*Roberto Wagner
Biógrafo de Clarice Lispector e Susan Sontag, o escritor e historiador norte-americano Benjamin Moser, em entrevista à revista Caros Amigos (edição nº 220, julho de 2015, págs. 40/41), disse que “ninguém, nem Susan Sontag, nem Clarice Lispector é interessante, nem você, nem eu... A gente leva nossas vidas. Vamos ao supermercado, esquecemos de pagar as contas. Podemos fazer coisas interessantes, mas a arte do biógrafo é dar sentido a uma vida. Isso, na própria vida, ninguém consegue fazer.”
É bom que se esclareça, para quem não sabe, que, apesar da relativa pouca idade (tem somente 38 anos), Benjamin Moser é respeitadíssimo nos círculos acadêmicos mundo afora, o que torna esse seu instigante comentário – que, em verdade, reflete opinião que ele compartilha com vários outros biógrafos e pensadores de peso – digno de reflexão demorada, o que, aqui, lamentavelmente não é possível, em razão do costumeiro pequeno tamanho de meus artigos e de minhas inescondíveis limitações intelectuais para tamanha empreitada.
Eis, em resumo, portanto, o que propõe Benjamin Moser: até os nossos heróis, em si mesmos, são pequenos; nós outros é que, estimulados para os vermos maiores do que são, os consideramos seres fantásticos, infalíveis, sem defeitos. Se correta tal assertiva (admitamos, para efeito de argumentação, que seja), os nossos ídolos, na imensa maioria das vezes, não passariam de ídolos de barro, na medida em que a espetacular grandiosidade que neles enxergamos pouco mais seria do que simples miragem.
Desde que passei a ver o mundo com os meus próprios olhos, firmei o entendimento, que mantenho inalterado até os dias atuais, de que, salvo raríssimas exceções, só por involuntário engano ou incontida necessidade existencial de criar e cultuar mitos, conseguimos olhar as excepcionais virtudes, em nossa opinião, daqueles que consideramos exemplos de vida, de história ou de coisa parecida.
O meu pai e a minha mãe são muito melhores se comparados ao pai e à mãe de qualquer outra pessoa, assim todos, ou quase todos, pensam, e é justamente na esteira desse raciocínio que os pais se erguem à categoria de ídolos dos filhos, os primeiros que estes, normalmente, elegem como tais ao longo da vida. Perguntem aos meus filhos, por exemplo, qual o melhor pai do mundo e a maioria deles, se não todos, responderá, sem pestanejar, que sou eu, Roberto Wagner, coisa que provavelmente ninguém mais ache.
Ante essas, como sempre, despretensiosas considerações, convido você, caro leitor, cara leitora, a, hoje à noite, naqueles minutos que antecedem a chegada do sono, se fazer as seguintes perguntas, excluindo das respostas, por motivos óbvios, as figuras paterna e materna: os meus ídolos merecem, realmente, toda a minha veneração? Não teria exagerado nessa veneração, tornando-me um(a) fanático(a)? Esse possível fanatismo tem comprometido as minhas decisões?
Procure, aconselho, ser o mais sincero possível nas respostas. Pode até parecer bobagem ou dica de livro de autoajuda (subliteratura que, por sinal, detesto), mas garanto que você irá perceber que os seus ídolos, tais como os meus ídolos, salvo, repito, raríssimas exceções, deixam muito a desejar como super-heróis e que, se conseguiram chegar aonde chegaram, muito devem àqueles que, anonimamente, à sombra dos holofotes, estavam em volta deles. Até a próxima.
Advogado*
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