Jurandir Mellado: “Dar mais valor às pequenas coisas”

Reportagem: Dema de Oliveira

Após uma semana do resgate, O PROGRESSO ouviu nessa quarta-feira (18), em entrevista exclusiva, o empresário Jurandir Mellado, pai de Pedro Paulo Lemes Mellado, que foi sequestrado e passou 14 dias nas mãos dos sequestradores.
O empresário Jurandir Mellado falou da agonia vivida pela família nesses 14 dias, do contato com os sequestradores, o pagamento do resgate, a satisfação de ter Pedro Paulo de volta são e salvo e agradeceu principalmente a Deus, a polícia, a imprensa e a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para que esse sequestro tivesse um final feliz.

Confira a entrevista:

O PROGRESSO: Jurandir, após toda essa agonia vivida pela família em função do sequestro de Pedro Paulo e que teve um final feliz, o que ficou?
Jurandir Mellado:
Ficou a sensação de vida nova, dar mais valor às pequenas coisas, desde o convívio com o seu filho, porque muitas vezes a gente deixa esse convívio para trabalhar e o que vale a pena hoje é realmente estar com a família. Dar mais carinho à família e dar para ela toda a atenção que for preciso e que merece.

O PROGRESSO: Logo que iniciou o sequestro, o senhor se encontrava viajando para São Paulo, onde participava de uma feira de apresentação de produtos do ramo de sua empresa. Qual foi a sua reação ao ficar sabendo que tinha ocorrido isso com seu filho?
Jurandir Mellado: Minha primeira reação foi a de voltar, o mais rápido possível. Procurei meios para retornar o mais rápido para Imperatriz e tentar resolver. Eu achava que quanto mais rápido eu chegasse também mais rapidamente teríamos Pedro Paulo de volta. A distância para mim foi a pior parte, porque não poderia agir fisicamente, ou seja, ir atrás, entrar no mato e procurar. Então, procurei retornar a Imperatriz o mais rápido possível.

O PROGRESSO: Em algum momento o senhor imaginou que uma pessoa que já tinha trabalhado em sua empresa e até teve sua ajuda e mesmo não sendo mais funcionário, tinha relação de amizade com sua família, poderia ser o mentor do sequestro?
Jurandir Mellado:
Não imaginava. Mesmo porque a gente não teve nenhum atrito. Procuro não entrar nem em pequenas confusões que sempre acontecem. Nesses casos envolvendo funcionários, prefiro ceder que brigar, isso mesmo quando se tem razão. No primeiro contato que tive com a polícia, foi dito que 99% dos casos de sequestros têm alguém muito próximo e que conhece toda a rotina da família do sequestrado. Mesmo assim, não acreditei que tivesse uma pessoa tão próxima que fosse capaz de fazer isso comigo. Para mim, foi uma surpresa muito grande e realmente o que a polícia suspeitava se concretizou.
O PROGRESSO: Após ser consumado o sequestro, quantos dias os sequestradores passaram para entrar em contato com o senhor?
Jurandir Mellado:
36 horas (um dia e meio). Inicialmente via telefone, onde a conversa foi muito rápida e dizia que tinha um cartão de memória com instruções a serem seguidas em um local próximo a Porto Franco, em direção à cidade de Grajaú. O cartão estava em uma placa que indica a quilometragem.

O PROGRESSO: Como o senhor conseguiu administrar as várias especulações que surgiram praticamente todos os dias a respeito de onde estava Pedro Paulo?
Jurandir Mellado:
Em primeiro momento, a gente acreditou que a operação deles (sequestradores) de captura não tivesse dado certo, já que a polícia agiu muito rápido. Nos primeiros dois dias, a gente pensou que Pedro Paulo estava dentro do mato próximo a Sítio Novo do Tocantins. E foi uma informação errada de uma pessoa que fez acreditar nisso aí. Mas logo depois houve muitas informações e todas eram verificadas em sigilo para que não acontecesse sensacionalismo. As pessoas começam a acreditar naquilo, começam a espalhar e podem até convencer a própria polícia que tudo poderia ser verdade. Outras informações foram investigadas, mas logo no começo foi definido que não tinha nenhum fundamento.

O PROGRESSO: Aquela entrevista coletiva convocada pelo senhor, quando pediu o afastamento da polícia, foi mais uma estratégia?
Jurandir Mellado:
Desde o primeiro momento, acreditei na polícia 100%. Tudo que os policiais me orientavam eu fazia. A entrevista coletiva foi uma estratégia da polícia. Tudo que eu falava tinha um fundamento. Cada frase tinha um fundamento que podia provocar uma reação dos sequestradores. E deu certo. A estratégia funcionou. A polícia agiu com muita inteligência.

O PROGRESSO: Após o pagamento do resgate, quantas horas os sequestradores demoraram para manter contato com o senhor?
Jurandir Mellado:
Depois do pagamento do resgate, demorou 22 horas para um novo contato dizendo onde Pedro Paulo estava. Mesmo assim, esse contato não foi feito por eles (sequestradores). Eles fariam um contato comigo, mas provavelmente desconfiaram de alguma ação da polícia. Quem fez o contato foi uma mulher, para o hotel onde eu me encontrava hospedado em Colinas (TO), inclusive por ordem deles. O resgate foi pago na terça-feira, às 10 horas da noite. Eu fiquei sentado no saguão do hotel o dia todo esperando o contato. A gente não podia falar nada, tinha de manter o sigilo, para que o caso não se espalhasse. Os sequestradores passaram a confiar em mim. Inicialmente, houve um recuo na questão da confiança dos sequestradores, mas depois eles passaram a confiar muito em mim, pois eu segui tudo aquilo que eles determinaram. E a polícia agiu realmente com o coração. Com poucos recursos, eu vi várias vezes eles próprios fazerem “vaquinha” para comprar lanche, papel de computador que estava faltando e tudo mais.

O PROGRESSO: Como o senhor assimilou as mensagens dos sequestradores, principalmente aquelas em tom de ameaças?
Jurandir Mellado:
Veja bem. O Pedro Paulo dependia de mim. Então, mesmo sofrendo todo tipo de ameaça, sem comer e sem dormir, eu tinha de manter-me firme. Só pedia a Deus para me dar força. As pessoas oravam e pude constatar muita força. Se eu fraquejasse ou se eu não segurasse com firmeza, não tinha como sair dessa. A Polícia vai até certo ponto, mas tem hora que todo mundo cansa. Então, graças a Deus, eu tive força para ficar o tempo todo ativo, 24 horas no ar assim, sem fraquejar. Se assim não fosse, poderia dar tudo errado. Inclusive, parentes e amigos passaram mal e tiveram até que ir para o hospital. E essas pessoas que vieram de outras cidades, eu pedi para que elas voltassem. Tive de demonstrar muita força, inclusive para conversar de igual por igual com os sequestradores, sem demonstrar fraqueza. Para eles (sequestradores), era um negócio. Para eles, a vida de Pedro Paulo não valia nada, só valia o dinheiro. Para mim não, valia tudo. Só que eu não poderia deixar transparecer para eles que eu estava frágil, com medo. Eu tinha de conversar no mesmo tom com eles, do início ao fim.

O PROGRESSO: Pedro Paulo fala alguma coisa de como foi a convivência dele com os sequestradores durante esses 14 dias de cativeiro?
Jurandir Mellado:
Fala. Fala sim. No primeiro dia, nos primeiros momentos em que ele já se encontrava comigo, ele falava que os sequestradores compravam DVDs de desenhos para ele assistir, faziam comida que ele gostava, compraram uma chupeta, pois ele tem mais facilidade para dormir com a chupeta. A única coisa que ele reclamou foi que os sequestradores não sabiam como tratar uma criança. Isso foi porque os sequestradores não deixavam ele sair do quarto do cativeiro em nenhum minuto. Foram 14 dias trancado em um quarto e, por isso, ele disse que eles não sabiam como tratar uma criança. Pedro Paulo confirmou que tinha uma mulher cuidando dele. Fazia comida, servia a comida para ele, dava banho. Quando ele me encontrou, a primeira coisa que disse foi para que eu tirasse a barba, porque eu ficava muito feio barbudo.

O PROGRESSO: E hoje, como está o Pedro Paulo?
Jurandir Mellado:
Está bem. Está se comportando como antes. Falando as mesmas coisas, brincando da mesma maneira, as atitudes, comportamento. Eu noto que ele cresceu um pouco, evoluiu um pouquinho da maneira dele ser independente. Por incrível que pareça, ele está até mesmo mais confiante no que ele pode fazer, no que ele é capaz de fazer. Ele foi um guerreiro ao ter aguentado tudo isso e inclusive colaborando. Acredito que ele tenha colaborado com os sequestradores sem chorar, sem gritar, sem reclamar e isso acabou angariando o sentimento deles (sequestradores) para não maltratá-lo. Logo no início do sequestro, foi Pedro Paulo quem ensinou os sequestradores a ligarem o carro e como abrirem o portão da residência.

Considerações finais
Jurandir Mellado, em suas considerações finais, agradeceu a Deus, primeiramente, por ter dado força a ele, toda a sua família e a Pedro Paulo, agradeceu a polícia de um modo geral, Polícias Civil e Militar do Maranhão, Tocantins, Goiás e Pará. Agradeceu o apoio do Governo do Estado, que desde o início não mediu forças para resolver o caso, colocando todo o efetivo disponível na ação policial, inclusive helicópteros e vários policiais da inteligência. Agradeceu também toda a população de Imperatriz e cidades vizinhas e de todo o Brasil, pessoas que mandaram mensagens de conforto durante o sequestro. Por fim, agradeceu as igrejas de Imperatriz, independente de qual seja a religião; foi uma comoção geral e por isso o agradecimento a todos pela força.