* Roberto Wagner

Jornalista dos bons e historiador respeitado, Benedito Buzar mantém, há tempos, no jornal “O Estado do Maranhão”, uma, como não poderia deixar de ser, prestigiosa coluna (“Roda Viva”), um dos pontos altos, sem dúvida alguma, do citado noticioso.
Em sua última edição (6 de dezembro), a coluna traz uma nota, que reproduzo, aqui, na íntegra: “Sentimento do Ódio.“Deus me poupou do sentimento do medo”, esta frase é muito conhecida dos brasileiros. Há dúvida quanto à sua autoria. Há quem ache ser do ex-presidente José Sarney, mas há, também, os que advogam a autoria ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Antes que o assunto seja questionado na Justiça, quanto à titularidade da frase, não custa dar a minha opinião e o faço com base na máxima de “bebe água limpa quem chega primeiro na fonte”. Como Sarney governou o Brasil antes de Fernando Henrique, ao maranhense cabe o direito de propriedade da frase.”
Pois bem. No livro “Os Grandes Pecados da Imprensa” (Geração Editorial, 1ª reimpressão, São Paulo, 2002), o jornalista Sebastião Nery, amparado em farta e confiável documentação, lembra, lá pelas tantas, um célebre discurso com o qual Juscelino Kubitschek, então em campanha presidencial, reagiu à leitura de certo documento, em “A Voz do Brasil”, no dia 27 de janeiro de 1955.
O conteúdo desse documento, francamente intimidador, elaborado, como depois se ficou sabendo, pelo então chefe da Casa Militar da Presidência da República, general Juarez Távora e entregue ao então presidente Café Filho, revoltou Juscelino, que, logo em seguida, como era de seu feitio, deu o troco. Reproduzo, também na íntegra, esse trecho do livro de Sebastião Nery (página 117): “Juscelino respondeu com um discurso duro, escrito por Augusto Frederico Schmidt, que terminava com a frase magistral: “Deus me poupou o sentimento do medo.””
Como em 1955 (quando se deu a inflamada resposta de Juscelino) os ex-presidentes José Sarney e Fernando Henrique Cardoso tinham, respectivamente, 25 e 23 anos de idade e ainda eram figuras desconhecidas no cenário nacional, e como o mencionado discurso de JK está devidamente registrado nos anais da imprensa brasileira, talvez seja o caso, sem qualquer embargo à posição de Buzar, de se atribuir a paternidade dessa frase, embora tenha sido escrita pelo empresário e poeta Augusto Frederico Schmidt (colaborador e amigo íntimo do fundador de Brasília), a Juscelino Kubitschek de Oliveira, que, inclusive pelo seu conhecido destemor, terminou se elegendo presidente da República em 03 de agosto de 1955, tendo João Goulart com vice. Ou desmintamos, com supedâneo em documentos ainda mais confiáveis, o que afirma Sebastião Nery.
 Advogado*