Grupo de Prevenção ao Suicídio beneficia pessoas que não apresentam transtorno mental, mas tem o sofrimento emocional, por meio de suporte terapêutico - Patrícia Araújo

A atual conjuntura social encontra-se em crescente adoecimento mental e, em virtude desse fator, a Secretaria Municipal de Saúde, Semus, por meio da Rede de Saúde Mental criou há um ano, o Grupo de Prevenção ao Suicídio do Centro de Atenção Psicossocial, CAPS III - Renascer. Com reuniões quinzenais, objetivo é tratar o paciente em liberdade, combater fatores que estão ligados ao adoecimento ofertando suporte terapêutico, afim de proporcionar o restabelecimento da saúde e a melhoria da qualidade de vida.

De grande eficácia, a coordenadora da Rede de Saúde Mental do Município, Kátia Carvalho, enfatiza a importância do grupo para a sociedade. "Aspectos sociais como o desemprego e transtornos mentais estão associados às tentativas de suicídio. A dinâmica de grupo traz grandes benefícios, pois oferece aos usuários da saúde mental um momento de interação, integração de compartilhar experiências, ou mesmo, reflexões do seu dia a dia. Dessa forma, há o fortalecimento dos aspectos sociais e psicológicos positivos, demais áreas da vida e da saúde, que num contexto geral é um antídoto àqueles que vez ou outra consideram o suicídio, como a melhor opção de decisão".
O Grupo de Prevenção ao Suicídio surgiu em decorrência da crescente demanda de usuários com ideação e histórico de tentativa de suicídio, as reuniões acontecem quinzenalmente e são acompanhadas por psicólogos do CAPS. Sobre a dinâmica adotada no grupo, a psicóloga da rede de saúde mental do município, Elainy Ferraz, descreve que "a cada grupo a gente faz a escuta de cada participante e na sequência, a intervenção terapêutica. Realizamos dinâmicas de grupo, sempre dentro do objetivo de trazer esse usuário para o centro, para que eles consigam se perceber e entender que podem ter uma evolução. O grupo é destinado a pacientes com ideação suicida e histórico de suicídio.  A intervenção é feita dentro da causa geradora dos sintomas, trabalhando esta causa e os sintomas vão sendo eliminados".
O vigilante, J. N. de 37 anos, relata o histórico vivenciado por ele antes de procurar ajuda no CAPS e expõe como o grupo tem o ajudado a superar o diagnóstico depressivo. "Após a terceira tentativa de suicídio, me socorreram e me trouxeram ao CAPS, fiz a triagem e tenho feito acompanhamento com o psiquiatra há um ano. Está sendo maravilhoso, hoje me sinto bem melhor que antes, pois em grupo a gente se ajuda com as conversas que temos com outros pacientes, o acompanhamento e conselhos que a psicóloga nos dá, de fazermos exercícios, de nos colocarmos no centro, de nos amarmos, tem me ajudado. No grupo não tive preconceito algum! Vemos a situação do outro, muitas vezes as histórias impactam e me deixam triste, mas depois analiso que a pessoa está contando um momento ruim que ela passou, mas venceu com a ajuda do grupo", desabafa o paciente.
A psicóloga Elaine Catarine Nunes da Silva explica que para participar do grupo o paciente deve, primeiramente, estar inserido na Rede de Saúde Mental do município. "Temos vários pacientes que já passaram pelo grupo. Inicialmente começo com a terapia individual no CAPS e só depois quando se sentem preparados, participam do grupo. Respeitamos o momento deles e a participação do grupo não é obrigatória, mas é muito importante, pois a evolução é mais rápida. A escuta do outro faz com que acione alguns dispositivos deles, para que percebam uma mudança de melhoria, de qualidade de vida. Trabalhamos sem preconceitos ou conceitos próprios, para entendermos a dor do outo, para que possamos ajudá-lo a superar tudo isso e que, realmente, consigam ter resiliência dentro do acontecimento que desencadeou esse quadro".
O coordenador do CAPS III- Renascer, Patrício Silva,  pontua a importância do grupo para a saúde emocional da população e enfatiza dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) - 2017, onde detectou que na maioria dos casos suicidas, as pessoas  não estavam sendo acompanhados por uma rede de saúde mental. "Enquanto dispositivo de saúde mental, na pessoa especializada, sabemos dos casos de suicídio igual toda a população sabe, pelas redes sociais. Em Imperatriz, essas pessoas não estavam inseridas na rede de saúde pública. Alguns passaram por atendimento no posto de saúde ou no hospital, mas nunca diretamente relacionado à ideação suicida, ou fizeram tratamento no CAPS. O grupo vem justamente para alicerçar e beneficiar esse público que sofre, mas não tem transtorno mental, tem o sofrimento mental".
O coordenador relata que as pessoas ainda relutam quando o assunto que as envolvem são questões voltadas à saúde emocional. "As pessoas ainda têm medo de expor seu interior, de falar sobre as suas dores, emoções, repressões. Geralmente, desde a infância somos muitos reprimidos e guardamos isso, para vida toda. Na fase adulta, esse sofrimento começa a externalizar, por meio de doenças e uma delas é a própria ideação suicida.  É importante que tenhamos esse grupo não só no CAPS, mas em vários outros segmentos dentro da Rede de Saúde Pública da cidade, como já temos nos postos de saúde. Pessoas que estão sofrendo dentro de casa vão ter um local para buscar esse auxílio", conclui.
Para ter acesso ao CAPS basta ir a uma das unidades com o cartão do Sistema Único de Saúde e um comprovante de residência. O CAPS III - Renascer atende pessoas com transtornos mentais persistentes, inclusive pelo uso de substâncias psicoativas e seus familiares. A unidade está localizada na Rua Projetada B, Complexo de Saúde do Parque Anhanguera e  funciona 24 horas por dia. (Kalyne Cunha-Ascom)