Ribamar Silva

Tarde de 16 de julho de 1852. Um sol grande despenca no oeste em busca do repouso noturno, enquanto tinge de ouro, o azul profundo dos céus e o verde esmeralda das águas do majestoso rio Tocantins. Aponta por trás de pequeno gorgulho próximo à margem direita, uma flotilha de canoas carregadas de soldados e de famílias de aventureiros comandados por um bravo frade da Ordem Carmelita, a serviço do governo do Pará, com o intuito de fundar uma povoação, o mais próximo possível da fronteira divisora do Pará e do Maranhão.
Nas proximidades do local que hoje se conhece como o Porto do Curtume, a canoa que conduzia o frade apontou a proa para a margem, no que foi seguida pelas demais. Ao atracar, o frade levantou a vista, e para sua grande surpresa, sobre o plano da barranca, havia grande quantidade de indígenas de pele acobreada, despidos de roupas e de maldades. Em tempo: O frade verificou que as índias de cá, tal como aquelas que receberam Cabral na costa da Bahia, também tinham as “vergonhas bem fechadinhas”.
Passado o impacto inicial causado pelo imprevisto encontro, o frade, munido da Bíblia, de rosários, terços e bentinhos, e mais da imagem da Santa Doutora que nomeou depois a pequena povoação, subiu a barranca tropeçando no hábito com certo receio dos indígenas. Ainda povoava o imaginário dos desbravadores das virgens florestas e quase intocados sertões do Brasil, a predileção do autóctone por carne de clérigos, talvez quem sabe, por apresentar um leve sabor português de Sardinha.
No entanto, os índios de cá, como os de lá, eram de índole pacífica, e depois do contato inicial e da tradicional troca de presentes, o frade ordenou que se retirasse a piaçaba e o tucum rasteiro do terreno arenoso em que hoje se localiza a Praça da Meteorologia, mandou levantar uma grande cruz cristã, rezou um terço e celebrou uma bela missa. Quando menos se esperava, o frade já tinha colocado todos os índios de joelho, e o fez de tal forma, que eles jamais se levantaram...

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O tempo passou... 166 anos depois desses sucessos, a povoaçãozinha que crescia acanhada acompanhando a margem arenosa do rio, foi crescendo, crescendo, até tornar-se Imperatriz. De lá para cá, vieram pessoas de todos os recantos do Brasil em busca de melhores condições de vida, o que transformou a cidade no que ela hoje é: uma cidade média com todas as vantagens e desvantagens de uma cidade desse porte. Tornou-se o Portal da Amazônia pela criatividade de Agostinho e poderoso polo de comércio e prestação de serviços pela criatividade e tenacidade de toda a sua gente... 
É bem verdade que já não temos mais floresta amazônica, nosso cerrado teve o capim agreste substituído por todos os demais tipos de capim, nosso rio Tocantins, antes caudaloso, está sobrevivendo de teimoso. Os índios? Foram empurrados para o interior do sertão pela civilização. Eles ainda insistem e resistem. No entanto, nosso povo ama a cidade e com certeza contribuirá para que Imperatriz deixe de ser Princesa para, definitivamente, ocupar o trono de Rainha que o desejo de todos nós lhe destinou...