O que causa a morte nos seres humanos é o esgotamento dos órgãos porque só existe morte em relação ou invólucro físico. Aliás, o senso da imortalidade é parte integrante do nosso ser, estando presente nas crenças de praticamente todos os povos desde as mais longínquas eras. 
A vida espiritual é a verdadeira vida, é a vida normal do Espírito, pois que a existência terrena é transitória e passageira. O corpo é apenas uma grosseira vestimenta a revestir temporariamente o Espírito. O respeito que se tem pelos mortos não se tributa à matéria, mas ao Espírito ausente, em virtude da saudade. Isto é análogo ao que se guarda pelos objetos que lhe pertenceram e que se conservam como relíquias. Nada que pertenciam ao corpo, são levados. Somente se levam os atributos da alma, isto é, as boas e as más qualidades.
O culto aos mortos, precisamente àqueles que se encontravam no purgatório, à espera do dia do julgamento final, foi estabelecido inicialmente por Odilon, Abade de Cluny, da Ordem dos Beneditinos, no final do século X e, em seguida, decretado pela Igreja de Roma com o nome de Finados, a ser comemorado no dia 2 de novembro de cada ano, logo após o dia de Todos os Santos. 
A experiência de perda de um ente querido, para a criança, repercute fundamente em seu psiquismo dos 2 aos 12 anos. Não convém usar certos eufemismos como, por exemplo, “o titio foi para o céu”, etc., do contrário a criança irá ficar esperando que ele volte e pode acabar ficando com raiva, pois ele não se despediu dela, não telefona, não passa e-mail, etc. Deixar claro para a criança que todos nós iremos viver em outro plano, um dia, mas que nosso reencontro está garantido – mesmo que isso demore um pouco devido os desajustes que as pessoas atraem para si – se essa for à vontade de Deus. Não a morte: há renovação cíclica em todos os Reinos da Natureza.
A propósito, transcrevemos um texto de Richard Simonett incluso no livro Quem tem medo da morte? Com o título de:
JÓIAS DEVOLVIDAS 
Oportuno recordar antiga história oriental sobre um rabi, pregador religioso judeu que vivia muito feliz com sua virtuosa esposa e dois filhos admiráveis, rapazes inteligentes e ativos, amorosos e disciplinados.
Por força de suas atividades, certa vez o rabi ausentou-se por vários dias, em longa viagem. Nesse ínterim, um grave acidente provocou a morte dos dois moços.
Podemos imaginar a dor daquela mãe! ...  Não obstante era uma mulher forte.  Apoiada na fé e na inabalável confiança em Deus suportou valorosamente o impacto. Sua preocupação era o marido. Como transmitir-lhe a terrível notícia?!... Temia que uma comoção forte tivesse funestas conseqüências, porquanto ele era portador de rigorosa insuficiência cardíaca. Orou muito, implorando a Deus uma inspiração. O Senhor não a deixou sem resposta...
Passados alguns dias o rabi retornou ao lar. Chegou à tarde, cansado após longa viagem, mas muito feliz. Abraçou carinhosamente a esposa e foi logo perguntando pelos filhos...
- Não se preocupe meu querido. Eles virão depois. Vá banhar-se, enquanto preparo o lanche.
Pouco depois, sentados à mesa permutavam comentários do cotidiano, naquele doce enlevo de cônjuges amorosos, após breve separação.
- E os meninos? Estão demorando!...
- Deixe os filhos... Quero que você me ajude a resolver grave problema...
- O que aconteceu? Notei que você está abatida!... Fale! Resolveremos juntos com a ajuda de Deus!... 
- Quando você viajou, um amigo nosso procurou- me e confiou à minha guarda duas jóias de incalculável valor. São extraordinariamente preciosas! Nunca vi nada igual! O problema é esse: ele vem buscá-las e não estou com disposição para efetuar a devolução.
- Que é isso mulher! Estou estranhando seu comportamento! Você nunca cultivou vaidades!...
- É que jamais vira jóias assim. São divinas, maravilhosas!...
- Mas não lhe pertencem...
- Não consigo aceitar a perspectiva de perdê-las!...
- Ninguém perde o que não possui. Retê-las equivaleria a roubo!
- Ajude-me!...
- Claro que o farei. Iremos juntos devolvê-las, hoje mesmo!  
- Pois bem, meu querido, seja feita sua vontade. O tesouro será devolvido. Na verdade isso já foi feito. As jóias eram nossos filhos. Deus, que no-los concedeu por empréstimo, à nossa guarda, veio buscá-los!... 
O rabi compreendeu a mensagem e, embora experimentando a angústia que aquela separação lhe impunha, superou reações mais fortes, passíveis de prejudicá-lo.
Marido e mulher abraçaram-se emocionados, misturando lágrimas, que se derramavam por suas faces mansamente, sem burburinhos de revoltas ou desespero, e pronunciaram, em uníssono, as santas palavras de Jó:
“Deus deu, Deus tirou. Bendito seja o Seu Santo Nome.”

Maria Helena Ventura Oliveira
Membro da Academia Imperatrizense de Letras 
Cadeira Nº24