*Roberto Wagner

Primeiro, foi a divulgação do áudio de uma conversa entre o empresário Wesley Batista e um diretor de seu grupo econômico, onde, com a arrogância que lhe é peculiar, afirma, entre irônico e ameaçador, possivelmente bêbado, pelo tom arrastado da voz, que o Congresso Nacional já estaria ‘moído’ e que um audacioso plano para ‘moer’, desta vez, o Supremo Tribunal Federal, concebido e capitaneado por ele próprio, já estaria em curso, deixando subentendido que, até em nossa mais alta Corte, não há ninguém que não possa ser cooptado.
Em questão de horas, teve a divulgação das estarrecedoras imagens dos 51 milhões de reais, em dinheiro vivo (há uma parte em dólares), encontrados pela Polícia Federal em um apartamento cedido por um amigo ao ex-ministro Geddel Vieira Lima, atualmente em prisão domiciliar, conhecido como um dos homens de confiança do presidente Michel Temer, o que, para alguns, pode ser apenas a ponta de um novo iceberg, já que ninguém acredita que Geddel, entre o que conseguiu amealhar, tenha só essa grana. Se lá ele tinha isso, muitos estão comentando, imagine o que não deve ter, cuidadosamente guardado, em paraísos fiscais, o que, num contexto devidamente ampliado, dá ideia da dimensão da roubalheira de recursos públicos reinante em nosso País.
Na sequência, veio a divulgação do demolidor depoimento prestado pelo ex-ministro Antonio Palocci, onde este, sem meias palavras, agora também incompreensivelmente protegido por delação premiada, deixou o ex-presidente Lula, cuja situação já era muito complicada, praticamente num beco sem saída.
Muito pior do que esses furacões que estão assolando as ilhas do Caribe e parte da costa americana, o furação provocado pela soma desses três tenebrosos e perturbadores episódios deixou o País atônito, estupefato, paralisado. A sensação, nesse momento, é que se está vendo os Poderes da República arderem e desabarem em um gigantesco incêndio moral. Dá até para se perguntar: o que, ao final disso tudo, ficará  de pé?
Dir-se-á que, como temos a memória curta e como talvez até já tenhamos perdido a capacidade de nos chocarmos de verdade com coisas desse tipo, não vai demorar para que esse cenário de terra arrasada se dissipe e tudo seja esquecido. A propósito, não custa lembrar, de passagem, que, por muito menos do que isso, tivemos 64, que, para resumir, terminou não sendo solução para coisa alguma.
Os bombeiros de plantão certamente já foram acionados e, a uma hora dessa, já estão a postos tentando apagar as labaredas desse trágico incêndio. O problema é que, concluído o rescaldo, será dos escombros ainda fumegantes desse incêndio que surgirão, que ninguém se iluda, os nomes, uns mais outros menos chamuscados, que disputarão a sucessão do, a essa altura, já carbonizado Temer.
Era exatamente aqui, nesse, como sempre, humilde  e despretensioso artigo, onde queríamos chegar: dificilmente, mas muito dificilmente mesmo, teremos nomes, entre os poucos sobreviventes desse incêndio, com competência e honradez bastantes para tirar o Brasil desse anarquia generalizada. Deus permita que surjam, até lá, outras alternativas, outras opções. 
Este artigo é dedicado a Marcílio Sousa Santos, lá da minha querida Montes Altos, uma das pessoas mais inteligentes e bem informadas que conheço e que decerto está vendo com profunda preocupação esse quadro desolador. Até a próxima.

Advogado*