Ainda tomado pela dor que acometeu a todos os familiares e amigos do nosso Armindo Nascimento Reis Neto, penso que não posso me furtar a este gesto simples que agora me ocorre: sensibilizar a todos os colegas da magistratura maranhense para viabilizar a vinda de seu irmão e também magistrado, Mario Henrique para a comarca de Imperatriz.
No quesito promoção e remoção me sinto muito a vontade para discorrer, porque tenho sido a vida inteira o anticarrerista por excelência. Recusei diversas promoções ainda no início da carreira e, ainda hoje, continuo a recusá-las. De certo modo pautei a minha vida muito ao gosto do acaso. Ainda não me arrependi desta opção e penso que não irei me arrepender no futuro. Longe de mim a pretensão de pensar que a vaga na comarca de Imperatriz faça parte do espólio do nosso Armindo. De modo algum. A especificidade do caso se impõe. Esta vaga abriu por falecimento, de um modo trágico. Por isso lanço este apelo, de maneira pública, na esperança de fazer chegar esta mensagem aos colegas da região e que estes possam, por meio das redes sociais - que não uso - divulgar para todos os nossos colegas que possam contribuir com esta causa, que ao meu juízo reflete um ato de amor ao próximo num momento de imensa dor.
A mãe do nosso Armindo - que somente a fé lhe concede a graça de suportar tamanho sofrimento - aqui vivia em companhia do filho querido que agora se foi e a vinda de Mario Henrique seria o alento mínimo ao alcance de todos nós, magistrados. É exatamente nessa dimensão que esta corrente deve se fortalecer no seio dos magistrados do Maranhão. Se a magistratura é a função estatal de distribuir a justiça, um dos valores mais caros de uma sociedade e, por certo, um dos mais difíceis de alcançar, precisamos, neste momento, exercê-la em nosso meio, dentro da nossa instituição para ofertar o exemplo e fortalecer o sentimento do justo, motor da profissão que abraçamos. É hora de grandeza. Penso aqui no meu círculo mínimo de conceber o mundo, que quase sempre os gestos de abnegação, de desprendimento são os mais altos que podemos construir.
E o gesto de abnegação é mais alto quanto maior o sacrifício a ser suportado. Mas qualquer que seja o sacrifício que um ou outro colega tenha que ofertar, seguramente não se compara a perda de um filho. E se o gesto de abrir mão de chegar a este momento à prestigiada comarca de Imperatriz servir para confortar os pais que acabaram de perder um filho querido, seguramente vale a pena o sacrifício.
Fui escalado pelo Dr. Delvan Tavares, para fazer a saudação ao magistrado Armindo Nascimento Reis com seu corpo ainda entre nós. Li um pequeno texto que havia preparado às pressas. E confesso que o li sem olhar um só momento para a família, pois seria difícil proferir as palavras - que seguramente seriam entrecortadas por soluços. Talvez nunca vá me esquecer da cena do Desembargador Mario Reis - exemplo de magistrado sereno - espelho para todos nós, segurando a alça do esquife do seu próprio filho. Ele, ao passar por mim, ainda disse: "Weliton". Eu não consegui falar apenas afaguei sua cabeça alva como as nuvens.
Escrevo ainda tomado pela emoção da missa de sétimo dia em homenagem ao nosso Armindo ao final da qual rebentei em soluços ao abraçar seu pai. E senti a necessidade de traçar essas linhas para dar publicidade de minha posição sobre o mínimo que cabe a cada um de nós, magistrados, fazer nesse momento: viabilizar a vinda de seu irmão, Mario Henrique para Imperatriz. Sei que meu exemplo é quase irrisório, mas para a primeira vaga a ser aberta após o falecimento do meu dileto colega, retirei minha candidatura. Conclamo a todos que façam o mesmo. É a grandeza mínima que o momento requer. Abraço a todos os meus irmãos magistrados, unidos pelo valor da justiça que nos guia e nos faz recitar com Armindo este verso belo de Camões "para tão longo amor tão curta a vida".
Weliton Carvalho - Juiz de Direito
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