Raimundo Primeiro

Certamente, os deuses não trariam uma quinta-feira normal. Na data em que se comemora o Dia do Poeta, escritor, que, por meio de suas obras, enfatiza as emoções, dando vida a cousas e causas; olhando de forma adversa, com a visão de quem nasceu inspirado para iluminar até mesmo os fatos corriqueiros do cotidiano; seja no campo, na cidade, na metrópole e, em futuro breve, nas megalópoles, as capitais de um mundo que já começa a ser vislumbrado, Imperatriz, sem dúvida, amanheceria com um poético e chuvoso dia, hoje.
Chuva que começou pequena, com os pingos molhando vagarosamente, entretanto marcante no solo da princesa do Tocantins; da terra, cujo rio encanta e faz cantar quem a visita, nem que seja por apenas algumas horas. E o clima continua ameno, com a chuva, permita-me a redundância, “chovendo sem parar”. As avenidas, as ruas e, principalmente, as calçadas da Imperatriz do Maranhão estão molhadas. O dia nascera, incontestavelmente, diferente.
Sem dúvida, uma das formas mais conhecidas e antigas, a poesia tem um forte liame com a música. Vários poetas são músicos. Quando não, contribuem decisivamente com a música, escrevendo letras que “rasgam” séculos e ficam marcadas nas mentes das pessoas, sejam por aspectos históricos ou pessoais. São vários os poetas que já escreveram e declamaram sobre Imperatriz, sob as mais diversas formas. Desde os primórdios, a cidade teve o privilégio de receber elogios por meio de versos e, logo em seguida, vozes marcantes, dando mais brilho e magia às palavras que dela falavam e, obviamente, ainda mencionam-na. Descrevem-na sob visões que se confundem com a sua gente, um povo, sem dúvida, altaneiro, desbravador. E, sobretudo, receptivo.
Mesmo a poesia sendo escrita de formas distintas: narrativa, lírica e dramática, os autores do município fundado por Frei Manoel Procópio do Coração de Maria continuam retratando fielmente a Imperatriz que cresce e enche de júbilo as pessoas que para cá vêm. Muitos dos pioneiros vieram à procura de crescimento, porém consolidaram-se, constituíram famílias e fizeram amigos, mantendo uma relação íntima e inquebrantável com as terras férteis e abençoadas de toda uma região polarizada pela bela e eterna Imperatriz. Todos possuem um pouco de poesia, ou seja, é, lá no infinito do seu imaginário, um poeta. E, tal qual a um vulcão inativo, pode ‘renascer’ e fazer surgir uma veia capaz de criar algo que marque, seja capaz de romper as barreiras dos tempos.
“No meio do caminho tinha uma pedra... tinha uma pedra no meio do caminho”. Parafraseando o mineiro Carlos Drummond de Andrade, as pedras, muitas das vezes, aparecem na estrada da pessoa que deseja percorrer em direção ao destino almejado, a sua vocação: ser poeta. Todavia, são retiradas mediante uma força indescritível, que surge, assim do nada, meio que uma força advinda de outro mundo. Talvez, sejam os deuses da poesia, lá em suas moradias, motivando e fazendo aparecer um novo e promissor horizonte. Tudo mora no imaginário. Mas os poetas transformam, realizam, iluminam, inclusive. Deixam o cotidiano diferente, mais gostoso de ser vivido. Faz desaparecer a melancolia. Muitas das vezes, até possibilitam nostalgia. Mesmo no clima bucólico das cidadezinhas, lá dos interiores dos centros mais avançados, a poesia reanima. Vive uma espécie de êxtase. E o poeta traz a baila um escritor ainda mais marcante. Mais maduro, isto é, experiente.

Poesia e paixão
O poeta é amante.
O poeta é visitante.
Mora aqui e acolá.
Vive a percorrer caminhos.
Vai e vem, acompanha a multidão em tropel.
O poeta anda errante.
Muitas das vezes, insiste em percorrer o mesmo trajeto.
Um ser em permanente mutação.
O poeta não mede, vai, insiste em alcançar.
Mesmo que não obtenha êxito em sua jornada.
O que é importante é não ficar parado.
Mesmo que tímido, o poeta insiste em transmitir o que sente.
A mulher amada é alvo.
Como acertar, se o tirocínio é duvidoso.
Ou seja, teme as reações, caso não consiga a reciprocidade.
O que importa mesmo é a cumplicidade, o ‘sim’ por parte do seu grande amor.

(Raimundo Primeiro, Imperatriz, MA, 20 de outubro de 2011)