SÃO LUÍS - Crianças de até cinco anos de idade não devem passar mais de 60 minutos por dia em atividades passivas diante de uma tela de smartphone, computador ou TV. A recomendação é da Organização Mundial da Saúde (OMS), que alertou ainda que bebês com menos de 12 meses de vida não devem passar nem um minuto na frente de dispositivos eletrônicos. Orientações fazem parte de conscientização da agência da ONU sobre sedentarismo e obesidade. Segundo a instituição, cerca de 40 milhões de crianças em todo o mundo - em torno de 6% do total de meninos e meninas - estão acima do peso.
Atenta ao tema, a Escola SESI Anna Adelaide Bello promoveu na última quarta (16/10), no auditório Alberto Abdalla na FIEMA, a palestra "Neurociência e comportamento: O impacto da tecnologia no sono e cognição de crianças e adolescentes" que teve como público principal alunos, professores e pais. A ação faz parte do projeto Escola de Pais e teve como palestrante a especialista em inteligência emocional, com MBA em neurociências e comportamentos pela PUC-RS, Maria de Jesus Silva.
"Nosso grande desafio é trabalhar a formação de nossos filhos e fazer com que essa formação seja saudável. Estamos hoje dividindo espaço com a inteligência artificial e toda essa tecnologia que no primeiro momento nos encanta, impressiona e nos fascina e que depois de um tempo começa a se questionar sobre os impactos que causa nas relações humanas e principalmente no sono", destaca a palestrante.
Se o uso maciço das tecnologias digitais é uma das principais marcas de crianças e jovens de hoje, os problemas causados pela falta de sono também devem deixar marcas importantes na saúde e no comportamento dessa geração no futuro.
"Acho muito importante que esse tema seja discutido pela escola. Acredito que pais e professores devem dar as mãos para compreender os impactos do uso da tecnologia no sono e na cognição e as consequências desse descontrole. Não é que se vá restringir o uso da tecnologia, já que eles são de uma geração tecnológica. Mas tem que haver cuidado, sono é vida e tem relação com imunidade. É enquanto a criança dorme que ela absorve as informações do aprendizado. É importante que os pais tenham esse conhecimento se não vamos continuar tendo crianças com transtorno com déficit de atenção. E as consequências disso vão aparecer ao final da adolescência e na idade adulta!", enfatiza a terapeuta.
"O conselho é, quando possível, sair de um tempo passivo de (uso de um dispositivo eletrônico com) tela e sedentário para uma atividade mais física, enquanto ao mesmo tempo protegendo o sono de qualidade", acrescenta a terapeuta sobre o ponto focal sobre obesidade infantil e atividades físicas.
As crianças compõem um dos maiores grupos de consumidores de tecnologia. Um estudo recente do Massachusetts Aggression Reduction Center descobriu que, na quinta série, 40% das crianças têm telefones celulares. Os pais relataram que a finalidade de um telefone nessa idade é por motivos de segurança ou para manter contato com a família, mas muitos pais dão aos filhos um telefone para manter contato com amigos da escola.
O recente surgimento de brinquedos eletrônicos e tablets para crianças oferece novas oportunidades de aprendizagem, mas também pode ter consequências inesperadas no desenvolvimento motor, atividade, atenção e sono. Algumas dessas implicações para a saúde podem não se manifestar até o final da adolescência ou na idade adulta. De fato, vários estudos identificaram repercussões na saúde associadas ao aumento do uso de tecnologia em adolescentes em idade universitária, incluindo diminuição da qualidade do sono, aumento da desatenção e aumento do índice de massa corporal (IMC).
Uma revisão sistemática de 36 estudos investigando o uso de tecnologia em crianças propôs mecanismos pelos quais o uso eletrônico antes de dormir poderia causar distúrbios do sono. Os autores sugeriram que o uso eletrônico pode deslocar o sono, já que não há tempo de início ou fim fixo para uso eletrônico. Segundo o uso da mídia, antes de dormir, demonstrou aumentar a excitação fisiológica, emocional ou mental. Isso foi estabelecido em estudos de videogame e telefone celular. Terceiro, as emissões de luz das telas de mídia eletrônica podem afetar o sono.
Numerosos estudos estabeleceram que o sono ruim está associado a problemas comportamentais e emocionais na infância e adolescência. A má qualidade do sono é altamente prevalente em crianças com problemas comportamentais ou emocionais, como ansiedade, depressão ou transtorno de déficit de atenção / hiperatividade (TDAH).
O aluno do SESI, Isaque dos Santos, de 13 anos, que participou da palestra confessou que fica em torno de uma hora por dia no celular. "Eu fico jogando e assistindo vídeos. Acho que foi bem importante esse tema da palestra. Já extrapolei e passei algumas horas jogando e no outro dia amanheci cansado e com sono na escola. E algo muito viciante a gente não consegue desgrudar do celular!", disse o aluno.
PROBLEMAS - Dentre os problemas ligados ao uso excessivo da tecnologia por crianças e adolescentes estão o aumento da ansiedade, a dificuldade de estabelecer relações em sociedade, o estímulo à sexualização precoce, a adesão ao cyberbullying, o comportamento violento ou agressivo, os transtornos de sono e de alimentação, o baixo rendimento escolar, as lesões por esforço repetitivo e a exposição precoce a drogas, entre outros. Todos com efeitos danosos para a saúde individual e coletiva, com graves reflexos para o ambiente familiar e escolar. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), estudos científicos comprovam que a tecnologia influencia comportamentos através do mundo digital, pela adoção de hábitos, muitos deles inadequados desde os primeiros anos da infância. Há algum tempo, este tema tem ocupado espaço nas discussões na entidade, preocupada com a melhor orientação ao pediatra no atendimento de seus pacientes e familiares.
O assistente de RH e pai de Isaque, José Odélio, 35 anos, sugeriu que essas reuniões fossem mensais diante da importância do tema. A mãe de Isaque, a contadora Nairis dos Santos, 37 anos, destacou que usa muito celular e computador a noite devido ao trabalho. "Ele teve um tablet só com 10 anos e foi presente não foi nós que demos. Eu vejo as redes sociais e o uso da tecnologia como ferramenta de trabalho que virou moda e usamos apenas o necessário para não viciar."
"A escola precisa estar conectada com o que está acontecendo no mundo. Nós, como instituição educacional, temos que pensar em nossas crianças. Só que não fazemos esse trabalho sozinho, daí a importância de convidar a família para ter encontros como esse para discutir os impactos da tecnologia no sono. Esse foi nosso segundo encontro, a ideia da escola Anna Adelaide Belo é manter esse trabalho para que os pais tenham uma consciência maior e cuidado na construção com os filhos", finalizou a gerente da Escola SESI Anna Adelaide Bello, Regina Sodré.
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