Geovana Carvalho
Aos poucos ela monta a pequena banca. Uma mesinha coberta com toalha, um guarda-sol, uma vasilha de água com sal onde mergulha o milho verde.
Dona Maria Rodrigues, piauiense que mora e trabalha em Imperatriz desde 1976, há quatro anos vende milho no cruzamento das ruas Luís Domingues com Simplício Moreira, na calçada da Fundação Cultural. Em 1972, ainda criança, ela saiu de Floriano- PI com destino a Colinas-GO. Na cidade goiana, ficou por anos. Veio para Imperatriz e desde que chegou mora no mesmo endereço: rua São Domingo, bairro Beira-Rio. Dona Maria fala das dificuldades que viveu na antiga Beira-Rio. “Lá só tinha uma casinha e a minha. A Beira-Rio era só a buraqueira, as pessoas tiravam barro para olaria. A rua era só um caminhozinho. Não tinha energia nem água, a gente usava era um poço. Eu pescava no rio Tocantins, naquela época era bom de pescar, tinha mais mata na margem, hoje não tem, tá tudo capinado por causa dos barcos. Eu banhava no rio, naquele tempo a água era limpa. Limpa assim... hoje ainda é limpa, mas naquele tempo não tinha esse monte de esgoto para dentro dele... hoje eu só não banho porque os meninos querem ir também, mas eu tenho medo”.
Dona Maria conta que por muitas vezes o rio a expulsou de casa: “Todo ano a gente saía de casa, ele botava era para sair. Depois que fizeram a Avenida [Beira-Rio], não encheu mais. Hoje lá é cheio de casa. A rua é asfaltada, tem energia, tem água [encanada]”.
A vendedora de milho fala que, em 1997, foi embora de Imperatriz, mas resolveu voltar: “A gente foi para Buriticupu, meu marido arrumou um terreno lá e a gente foi morar na roça, mas não tinha escola. Aí a gente voltou para Imperatriz. Os meninos são uma escadinha: o mais velho tem vinte anos e o mais novo tem dez. Eles quando chegam da escola vêm me ajudar, vendo trinta espigas cozidas”, diz ela, acendendo o fogo no fogão improvisado, onde vai assar algumas espigas: “Assada é só cinco ou seis [espigas por dia]. Tenho milho o ano todo, é de roça de irrigação, meu cunhado que me arruma, aí tem todo tempo”.
Comentários