Hemerson Pinto
Idealizada com o objetivo de oferecer ao público produtos cultivados sem a presença de agrotóxicos e fertilizantes químicos, a feira itinerante que é realizada dois dias na semana, na Praça de Fátima, perde a principal característica. Segundo uma produtora que aceitou conversar com a nossa reportagem, desde que não fosse identificada, cerca de 4 anos depois de iniciada, a feira oferece apenas 20% de produtos orgânicos.
“A realidade hoje é que atraiu mais pessoas que não estão ligadas às associações nem ao projeto, que não se submeteram ao sacrifício de estar em sala de aula, apenas queriam ganhar o dinheiro e pegam produtos de qualquer lugar, sem ter uma referência do produto, e o consumidor leva como que seja um produto natural”, revela a feirante.
A mulher, que cultiva hortas e vende os produtos naturais na feira, explica que o projeto inicial surgiu de um incentivo do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, SEBRAE, que atraiu parceiros como o Banco do Nordeste, Banco do Brasil, Prefeitura de Imperatriz, entre outros. Os hortifrutigranjeiros da cidade formaram associações, receberam apoio dos parceiros do projeto e participaram de cursos e oficinas com especialistas no cultivo de produtos naturais.
“Aprendemos desde a preparação do solo e dos canteiros. Sabemos que, se houver necessidade da aplicação de algum inseticida, tem de ser defensivo natural. Se for para fortalecer o produto, também tem de ser natural. Isso a gente aprendeu a fazer”, afirma a feirante.
A mesma fonte conta que no início o cliente levava para casa apenas produtos considerados de qualidade, de hortas dos produtores associados ao projeto que originou a feira. “Produtos que levavam benefícios para quem iria consumir. (…) Hoje a feira perdeu a essência, a característica. Temos apenas umas quatro pessoas que são das associações, o restante é de fora, vendem produtos adqueridos de qualquer jeito, enquanto nem produtores são”, denuncia.
Prejuízo - A feirante comenta as dificuldades que a classe organizada enfrenta para continuar ofertando produtos 100% naturais. “Os associados foram estimulados a colocar nas bancas produtos que não são completamente naturais. Então, temos os naturais (de hortas próprias) e os convencionais. No meu caso, eu informo ao cliente o que é natural e o que não é”, garante.
Segundo a produtora, o que ela chama de ‘invasão’ por parte de pessoas que não são produtoras teve início quando a Prefeitura começou a oferecer transportes aos associados, que levavam toda a mercadoria para a praça, em veículos da Secretaria Municipal e Agricultura. “Algumas pessoas começaram a pedir pra ficar no Mercadinho e chegavam na praça com mercadorias compradas lá na feira, e não produzidas por eles. Vendiam pelos mesmos valores dos nossos produtos naturais, sequer a gente podia agregar valor aos nossos. Nos desestimulou”, afirma.
Hoje, segundo nossa informante, os feirantes são responsáveis pelo transporte de seus produtos até a praça, mas a Prefeitura garante a montagem e desmontagem das barracas, além de fiscais que mantêm a ordem no local, mesmo sem evitar a presença de pessoas que não deveriam estar no projeto.
Alternativa – Para não gerar atrito entre associados e não associados ao projeto que deu origem à feira de produtos orgânicos, os membros das associações encontraram uma alternativa. “Estamos tomando providências para trabalhar num espaço que possa passar confiança para o cliente de que a qualidade do que ele está levando pode ser comprovada até na embalagem”. É o anúncio da fundação da Cooperativa de Produção, Industrialização e Comercialização. “Falta apenas o CNPJ, e já vamos abrir um plano de ação para trabalhar em lugar estratégico para que o consumidor visite e adquira um produto 100% natural, sem riscos de estar levando algo diferente. Vamos ter até um selo de garantia que vai na embalagem. Uma organização que não vai facilitar para pessoas que querem apenas ganhar dinheiro”, avisa a fonte de O PROGRESSO.
Dica – A produtora aceitou deixar aqui uma dica aos clientes que vão à feira da Praça de Fátima em busca de produtos 100% naturais. “Entre os não orgânicos podem estar repolho, batatinha, cenoura, pepino, alguns tipos de tomates, pimentão e algumas bananas. Já os orgânicos, produzidos por nós, aqui encontra-se macaxeira, alface, cheiro verde, alguns tipos de couve, jiló, berinjela, quiabo e maxixe”, revela.
A dona de casa Maria Joana conhece bem as dicas e garante que sabe distinguir entre o que é orgânico e o que não é. Ela também afirma conhecer todos os vendedores e sabe quem tem produção e quem compra para revender. “Na verdade, tem alguns produtos que são realmente orgânicos, agora outros que a gente sabe que eles não têm produção aqui. Sei distinguir o que é ou não é orgânico, mas às vezes pergunto, reclamo para aqueles que dizem que plantam e sei que não plantam”.
O feirante José Auri acabou confessando: “Tenho alguns que eu não produzo”. Quando interrogado se ele informa ao cliente quando o mesmo escolhe uma mercadoria que não é orgânica, 100% natural, ele diz: “Se o cliente perguntar...”.
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