*Roberto Wagner
Curitiba, tarde de 13 de setembro último. O ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva novamente ali comparecia para prestar depoimento perante o juiz Sergio Moro. Desta vez, a acusação diz respeito à compra de um terreno onde seria construída a nova sede do Instituto Lula, na cidade de São Paulo e de um apartamento vizinho ao que ele mora, em São Bernardo. À frente dessas compras, segundo a denúncia do Ministério Público Federal, estaria a construtora Norberto Odebrecht.
A certa altura do depoimento, ao responder a uma pergunta formulada por uma procuradora da República, Lula a tratou, aparentemente sem ironia ou coisa que o valha, com a expressão ‘querida’; incomodada, a procuradora lhe pediu que não voltasse a chamá-la por tal nome. Intervindo, Moro pediu a Lula que, doravante, quando se referisse a ela, usasse um ‘tratamento protocolar’, sugerindo as expressões ‘doutora’ e ‘senhora procuradora’. O pequeno incidente terminou por ali.
Antes que eu me esqueça, o nome dessa procuradora é Cristina Groba Vieira. A propósito, um vídeo disponível na internet mostra-a, ao lado de alguns colegas, incitando a população a se posicionar contra o Senado, vídeo esse gravado antes da votação de um projeto que, no entender deles, enfraqueceria a instituição que representam.
Pois bem, acusado de um sem-número de crimes, que vão de corrupção passiva a organização criminosa, Lula, cuja folclórica maneira de falar já não mais deveria surpreender ninguém, deve ter pensado: ‘Será se também é crime chamar alguém de ‘querida’?
É claro que, em uma audiência judicial, hão de ser observadas, para o devido recato da solenidade e do recinto, certas regras protocolares, não sendo adequado, em tal oportunidade, que o acusado, seja ele quem for, se dirija a quem esteja presente com expressões desrespeitosas, depreciativas ou que revelem preconceito. A palavra ’querida’, com absoluta certeza, não se encaixa nesse perfil.
Para encurtar a conversa, a ilustre procuradora terminou mesmo foi protagonizando um show de súbito estrelismo e de desmedida arrogância, ao exigir tratamento à altura do honroso cargo que ocupa, até porque a expressão ‘querida’, com a qual, por sinal, Lula trata, sem qualquer traço de ofensa ou escárnio, a própria ex-presidente Dilma Rousseff, denota, por parte de quem a utiliza, um certo carinho e respeito em relação à pessoa a quem é dirigida.
Supõe-se que a procuradora em foco, instantaneamente catapultada ao patamar da sagrada fama de 15 (quinze) minutos, decerto que sonha com a possibilidade de um dia, por motivos realmente nobres, atrair os holofotes da autêntica e verdadeira glória, que, por enquanto, está longe de ter. Recomenda-se, para que chegue até lá, que comece por cultivar a humildade. Aliás, é exatamente isso que diz um velho e sábio provérbio árabe: “A humildade é a rede com a qual se pesca a glória”.
Este artigo é dedicado à jovem advogada Rayza Rafaella Lima de Menezes, cuja glória, quando chegar, e um dia chegará com abundância e méritos de sobra, o terá sido por exclusiva obra e arte de sua competência e humildade.
Até a próxima.
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