Sorrisos. Ternura. Esperança. Felicidade. Amor. Naturalidade. Novidade. Exclusividade. São promessas e mais promessas, expressões e palavras lindas que nesse período eleitoral saem do dicionário e correm soltas na boca e no jeito de ser dos candidatos maranhenses. Tudo isso aparece às claras nos diversos meios de divulgação e marketing político, nos cartazes, adesivos e minidoors, nas músicas insuportáveis dos carros de som, nos programas eleitorais na televisão e no rádio, nos sites, blogs e redes sociais da internet. Mas onde estavam eles antes dessa corrida desesperada, para alcançar os privilégios da doce vida dos gabinetes políticos? Seria muito bom saber disso!
Como se apresentam nos palanques sendo a grande novidade no cenário de sofrimento e morte diária de inocentes, por que não apareceram antes da campanha eleitoral para se construir um projeto ou programa político escutando os mais excluídos e miseráveis de nosso Estado? Diante do glamour de ser a grande exclusividade, a salvação de tudo o que não presta, por que antes da aventura eleitoral não denunciaram os desvios de verbas públicas, da saúde, educação, merenda escolar, etc, nas diversas esferas governamentais dos municípios maranhenses, exigindo a prestação de contas transparente dos impostos pagos pela população e dos valores federais que entram e saem todo mês em cada prefeitura? Entre os lindos sorrisos estampados em cartazes e nos supostos abraços de ternura e afago nas crianças inocentes e nas pessoas humildes de coração, por que antes não visitaram os corredores de hospitais onde agonizam os pobres e doentes pelo chão, sem leitos e médicos? Diante da inescrupulosa naturalidade do abuso do poder econômico, gastos excessivos de milhões de reais nas propagandas, contratação de desempregados escravos com bandeiras nas ruas, compra de votos por meios de cabos eleitorais e “lideranças” corruptas muito bem pagas, por que fecham os olhos aos mais de “1,7 milhões de maranhenses miseráveis que vivem abaixo da linha da miséria, menos de R$ 70, per capita mês”? (IPEA, 2012). Por que não pensam que o desperdício desse dinheiro poderia ser investido na educação para tirar do analfabetismo “os 3,2 milhões de pessoas maranhenses com 10 anos ou mais de idade sem instrução ou com fundamental incompleto”? (IBGE, 2010). Ou não seria vantajoso, também, investir na educação dos mais de “620 mil analfabetos em idade de votar, dos 4,3 milhões do eleitorado do Maranhão”? (IBGE, 2010). Nos comoventes discursos de muita felicidade e esperança, que despertam uma grande indignação, por que não se viu nenhum candidato, antes desta campanha eleitoral, fazendo mobilização contra as obras públicas superfaturadas, inacabadas e de péssima qualidade com seus devidos desvios? Por que nada de concreto fizeram, antes do espetáculo de super campanhas, contra a violência que faz as famílias reféns em suas casas e o extermínio de jovens, a maioria negros e pobres, nos rincões do Maranhão? Por que só agora saem das salas frias, retiram os paletós e calçados caros para ficar ao lado dos empobrecidos doando migalhas? Mas, antes do período de campanha, por que não se viu ninguém lutando pela causa dos nossos sofridos professores, por reforma agrária, combate ao trabalho escravo, pela superação da crise do sistema penitenciário e justiça social, no Estado mais miserável do Brasil?
Todavia, diante deste profundo abismo, realidade desafiadora dos pobres e os candidatos oportunistas de plantão, você deve estar se perguntando, mas quando se vai falar de Deus? Acompanhando os programas eleitorais, no rádio e televisão, e as propostas dos candidatos nos materiais impressos, percebe-se como aparecem as expressões de forte clamor e apelação a Deus: “pela graça de ‘Deus”, “com a ajuda de ‘Deus”, “se ‘Deus’ quiser”, “com fé em ‘Deus”, “com ‘Deus e a força do povo”, “com as bênçãos de ‘Deus”, “o ‘Deus’ justo nos dará a vitória”, e outras.
Essas invocações chamam muito a atenção. Entre elas a que desperta maior preocupação, a causa deste artigo, é esta: “pelo amor de ‘Deus”. Mas, afinal de contas, que ‘Deus’ é esse tão invocado nesta campanha eleitoral? Que ‘Deus’ é esse que seu amor é para poucos e privilegiados? Por que só é invocado esse ‘Deus’ em vista da vitória pessoal de um candidato? Certamente, esse ‘Deus’ não é o Deus de Jesus Cristo, o Pai de todos e presente na vida e caminhada do povo.
A questão não é fazer apelação a Deus visando ter benefícios pessoais, como se vê na atual corrida eleitoral. Vale a qualquer custo chegar à conquista da vitória sendo eleito, mesmo com promessas visando o bem de todos e usando o nome de Deus. Daí é preciso ter muito cuidado, “por trás dos interesses éticos e universais, precisa-se descobrir a hipocrisia e revelar o cinismo dos interesses econômicos, políticos e particulares” (ÁLVARO, 1994). Assim, sobre Deus-Amor o que substancialmente interessa é o seu projeto sócio-libertador. Não basta invocar o nome santo de Deus, pensando que Ele vai, tão bondosamente, atender só aquele que invoca o seu nome na campanha eleitoral. Mas, o que realmente importa é conhecer, viver e implantar definitivamente, neste Maranhão injusto e cruel, o Reinado de Deus. Isto é, a maneira de Deus governar, um governo de amor e paz para todos e todas, de solidariedade e justiça para os iguais, seus filhos e filhas.
Ora, quem revela este projeto possível de liberdade e justiça social é o próprio Filho de Deus, Jesus Cristo, que diz “o Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos” (LUCAS 4,18). Portanto, de nada serve invocar o nome de Deus para satisfazer os interesses individuais na campanha política. Mas, pelo contrário, é preciso saber que dentro de uma situação de dominação na qual viveu Jesus Cristo, a sua evangelização libertadora, ou seja, o seu programa de governo revela que Deus-Amor assume o partido dos pobres e excluídos. Pois, o mesmo Jesus Cristo não invoca o nome Deus para obter conquistas pessoais, mas O invoca para o bem e a alegria plena de todos, “Eu peço por eles. Pai Santo, guarda-os em teu nome. Não te peço para tirá-los do mundo, mas para guardá-los do Maligno” (JOÃO 17, 9-15).
O Profeta e Rei dos pequenos e sofredores, Jesus de Nazaré, que “passou por toda parte fazendo o bem e anunciando que Deus não faz diferença entre as pessoas” (ATOS 10, 34.38), não morreu de velhice na cama ou de acidente de camelo nas ruas de Jerusalém. Distante disso, seu assassinato cruel e desumano na cruz, a pena de morte da época, foi consequência de sua prática libertadora que incomodou os sistemas dominantes e opressores de seu tempo, o poder religioso e político. A saber, a missão sócio-transformadora do Crucificado Ressuscitado, fazer a vontade de Deus estando ao lado dos pobres e pecadores, foi proclamada por sua Mãe, a Virgem Maria, quando Ele estava, ainda, sendo gerado no seu Ventre Sagrado, quando a mesma diz que Deus “manifesta o poder do seu braço: dispersa os soberbos de coração; derruba do trono os poderosos e eleva os humildes; aos famintos enche de bens e despede os ricos de mãos vazias” (LUCAS 1, 51-53).
Eis, portanto, um grande itinerário para a construção de uma cultura política mais humana e democrática, pois levam em conta os interesses e sentimentos comuns da coletividade. Isto é, não se faz Política em menos de noventa dias de campanha, com gastos faraônicos e bombardeios midiáticos, “a construção da ação política legítima depende da justificação e aplicação racional de valores e normas” (HABERMAS, 2004). Fora desta perspectiva, na política maranhense, caso não se busque o processo de participação popular permanente do cidadão comum, no projeto de um novo Estado do Maranhão, o que vai se ver é que muitos candidatos venais, a cargos eletivos, vão entrar na política apenas para beneficiar-se e, infelizmente, não para trabalhar e se comprometer em defesa da vida e dos interesses da população. Aos que fazem da Política o instrumento de defesa da vida e garantia dos direitos fundamentais da pessoa humana, acreditem que “à frente caminhará a justiça de Deus e a glória do Senhor lhes seguirás” (ISAÍAS 58, 8). Com coragem e fé somos capazes do impossível!
Pe. MOISÉS PEREIRA DIAS
Pós-Graduado em Comunicação Social – PUC-SP
Acadêmico de Direito – FEST-ITZ
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