A memória do teatro local é resgatada por meio do livro-reportagem Palco Iluminado: histórias do teatro em Imperatriz, da jornalista Kalyne Cunha. A obra faz uma abordagem a arte dramática e suas primeiras manifestações primitivas, como os festejos de Bom Jesus e São Sebastião e o surgimento do teatro como ferramenta de catequese em 1915 pelas freiras missionárias capuchinhas.
De acordo com o estudioso Evaldo Lima, o "livro-reportagem é um meio de veiculação impressa não periódico, mas com grau de amplitude superior ao tratamento costumeiro nos meios de comunicação jornalística periódicos". Ou poderíamos simplificar, caracterizando-o com uma reportagem aprofundada.
A obra é a primeira na cidade a reservar em um único local as mais variadas abordagens sobre a arte teatral na cidade. Nomes como Neném Bragança, Domingos Cezar, Cláudio Marconcine, Zeca Tocantins, Pedro Hanaye, dentre outros, fazem parte da trupe pioneira do teatro. O livro - que possui cinco capítulos: Memórias Lúcidas; Ferreirinha: trupe pioneira; Roda gigante: o teatro de formação e ensino; Os irreverentes: Cia. de teatro Okazajo e Horizonte Distante - retrata a luta dos artistas para a construção de um local adequado, onde pudesse comportar as mais variadas manifestações artísticas.
O primeiro capítulo Memórias Lúcidas é protagonizado por Izabel Moreira Ribeiro, filha de Simplício Moreira e irmã de Renato Cortez Moreira, ambos ex-prefeitos do município, e sua filha Maria Lúcia Ribeiro. Além de mostrar resquícios do teatro primitivo, o momento revela como a Escola Santa Teresinha, por meio das freiras capuchinhas, utilizava o teatro como formação religiosa. A abordagem traz ainda a problemática sobre a questão do terreno do teatro que, segundo Lúcia, nunca fora resolvido.
O segundo capítulo - Ferreirinha: trupe pioneira - revela a luta dos artistas pioneiros para que seja construído um local adequado para a classe artística. O terceiro, Roda gigante: o teatro de formação e ensino, traz em foco o trabalho das companhias teatrais Cia. Ilustre de Teatro, do professor e diretor Pinho Gondinho, e Em Cima da Hora, do maestro Giovane Pietrinni.
O quarto capítulo - Os irreverentes: Cia. De teatro Okazajo, particularmente o que a autora mais gosta - mostra a história de vida do grupo e o preconceito quanto à sexualidade dos seus integrantes. O grupo ganha destaque na voz da jornalista por serem os responsáveis em deixar o teatro em plena atividade, apesar de estar em evidência de forma mais efetiva em meados de 1970 e 1980, quando existiam vários grupos teatrais atuantes na cidade.
No último capítulo, Horizonte Distante, são mostradas ao público novas companhias teatrais e a retórica da luta da exigência de um local adequado para a propagação das mais variadas manifestações artísticas. O foco dessa questão é o prédio abandonado da Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (CAEMA), localizado no bairro da periferia de mesmo nome, Caema. O livro não é apenas um relato sobre a vida dos artistas e da memória do teatro, mas sim mais um grito denunciando a corrupção, a grilagem de terras, pistolagem e o preconceito sexual. A obra finaliza com reivindicações da classe artística e a sociedade em geral por melhores condições de trabalho, como a ampliação e melhoria do atual Ferreira Gullar e a construção de um centro artístico, como mencionado acima.
A escritora Kalyne importou características do jornalismo literário, como composição de um panorama, por meio de depoimentos escritos cronologicamente ao longo de suas 135 páginas. A fala em mosaico possibilitou o resgate da memória da identidade do teatro local, pois muitos artistas já se foram e o Palco Iluminado faz um resgate desses perfis com o objetivo de tornar as lembranças do teatro vivas.
A ideia de escrever um livro surgiu pelo gosto à arte teatral, mas só foi consumada depois de uma conversa com seu mestre, professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) em Imperatriz, Alexandre Maciel, como peça prática do curso de Jornalismo da instituição. Com o produto final, a autora busca recursos para que a importância da memória cultural do teatro seja divulgada e as pessoas possam realmente conhecer o teatro por meio da publicação do seu livro.