Rotina de Zé Luiz para concluir o ensino superior

Pessoas com deficiência física enfrentam, diariamente, grandes dificuldades em Imperatriz. A principal delas é a locomoção. Outra insegurança é quanto à inclusão social e no mercado de trabalho, que tem sido uma das principais tarefas de associações que assistem pessoas com algum tipo de deficiência. Pessoas que, mesmo diante de tantas barreiras, vêm mostrando que são capazes de ter uma vida normal.
José Luiz da Silva é deficiente físico, anda numa cadeira de rodas e está concluindo o curso de Comunicação Social – Jornalismo na Universidade Federal do Maranhão (UFMA) de Imperatriz. Zé Luiz, como é chamado pelos colegas de curso, tem uma interessante história de superação. Com um ano e meio de idade, teve paralisia infantil e, desde então, contou com a ajuda dos familiares e amigos para estudar, brincar e ter uma vida social. Depois que entrou na faculdade, sua rotina mudou completamente, mas nunca desistiu ou trancou o curso. “Meu grande objetivo é me formar”, diz ele com propriedade.
Uma das dificuldades é a locomoção de ida e volta de casa para a UFMA. Ele mora no Assentamento Califórnia, que fica a 14 km da cidade de Açailândia. Para estudar, Zé Luiz pega, de segunda a sexta, um táxi-lotação até a rodoviária de Açailândia; de lá, pega ônibus até a rodoviária de Imperatriz e, então, vai de coletivo até a faculdade. Ao todo, essa viagem demora 2h30min.
Zé Luiz já passou por várias situações de constrangimento. Certa vez, chegou a cair dentro do ônibus. “Os ônibus de Imperatriz não são preparados para atender ao cadeirante. Somente duas empresas na cidade têm ônibus adaptados e os equipamentos, pelo menos nas vezes em que utilizei, não funcionavam”, desabafa. Para ele, esse é um dos principais motivos das pessoas com deficiência física não saírem de casa e ficarem isoladas.
O Decreto Federal 5.296/04 diz que “A infraestrutura de transporte coletivo a ser implantada deverá ser acessível e estar disponível para ser operada de forma a garantir o seu uso por pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida”. O decreto também afirma que: “Os responsáveis pelos terminais, estações, pontos de parada e os veículos, no âmbito de suas competências, assegurarão espaços para atendimento, assentos preferenciais e meios de acesso devidamente sinalizados para o uso das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida”.
Carlos Eduardo Nascimento, que também é estudante da UFMA, concorda que Imperatriz ainda precisa melhorar, mas afirma que a cidade mudou bastante. “Hoje em dia, ao se construir um shopping ou supermercado na cidade, por exemplo, já se pensa na acessibilidade. A maioria tem rampas, elevador próprio e banheiros adaptados”. Carlos pretende concluir o ensino superior, mas teme que o mercado não dê oportunidades para o exercício da sua profissão.
O estudante de Pedagogia da UFMA, João Faustino, realiza pesquisa sobre o assunto. “A inclusão do deficiente físico no âmbito escolar representa não somente a colocação do indivíduo em salas de aula, mas sim uma mudança de conceitos, programas, política e apoio oferecido aos deficientes”, afirma. As adaptações no ambiente físico da escola devem ser feitas para que o deficiente físico seja acolhido e encorajado a ser autônomo. Ao adquirir certa maturidade educacional o deficiente, de acordo com a Conferência Internacional do Trabalho, está possibilitado à inclusão no mercado de trabalho.

O que comemorar?

Para o vice-presidente do Centro de Assistência Profissionalizante ao Amputado e Deficiente Físico de Imperatriz (CENAPA), Marcos André Alves, pouco se tem para comemorar em Imperatriz no Dia do Deficiente Físico. “Na cidade, o apoio ao deficiente existe de forma muito tímida. Temos grandes dificuldades de locomoção, pois as calçadas são desiguais e as autoridades parecem não olhar para nós”, coloca.
Para Marcos, uma das poucas conquistas é o espaço do deficiente nos eventos culturais. Outro motivo de comemoração é o time de basquete formado por cadeirantes. A instituição vem se destacando no esporte e agora se prepara para disputar o torneio Regional Nordeste de cadeira de rodas, em Recife.
O CENAPA, fundado no ano de 1999, é uma organização não governamental que promove a reintegração do deficiente físico e/ou amputado à vida social, proporcionando uma melhor qualidade de vida aos membros da instituição que possui 215 associados e, desde a sua fundação, vem trabalhando na integração de alguns membros no mercado de trabalho, construções de rampas, esportes, lazer e cultura.
No mundo, 600 milhões de pessoas possuem algum tipo de deficiência. Na América Latina, este número ultrapassa 85 milhões de pessoas, sendo que, segundo dados do Banco Mundial, 82,5% desta população vivem abaixo da linha da pobreza. Já o Brasil, de acordo com o último Censo, possui 24,6 milhões de pessoas com alguma deficiência e no Maranhão esse número chega a mais de 900 mil, correspondendo a 16,13% da população. (Por: Douglas Aguiar, Leonardo Barros, Rozany Ribeiro)