* Roberto Wagner
Responda você, cara leitora, caro leitor, sem pensar muito, à seguinte pergunta: existe algum país no mundo cujas construtoras se envolvam mais com corrupção do que o Brasil? E também a essa: existe algum país no mundo que tenha políticos mais corruptos do que o Brasil?
É quase certo que você responderá com um categórico “não”. É compreensível. Raro é o dia, nos últimos tempos, em que não nos deparamos com notícias dando conta de que determinado político recebeu favores escusos, para não dizer propina, de determinada empreiteira ou coisa semelhante.
Quando não há fatos novos, safadezas com o dinheiro público já noticiadas são, em nova abordagem, mais uma vez noticiadas e por aí a coisa vai. O certo é que a pira dos escândalos, novos ou requentados, tem de permanecer acesa, como se por acaso precisássemos assistir, preferencialmente de camarote, para saciar uma suposta sede de justiça que teríamos, o sangramento público de nossas autoridades.
Como consequência quase inevitável dessa enxurrada de infaustas notícias, passamos a enxergar as nossas autoridades públicas, sem nos darmos conta desse equívoco interpretativo, como se todas elas, sem exceção, outra coisa não fizessem senão atentar contra a moralidade pública, senão assaltar os cofres públicos.
Essa visão estereotipada, claramente deturpada, chega a comprometer até nossa capacidade de discernir coisas básicas, elementares. De fato, como que hipnotizados, terminamos ficando com a impressão, por exemplo, de que ninguém que exerça função pública, mas ninguém mesmo, merece respeito ou credibilidade.
Você, cara leitora, caro leitor, deve estar se perguntando, a essa altura: mas se há, cotidianamente, a veiculação de tantas notícias de corrupção, de desvio de dinheiro público, não haveria razão, portanto, para que se termine, como única opção, desconfiando de tudo e de todos? Era exatamente aqui onde queríamos chegar nesse, como sempre, humilde e despretensioso artigo.
Pois bem, tente se fazer, agora, essa outra indagação: de todo esse festival de notícias sobre roubalheiras, sobre subornos, o que, ao fim e ao cabo das investigações, acabou, efetivamente, ficando provado e contra quem?
Acredite, cara leitora, caro leitor: tem gente que, tendo parado atrás das grades, realmente tinha e tem culpa no cartório; foram penalizados, portanto, com motivos de sobra. Mas não se engane: também tem gente pagando, inclusive já tendo sido linchadas publicamente, por coisas que talvez não tenha feito.
Esse é um dos riscos que correremos, como nação, se continuarmos achando que todas as pessoas mencionadas por delatores, no caso da Operação Lava-Jato, devem ser imediatamente consideradas como partícipes dos monumentais esquemas de ladroagem que estão vindo à tona.
Não sou criminalista mas sei que, para que certos casos sejam bem apurados e criminosos não fiquem impunes, delações são importantes e, com toda a certeza, representam um notável avanço. E sendo um inquestionável avanço, não me parece razoável que o instituto jurídico da delação tenha o seu valor e prestígio diminuídos, em decorrência de um ou outro exagero cometido, até aqui, pelos que estão à frente da Lava-Jato.
Mas sei, também, que é preciso redobrado cuidado (repito: redobrado cuidado) na apreciação de uma delação. Afinal, o delator, não se pode ignorar, é, quase sempre, alguém que, metido até o gogó em graves irregularidades e sabendo, por isso mesmo, que precisa fazer uma delação, digamos assim, bastante substanciosa, talvez se sinta tentado, se não tem coisas concretamente relevantes para dizer, de modo a ser premiado com a delação, a envolver, com uma história bem contada, pessoas inocentes, para cujos pescoços, como se está vendo, já há patíbulo e cordas de plantão, nesse tétrico cenário que se montou em nosso país, para o pronto enforcamento de todos os citados.
Soa legítima, assim, a analogia com o ditado usado para título do presente artigo: devagar com a delação, que o delator, geralmente um patife (e, portanto, alguém inconfiável), é de carne e osso. Até a próxima.
Advogado *
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