Heródoto nos relata histórias milagrosas dos mais diversos povos, das mais variadas crenças e religiões. Entre elas, a de Creso, rei dos Lídios, considerado um dos homens mais ricos de sua época. Quando os oráculos o aconselharam a investir contra Ciro, rei dos Persas, ele acreditou. Foi derrotado, preso e posto por Ciro sobre uma enorme fogueira para ser queimado vivo.

Apesar de rico, Creso era um homem muito sensível e amante das verdades morais e filosóficas. Amigo e admirador de Sólon, dizia não trocar os ensinamentos do sábio grego por riqueza alguma deste mundo.

Quando o fogo foi ateado, ele homenageou o mais sábio legislador ateniense, bradando que, mesmo os reis ricos e poderosos eram passíveis de castigos; que tudo era passageiro e que somente as virtudes enalteciam o homem e o tornavam imperecíveis.

Estas palavras comoveram profundamente o rei persa que ordenou que apagassem a fogueira. O fogo, porém, se tornara incontrolável. Diante da emoção geral dos que assistiam ao ato, e da fé pessoal, o rei mais rico da antiguidade implorou a Apolo que o livrasse daquela morte horrível. O céu que estava claro, conturbou-se em minutos, trazendo trovões e fortes chuvas que apagaram as labaredas. Diante do acontecido, Creso passou da condição de vencido condenado à morte ao importante cargo de principal conselheiro do vencedor.

No livro de Jonas, a Bíblia nos relata que ele, Jonas, foi engolido por um enorme peixe, ficando em seu ventre durante três dias e três noites, sendo depois vomitado numa das praias da Assíria, a fim de promover a conversão de Nínive. O próprio Jesus confirma isso.

Percebemos assim, desde os primórdios, a ansiedade dos seres humanos quanto ao transcendental. Centenas de seitas e religiões foram sendo criadas, cada uma dizendo-se dona da verdade e apresentando, em sua propagação, milagres estonteantes, ações que só são concebíveis a Deus. Afinal, Apolo também tinha poder para ordenar que do céu caísse chuva e que as nuvens obedecessem?

Nós, católicos, acreditamos que, por ordem de Deus, Jonas passou vivo, três dias e três noites no ventre de um peixe; acreditamos que Lázaro, morto há quatro dias, já em estado de putrefação, por ordem de Jesus, ergueu-se do túmulo para espanto de todos quantos estavam lá; acreditamos, enfim, em todos os milagres relatados pela Bíblia e por nossa Igreja.

Tornamo-nos cépticos ou mesmo não acreditamos quando homens, de crenças pouco ortodoxas, relatam que foram contemplados com os benefícios do deus deles. Hoje, com raríssimas exceções, todo ser humano acredita que há um só Deus, criador de todas as coisas. Como explicar, então, para não citar outros, o milagre relatado por Heródoto?

Houve tempos (e talvez ainda os há) em que a preocupação maior dos chefes religiosos era impor sua doutrina, buscando a hegemonia de seu Deus. Em nome, então, de um Criador Bom e Justo, foram cometidas as maiores maldades e injustiças que podemos imaginar. Nem as coisas de Deus foram poupadas do interesse político dos homens.

Por essa razão só nos resta apelar para quem criou tudo isso, independentemente de denominação, e pedir a Ele que tenha pena de nós – humanidade desorientada. Não importa que seja chamado de Jeová, Alá, Lua, Apolo..., importa sim, que no coração do homem que pede, resida a fé num Ser Superior Único.

Entendo que quando Creso implorou a Apolo; quando os índios pediam socorro ao Sol ou à Lua; quando qualquer ser humano, antes da vinda de Jesus Cristo, contritamente pedia socorro aos céus, Deus Pai, considerando os tempos, não levava em conta os apelidos com que era chamado.

Agora, em pleno século XX, diante de um presente religiosamente ainda indefinido, olhamos aturdidos para o passado e não encontramos o fio da meada para o futuro. Sentimo-nos num pináculo em noite escura, esperando a hora de saltar sem estarmos certos do lugar em que iremos cair.