*Roberto Wagner

Nossa história, e como me incomoda admitir isso, registra poucos heróis. Heróis de verdade, ou seja, os que realmente fazem por onde merecer esse honroso e grandioso epíteto, esses então é que são escassos. De minha parte, que me perdoem os que discordam de mim, não consigo enxergar em nenhum patrício o perfil que exijo para tachar alguém de herói. É evidente que em alguns, caso de Tiradentes, para mencionar um, reconheço fugazes e localizadas passagens heroicas, mas a coisa fica por aí. O herói nacional que idealizo, e que, por mais que me esforce, sinceramente não consigo identificar em ninguém por aqui, é do tipo cujos feitos, sem qualquer laivo de exagero ou mitificação forçada, são de tal ordem de grandeza que o seu espetacular e extraordinário exemplo, pelo efetivo transbordamento da normalidade, eleva-o ao patamar de verdadeiro semideus.
Falta, penso eu, a cintilar em nosso panteão, gente do porte, para ficar, por falta de espaço, com esses poucos exemplos, de um Alexandre, de um Napoleão Bonaparte, de um Abraham Lincoln, de um Mahatma Gandhi, de um Winston Churchill, de um Martin Luther King. Pessoas que, quando o nome é citado, provoca em todos um inevitável sentimento, a um só tempo, de contemplação e inferioridade, tal a distância que medeia a história de vida delas e de nós outros, simples e meros mortais.
Essas, como sempre, simples e despretensiosas considerações vêm a propósito da mais nova mania brasileira: dar status de heróis a magistrados que, no fundo, no fundo, outra coisa não fazem senão agir com pulso e seriedade à frente dos processos que presidem. Noutras palavras, magistrados que fazem o seu serviço corretamente.
Encontro-me entre aqueles que consideram merecedores do nosso reconhecimento, pelo notável trabalho que desempenharam e/ou vem desempenhando, o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa, cuja fama deve-se ao caso do Mensalão, e o juiz federal Sergio Moro, que passou a ser conhecido nacionalmente a partir do caso da Lava-Jato. Magistrados claramente íntegros e competentes, deles ficará, sem sombra de dúvida, um exemplo a ser seguido. Ponto final.
Agora querer enxergá-los, a partir somente do trabalho jurisdicional por eles exercido, como heróis nacionais, a quem, como muitos andam pregando, até se deveria entregar a gestão do País, aí, francamente, acho um tremendo equívoco, um enorme exagero. Aliás, tanta veneração faz pensar, o que seria outro engano monumental, que, entre os milhares e milhares de magistrados que temos, somente eles dois teriam sido distinguidos pela providência divina para salvar esse naufragado Brasil que hoje temos. Qual nada. Quem, como eu, há décadas bate ponto em ambientes forenses, sabe muito bem que, no Judiciário brasileiro, sobram Joaquins Barbosa e Sergios Moro. Juízes desonestos, ou incompetentes, graças a Deus, são exceções.
Aqui mesmo, na comarca de Imperatriz, há magistrados que, se os holofotes da mídia fossem dirigidos para o excelente trabalho que desempenham, a população, pelo que dá para deduzir, sairia às ruas exigindo que se candidatassem a prefeito, na suposição de que, em tal posto, transformariam o município num mar de excelência, onde tudo passaria a funcionar às mil maravilhas. As coisas, porém, não funcionam assim. Bons juízes são apenas bons juízes e não há certeza alguma de que, em outras funções, sejam públicas ou privadas, tenham a mesma performance. Continuemos aplaudindo Joaquim Barbosa, Sergio Moro e tantos outros que, episodicamente, a mídia se lembre de enaltecer o trabalho, mas fiquemos só nisso. Herói é outra coisa.

Advogado*