 76. Ele cavava o chão para fincar um dos suportes de madeira que seguraria a cobertura do casebre pensado para o neto.
Um dos líderes do movimento afirma que entre as famílias já cadastradas para tomarem conta da área existem pessoas dos bairros João Castelo, Vila Cafeteira, Entroncamento, além do Parque Amazonas, “mas todos moram em casas alugadas”, reforça Itamar. Segundo ele, a área foi cedida há décadas à Fundação Nacional do Índio para possibilitar atendimento a indígenas de toda a região.
“Quando os índios foram tirados daqui para apenas receber serviços sociais lá na sede da Funai, Centro, e depois reenviados às aldeias, esta área ficou abandonada”, segundo o organizador do cadastro, há quase 12 anos. Certo de que o espaço será conquistado, Itamar avisa: “No próximo sábado, estaremos com vários lotes com armações bem adiantadas e vamos recuperar os poços que os índios taparam. Tem mais, estamos sendo ameaçados”.
A poucos metros do local onde o grupo desenha as áreas onde pretende construir, uma família indígena recebe nossa reportagem e conta outra versão. “Nós é que somos ameaçados. Me prometeram tiro na cara. Estou aqui com a família desde 2001. Moro autorizado pela Funai. Era uma casa de saúde aqui, das comunidades indígenas. Casa acabada, nós ficamos. Estão invadindo o que é nosso”, diz Eduardo Lopes Oliveira Guajajara.
A casa onde a família composta por mais de dez indígenas habita ocupa um canto do terreno desejado pelo grupo. Eduardo afirma que sempre morou ali e não entende porque as pessoas que estão ocupando a área o querem fora do local. “Não estou tomando nada de ninguém, estou morando onde sempre morei e criei minha família”.
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