Elson Araújo

O nosso  “campo de visão” com o tempo, se exercitado, é claro, amplia. O mundo passa a ser visto por ângulos distintos. Observamos mais, pensamos mais. A visão do ontem  começa a ser reavaliada,  e a visão do hoje automaticamente termina por melhorar. E não é só a ampliação da visão do mundo, não. Arrisco-me a dizer que melhoramos muito com a maturidade. 

Semana passada,  não descobri  ainda o porquê, me dei um flagra refletindo sobre  os tantos caminhos e descaminhos que nos faz alçar a essa  maturidade, e de tanto pensar acabei por fazer uma viagem  no tempo. Fui longe e gostei do déjavu.

E não é que é legal viajar no tempo?   Revi amigos, as brincadeiras e peraltices da infância; aquela vez que cuspi,  zangado,  na saia da professora e,  daquele dia que perguntei a ela, e fiquei sem resposta,  quem era o pai de Deus. Acredito que eu, e todos os outros humanos partirão sem  obter essa resposta que a professora, quase que engasgada, não soube me responder.

Viajar no tempo, recompor memórias  é  muito legal mesmo.  Descobri que faz bem pra saúde  com uma ressalva de que seja pra reviver boas  recordações,  o  contrário   faz um  grande mal.

De volta  a esse fenômeno natural a que chamamos de maturidade. Embora  saibamos que seja um estágio intermediário para o  fim corporal,  se a gente perceber bem,  é pura magia;   trata-se de um estágio mágico da vida, sobretudo,  quando a gente faz aquelas paradas obrigatórias, como um dia me disse um pastor evangélico.

“Nessa fase  são necessárias algumas paradas obrigatórias para que haja os consertos necessários e a gente possa seguir adiante”, me ensinou o velho pastor.
Outro encontro  bacana foi  esse com o pastor, durante  minha viagem no tempo.

Pensei  e tentei encontrar uma maneira de exemplificar o que seria essa “santa maturidade”.

Na minha mente surgiu  uma lagarta rastejando bem devagar. O bicho  via tudo por um único ângulo;  passava por cima de  pau  e pedra,  se machucava, e nem sentia dor. Feria também e nem percebia. 

Medo?  Não existia.  Havia naquela  lagarta  um sentimento de infalibilidade.  

Num determinado momento, obedecendo ao comando natural da  existência, a lagarta parou e se recolheu por um determinado tempo num casulo. Parada obrigatória para um processo de transformação ou   não já que por motivos alheios à sua vontade    esse   processo certamente correria  risco de ser interrompido.

Com a graça  de a lagarta  ter  ultrapassado aquela  fase, agora sim,  surgia uma bela  e colorida borboleta. 

A lagarta se transformou, criou asas e voou, passou a ver  o mundo lá do alto. Descobriu, de repente, que as pedras continuavam   lá,  mas que  no meio delas  era possível enxergar  o verde que não  via antes   e uma enorme  variedade de  flores. 

Agora  com as asas, se quisesse,  a ex-lagarta  poderia  ir mais longe, ir a lugares antes  inimagináveis e  escolher  pousar nas   flores mais belas.