Por Mari Marconccine. Edição: Fernando de Aquino

Na entrada já se percebe a diferença. É horário das aulas. As crianças estão na escola, mas o que se ouve é o silêncio. Estamos numa escola bilíngue para surdos, onde a primeira língua que se aprende é a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Esta é utilizada pela maioria dos surdos, que começaram a ser mais valorizados e respeitados a partir da criação da Lei 10436/02, que instituiu Libras como idioma oficial.
A segunda língua é a portuguesa, na sua modalidade escrita. A Escola Municipal Professor Telasco Pereira Filho, única no Maranhão, funciona há um ano em Imperatriz, com dez professores especializados, dois intérpretes de Libras e um instrutor surdo com nível superior em Proficiência em Libras (Prolibras). Estão matriculados 85 alunos.

Espaços especiais - A escola, fisicamente, é como todas as outras, com salas de aulas, pátio para recreação e cantina. Mas, nas salas de aulas limpas, arejadas e visualmente agradáveis, há um número máximo de alunos (apenas cinco) e a disciplina mais importante é ensinada com as mãos. Em cada sala existem placas indicativas de papel onde estão escritos em português e em Libras os nomes dos objetos como lousa, cadeira, janela, mesa, porta, lixo.
Existem também espaços diferenciados, como as salas de recursos e a de danças, para que os surdos desenvolvam com mais facilidade suas habilidades. A sala de recursos é climatizada e ampla. Possui televisão, computador e um cantinho de leitura, onde os alunos recebem reforço escolar e tiram dúvidas dos conteúdos, no contraturno. A sala de danças é também bastante frequentada. A dança é um dos processos terapêuticos e se destaca como fator de inclusão. Quando fala sobre sua capacidade de dançar, os olhos de Bianca Carvalho, 19 anos, brilham de uma forma especial: "Nós não podemos ouvir, mas sentimos a música através da vibração do som no corpo. Também melhoramos a nossa autoestima e o relacionamento com as outras pessoas".

Aprendizagem - A professora de Libras, Rayanne da Silva Alencar, também é surda e, sentada em frente às crianças, gesticula, ditando palavras em Libras, que são traduzidas e escritas pelos alunos na língua portuguesa. É o processo de alfabetização dos portadores de surdez para que possam se comunicar e serem incluídos em escolas regulares: "Ter a mesma condição dos meus alunos nos aproxima mais. Tenho mais facilidade para ensinar porque sei das dificuldades que eles têm. Sou vista como um exemplo e isso me deixa ainda mais feliz".
Os olhares atentos das crianças não perdem um gesto da professora. De vez em quando, um aluno faz um som gutural, meio rouco e alto, para chamar a atenção para si. Eles são divididos por faixa etária e, além de Libras e português, também aprendem matemática, ciências, geografia e história. Gabriel da Silva Nascimento, de oito anos, é um dos exemplos de superação e desempenho. Aprendeu a ler através de Libras antes mesmo de completar um ano na escola.
A escola bilíngue prepara os surdos para o ensino regular desde a educação infantil até o 5° ano. Além dos alunos matriculados, há também um atendimento especializado para os surdos do ensino fundamental maior, ensino médio e ensino superior, provenientes de outras escolas.