Igreja de Santa Teresa d’Ávila
A tradicional procissão reúne milhares de fiéis
Padre Raimundo Nonato, pároco da Igreja de Santa Teresa

Geovana Carvalho

Encerra-se hoje o 159º festejo em honra a Santa Teresa d’Ávila. Após dez dias de intensa programação, as comemorações em torno da padroeira de Imperatriz chegam ao fim com a tradicional procissão.
Padre Raimundo Nonato, pároco da Igreja de Santa Teresa, diz que para a procissão são esperadas mais de 15 mil pessoas. O padre afirma que todos os anos fiéis de outras partes do país vêm à cidade para pagar promessas e participar dos festejos. “Vêm pessoas de Goiânia, do Pará, do interior do Maranhão... Algumas moravam em Imperatriz [e foram morar em outros lugares ], outras vêm para pagar promessas, são devotos de Santa Teresa”, comenta o padre.
Com o tema “Vivenciando os ensinamentos de Santa Teresa”, o festejo deste ano teve por objetivo aprofundar, nos momentos de celebrações, sobre a missão do batizado, que é estar a serviço da Igreja e do Reino de Deus.
A arrecadação do festejo será aplicada na conservação e manutenção das dependências da paróquia; na formação integral e permanente das lideranças e agentes de pastoral das comunidades e também na reforma do salão paroquial.
Às 10h, se dará o translado do andor de Santa Teresa para o Náutico Clube. A procissão pelas águas terá início às 17h30. O trajeto da procissão terrestre iniciará pela rua Luís Domingues, seguirá à Godofredo Viana, passando pela 13 de Maio até a avenida Frei Manoel Procópio, e seguirá à matriz. Por volta das 19h, haverá a última missa do festejo, presidida por Dom Gilberto Pastana e concelebrada por todos os padres de Imperatriz.

A padroeira de Imperatriz

Até o dia 12 de junho de 1852, apenas 34 dias antes da chegada de Frei Manoel Procópio, estas terras do sudoeste maranhense, desde o atual município de Campestre, até o rio Gurupi, eram território paraense. Mas nem o frade carmelita fundador de Imperatriz nem o governo do Maranhão sabiam disso ainda.
Essa região era denominada pelos colonizadores do sul do Maranhão de Matas Gerais, território em que eles não se atreviam a entrar, porque eram protegidas e defendidas por dois povos indígenas da grande nação Timbira, muito temidos: os Gavião e os Krikati, que dominavam as margens e os sertões próximos ao rio Tocantins até a confluência com o rio Araguaia. Durante 40 anos, esses povos indígenas derrotaram as expedições de bandeirantes e soldados que quiseram exterminá-los e ocupar suas terras.
Nem mesmo os experientes navegadores do rio Tocantins, que faziam viagens de comércio entre Goiás e Belém, se atreviam a navegar pela margem esquerda quando viajavam subindo o rio nesta região. Isso é o que testemunha em seu relatório de viagem o conde Francis Castelnau, um europeu que por aqui passou em 1844 comandando uma expedição científica.
Nesse mesmo ano de 1844, o governo da Província do Pará decidiu constituir cinco expedições para criar, nos muitos rios do seu território, colônias militares e aldeamento indígenas para acelerar a ocupação e dar suporte às navegações. Uma dessas expedições subiria o rio Tocantins, com a missão de aldear os índios do então chamado Alto Tocantins, nas proximidades das cachoeiras de Itaboca, lugar onde fica hoje a hidrelétrica de Tucuruí. Nessa mesma resolução, ficou decidido que a povoação a ser fundada pela expedição do Alto Tocantins se chamaria “Santa Teresa”.
Vê-se, então, que não foi Frei Manoel Procópio quem deu o nome nem estabeleceu a devoção dos habitantes da nova povoação a Santa Teresa de Ávila. Isso já estava previamente determinado.
Por falta de missionários experientes em missões indígenas, a expedição do Alto Tocantins somente foi iniciada em 1849, cinco anos depois de definida. O presidente da Província do Pará, Jerônimo Francisco Coelho, recorreu ao bispo de Pará e este ao bispo da Bahia, para que se buscasse um sacerdote experiente na lida com os indígenas. O indicado foi Frei Manoel Procópio do Coração de Maria, um jovem sacerdote carmelita, de pouco mais de trinta anos, que vivia num convento da Bahia.
Chegando a Belém, Frei Manoel Procópio foi nomeado capelão da expedição do Alto Tocantins, contratado e pago com recursos do Tesouro do Pará. O comando era do tenente-coronel reformado Ayres Carneiro, um respeitado militar. A expedição partiu de Belém em junho de 1849. Dela faziam parte onze embarcações e quase duzentas pessoas no total, entre comandantes, tripulantes e famílias de colonos.
Em pleno verão, quando o rio apresentava suas belas praias, a expedição chegou ao Remansão, localidade logo abaixo das grandes corredeiras das cachoeiras de Itaboca, lugar previamente determinado para a fundação da colônia militar e aldeamento indígena. Ali se estabeleceram os colonos e frei Manoel Procópio começou os contatos com os indígenas. Ficou fundada aí a Colônia Militar de Santa Teresa, como determinara o governo do Pará.
Poucos meses depois, em dezembro, chegou um forte inverno. O rio Tocantins encobriu as belezas de suas margens, trazendo muitas febres. Quase a metade dos colonos morreu de febres. Os sobreviventes foram levados de volta para Belém. A colônia se desfez, mas Frei Manoel Procópio não desistiu: continuou sua missão. Com alguns soldados e poucas famílias de colonos, subiu ainda mais o rio e estabeleceu-se em São João do Araguaia, no encontro das águas dos rios Tocantins e Araguaia.
Sediado em São João do Araguaia, Frei Manoel Procópio iniciou contatos com os índios Apinagé, ocupantes da margem esquerda do rio Tocantins. Conseguiu aldear esses índios por cerca de um ano, em meses de 1950 e 1951, nas margens do rio Tocantins, mas logo depois os indígenas se desentenderam com ele e voltaram para as matas. Certamente nesse lugar, mesmo que em território aparentemente goiano, o frade tentava refundar a colônia militar de Santa Teresa, da qual fora incumbido.
Havendo desistido de aldear os Apinagé, Frei Manoel Procópio iniciou contatos com os temidos Gavião e Krikati, mais conhecidos na época como Caracatigês, que habitavam na margem direita do Tocantins, acima da confluência do Araguaia, ainda território paraense — o território do Pará ia até o Seco do Curuá, defronte à hoje cidade de Campestre do Maranhão. Sabia-se que os indígenas dessa área – gavião e krikati – eram arredios e defendiam ferozmente suas terras, além de terem derrotado várias expedições de bandeirantes colonizadores desde o começo do século XIX, por isso eram muito temidos.
Alheio a tudo isso, o jovem frade carmelita embrenhou-se nas matas e visitou, primeiramente, as aldeias dos índios Gavião. Convenceu-os de que seria melhor viver em paz, aldeados, que morrer nos enfrentamentos com os bandeirantes. Assim, conseguiu o frade aldear 800 índios Gavião no lugar então chamado de Campo dos Frades, nas margens do rio Tocantins, hoje povoado Frades, no município de Cidelândia.
Depois disso, visitou cada uma das aldeias dos índios Krikati, nos sertões, e também convenceu-os a aldearem-se. Estes, porém, não concordaram em ficar num só aldeamento, mas em dois, ambos nas margens do Tocantins, embora não muito distantes uma da outra. Um aldeamento Krikati ficou, então, próximo à embocadura do rio Cacau e o outro da confluência do então chamado rio Embira Branca, que se supõe ser o rio Barra Grande.
Estabelecidos esses aldeamentos, Frei Manoel Procópio resolveu deixar São João do Araguaia e finalmente refundar a colônia de Santa Teresa, missão que abraçara três anos antes e, sob a proteção de Virgem de Ávila, se dedicara sem temor e sem tréguas. Não seria mais uma colônia militar, como pretendera o governo do Pará, mas uma povoação para dar suporte e guarida aos navegadores do rio Tocantins, que até então percorriam centenas de léguas sem qualquer lugar de pouso ou acolhimento.
Acompanhado então de dois soldados e duas famílias de colonos que com ele viviam em São João do Araguaia, e levando consigo a imagem da santa de Ávila, que desde sua partida mantinha como patrona da missão, Frei Manoel Procópio subiu o rio e estabeleceu-se entre os dois aldeamentos dos Krikati, a partir de onde melhor poderia acompanhá-los e promover sua catequese. O dia de sua chegada foi o 16 de julho de 1852, que hoje se completam 159 anos.
Estava assim fundada a missão de Santa Teresa d’Ávila, que no começo passou a ser denominada oficialmente pelo governo do Pará de Povoação de Santa Teresa do Tocantins, e depois passou a se chamar Vila Nova da Imperatriz e, por fim, Imperatriz. Passaram-se mais de dois anos para que o governo do Maranhão tomasse conhecimento da fundação de Santa Teresa.
O governo do Pará rescindiu o contrato com Frei Manoel Procópio dois anos depois de ter sido fundada a povoação. Mesmo assim, o frade carmelita resolveu permanecer na vila, onde viveu durante dez anos, protegendo, defendendo e catequizando os índios, estimulando famílias a se estabelecerem na região e promovendo o desenvolvimento da nova povoação.
Assim, pela Providência Divina, aqui floresceu a povoação de Santa Teresa, fruto do amor, do trabalho, da ousadia, da determinação e da persistência do jovem frade carmelita Manoel Procópio do Coração de Maria, um baiano que como muitos outros migrantes nordestinos e outras pessoas de todas as regiões brasileiras, para cá vieram buscar abrigo e prosperidade sob o patronato da Virgem de Ávila.

Adalberto Franklin