“Tinha um vizinho que dizia: quem se mudar de 1950 pra frente vai ficar doido”. Natalino Lopes de Melo, 76 anos, mesmo acreditando nos dizeres do vizinho, resolveu mudar de sua cidade natal, Graça Aranha, e depois de tentar estabelecer morada em vários municípios do Maranhão, decidiu que iria fixar-se em Imperatriz.
Em 1973, Seu Natalino e a mulher Maria Rodrigues, 71 anos, saíram de Graça Aranha em busca de uma vida melhor. Chegando em Barra do Corda, conta dona Maria, após sete anos de sofrimento resolveram mudar novamente.
De lá seguiram até Arame. Dona Maria lembra que tinha muito medo de morar naquela cidade: “O pessoal de lá vivia com duas armas, uma de cada lado. Eu disse: meu Deus, eu não vou criar meus filhos aqui não, fiquei lá só uns dias e a gente veio pra cá”.
Dona Maria relata as dificuldades da viagem: “Foram oito dias de viagem, num pau-de-arara. Eu tava grávida, quase pra ganhar. E não tinha estrada, era só água, porque tava no inverno. Toda vez que passava por dentro de um riacho eu descia, com um buchão, e o povo ficava com pena de mim.”
A família veio para Imperatriz, sem destino certo. Não tinham onde morar. “A gente, no caminho, encontrou um primo do Natalino e ele disse que tinha uma casa aqui, e emprestou para nós. Deus não desampara”, diz dona Maria.
Quando a gente chegou aqui, a casa que a gente ia morar ficava no Maranhão Novo. Naquele tempo lá era só mato, só tinha chácara, a casa que eu tava também era uma. E o Natalino aprendeu fazer vaso de cimento. Eu botei tudo quanto era menino pra vender na rua”.
“Depois, a gente foi morar na Rio Grande, por uns cinco meses. Lá tinha energia, mas água não tinha, era poço que a gente usava. Lá tinha só um pouco de casa, o resto era só mato. Aí a gente foi morar na Piauí, de aluguel, lá também era bem fraquinho, não tinha quase comércio, tinha muito mato. Na Nova Imperatriz só tinha a Bernardo Sayão, as outras eram só vareda”, descreve dona Maria. Segundo ela, passou muitas dificuldades, até comprar a casa em que mora hoje, no bairro Santa Rita: “Comprei essa casa, na Padre Cícero, tava cansada de morar de aluguel, ninguém queria alugar mais casa pra quem tinha menino, e eu tinha nove. A casa era ruim, mas fui construindo de pouquinho”.
Hoje, lembra com orgulho que criou todos os filhos com muito trabalho e os frutos da educação dada a eles ela garante que está recebendo. “Eles me ajudam muito, agora. A maioria mora em Brasília, mas sempre me ajudam”.
Mesmo na casa própria, as dificuldades continuaram, pois a família tinha medo de morar no bairro. “Aqui era muito violento, tinha tiroteio toda noite, tinha um monte de bar, hoje ainda tem coisa assim, mas não era como antes”, comenta.
Seu Natalino diz que em Graça Aranha ninguém dava boas notícias de Imperatriz, mas ele tinha vontade de morar aqui. “Tinha um mendigo que recebia esmolas e dizia: Deus te livre do mau vizinho e de passar perto de Imperatriz...”. Aos risos, ele completa: “Gosto muito daqui, adoro Imperatriz, daqui não saio para lugar nenhum”.
Publicado em Cidade na Edição Nº 14260
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