Exatos 32 anos de serviços prestados à Câmara de Vereadores de Imperatriz tornaram Lucineide a “toda-poderosa” da Casa. Sabia de cor e olhos fechados o Regimento Interno, caso por caso, a Lei Orgânica do Município, a tramitação de matérias, a formação e andamento de cada comissão técnica, os ritos das sessões e das solenidades.
Zelosa do trabalho, perfeccionista e exigente, ganhou a confiança de colegas e das inúmeras Mesas Diretoras a que serviu.
“Sua principal característica era o profissionalismo. Chegava à Câmara às sete e quinze da manhã e só saía às cinco, seis da tarde. Apesar de suas convicções políticas, sabia a dimensão de sua responsabilidade. Sabia de tudo da Câmara. Era uma profissional de mão cheia”, contou o atual presidente Hamilton Miranda. Ainda chocado, não pensou que tipo de homenagem a Casa irá prestar ao seu maior quadro.
Hamilton estava no hospital para saber das últimas notícias sobre o estado de saúde de Lucineide, quando recebeu a notícia que não queria. “Foi um choque muito grande. Só a doença e a internação já nos preocupavam bastante e estávamos todos tristes. Foi tudo muito rápido, de uma inflamação de garganta ao óbito. É um choque. Não tenho condições de dizer muita coisa”, declarou o presidente.
Profissionalismo e perfeccionismo são as principais características citadas nos depoimentos de colegas de Câmara e de políticos.
O médico Luiz Carlos Noleto a conhecia de perto. Como vereador, foi “instruído” por ela quando ingressou na Câmara sem nenhuma experiência legislativa. Eleito depois vice-prefeito, foi ele quem a indicou ao então prefeito eleito Ildon Marques para que ela conduzisse o cerimonial de posse.
“Ela sabia de tudo. Fez história na Câmara, era prestativa, competente e atenciosa com todos os vereadores. É uma pena, uma tristeza”, disse comovido o ex-vereador e ex-vice-prefeito, que a visitou no hospital da Unimed na noite da última terça-feira, 11 – Lucineide foi transferida do hospital da Unimed para o HC na noite de quinta, 13.
“Admirava a sua competência e seu profissionalismo, sua educação e atenção que dispensava a todos. Estamos todos tristes e surpresos”, complementou a esposa de Luiz Carlos Noleto, a economista Maristéia Noleto.
O ex-presidente da Câmara, Enéas Nunes Rocha, a conhecia desde criança. “Depois, neófito na política, recebi dela os conhecimentos legislativos quando entrei na Câmara”.
Enéas relembrou um episódio para ressaltar a imparcialidade e o profissionalismo de Lucineide no trabalho: “A vereadora Helena (Helena Ayres) estava batendo forte nos colegas da Câmara, quando Lucineide me confidenciou no ouvido para que eu cortasse o microfone de Helena, senão nunca eu teria pulso para comandar a Casa. Foi o que fiz. Depois os ânimos ficaram calmos e fizemos as pazes. Veja que Helena e Lucineide eram grandes amigas e Lucineide sempre foi grande amiga de Ildon. Mas, mesmo assim, ela não deixou seu profissionalismo”.
Enéas era presidente da Câmara no governo de Jomar Fernandes, que havia derrotado Ildon Marques nas urnas. Helena era oposição e grande defensora do ex-prefeito, que quatro anos depois recuperou a Prefeitura, batendo Jomar (PT) e Carlinhos Amorim (PSDB).
O hoje deputado estadual Carlinhos Amorim foi vereador por três mandatos. Ele lembrou de Lucineide: “Uma pessoa querida por todos os vereadores que por aqui passaram e que, com certeza, também seria por aqueles agora eleitos. Uma pessoa bem relacionada, muito eficiente, cumpridora de suas funções. Vai deixar muitas saudades”.
“A lembrança dela vai ser todo dia. Ela era uma enciclopédia”, disse o vereador Raimundo Costa, que conviveu com Lucineide por 20 anos.
É uma perda para Imperatriz, e para a Câmara muito maior ainda”, afirmou.
Raimundo Carvalho, o Polegada, um dos amigos mais próximos, disse que Lucineide “orientou todos os vereadores e presidentes da Casa nesses últimos trinta anos”. “Era leal e verdadeira ao extremo”.
O amigo Robertinho lamentou: “Nos falávamos todos os dias. Ao seu jeito, amava os amigos, as amizades e as defendia sinceramente, mas nunca deixava de falar a verdade”.
Um dos mais emocionados, chorando, sem conseguir falar, o fotógrafo Antonio Pinheiro balançou a cabeça “positivamente”, quando perguntado se havia perdido uma irmã. Trabalhou com Lucineide no primeiro governo de Ildon Marques, se tornaram amigos e a via todos os dias na Câmara, que frequentava para a cobertura diária em seu blog e no jornal em que trabalha. Pinheiro também acenou com a cabeça, desta vez “negativamente”, quando perguntado se estava conseguindo trabalhar. Mas, aos poucos, se recompôs e, profissionalmente, como Lucineide, retomou o trabalho, enviando material para as redações.
Rui Miranda Chaves conviveu com Lucineide durante 30 anos na Câmara. “Sua maior característica era a sinceridade. Sua nobreza era ser uma pessoa que detestava a falsidade”, testemunhou. Rui é o atual presidente do Sindicato dos Servidores da Câmara, que Lucineide ajudou a fundar”. “Foi um choque muito grande para todos nós. Cinco minutos depois de nos reunirmos no Plenário para fazer uma oração pra ela, recebemos a notícia de sua morte”.
O ex-prefeito Ildon Marques a visitou várias vezes no hospital. Inconsolável, triste, recebeu a notícia da morte em sua casa. Até o final da tarde, não havia se manifestado pessoalmente sobre a morte da grande amiga, nem emitido comunicado sobre o caso. (Carlos Gaby)
Publicado em Cidade na Edição Nº 14580
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