Por DIÓGENES Dantas Filho

O autêntico e corajoso jornalista VICENTE LIMONGI NETTO, em seu artigo “Turba de moleques engravatados”, retratou muito bem o ambiente no plenário da Câmara dos Deputados durante a votação da suspensão da Presidente DILMA.
“Só faltaram mandar abraços e beijos para cachorros e gatos de estimação”. Teve até cusparada de representante do povo no rosto de adversário político. Espetáculo deveras lamentável. Lembrou-nos o ocorrido do impedimento de COLLOR apesar do atual ter sido bem mais radical e espalhafatoso, para não dizer cômico.
Nos dois processos, separados por cerca de 24 anos, ocorreram a debandada de correligionários e a traição de falsos amigos.
No governo COLLOR, após a acusação do irmão do Presidente, todos os Ministros e Secretários Nacionais assinaram um “Compromisso de Governabilidade” para permanecerem nos respectivos cargos somente até o final do julgamento na Câmara dos Deputados, qualquer que fosse o resultado. Assim mesmo, ocorreram defecções antes do citado veredicto para grande surpresa e decepção dos signatários do Termo.
Historicamente, a traição política na Antiguidade ficou estigmatizada pelo assassinato do ditador romano JÚLIO CÉSAR, em 44 a. C, nas escadarias do Senado. Ao ver seu filho adotivo liderando o movimento, declarou antes de morrer no local: “até tu BRUTUS!”
No meio militar, a lealdade é considerada uma das principais virtudes, na paz e na guerra. Tem mão dupla: é do subordinado para o chefe e de cima para baixo. Em combate, por exemplo, a delação pode ser considerada traição se comprometer os objetivos da operação.
De modo geral, o mesmo não ocorre no meio civil, apesar de recentemente um empreiteiro ter criticado seus colegas que aderiram à delação premiada após terem desfrutado, durante décadas, de privilégios e benesses de políticos e governantes de diferentes níveis, sem nada falarem. Na verdade, o “dedo duro” não inspira confiança, respeito e simpatia.
Porém, a referida delação está prevista na legislação brasileira e tem sido de fundamental importância para o êxito da operação LAVA-JATO no combate à generalizada corrupção no país.
Não é de hoje que “os ratos abandonam o porão dos navios no meio da tempestade e às vésperas do naufrágio”.
Independentemente de qualquer posicionamento político-ideológico e de ser acusado de cometer delitos graves, o comportamento do Deputado EDUARDO CUNHA na sessão de julgamento da Câmara foi firme, correto e coerente, mantendo frieza mesmo ao ter sua honra atacada por diversas vezes.
O Ministro JOSÉ EDUARDO CARDOSO foi retirado da Pasta da Justiça, pelo PT, por não ter ação de comando sobre a Polícia Federal. Foi movimentado para a Advocacia-Geral da União e vem demonstrando fidelidade e extraordinária lealdade à Presidente DILMA. Seus pronunciamentos são enfáticos e vibrantes, expõe-se e “dá a cara a bater” mesmo quando o governo perde de goleada. É constante e incisivo na defesa do indefensável! 
A História só dá destaque aos vencedores mas, também, valoriza os vencidos que agem com garra, coragem, coerência e persistência. 
Além do mais, a roda gigante da vida está sempre em movimento e as paradas se sucedem possibilitando o revezamento dos de cima com os de baixo.
Vamos ver o que ocorrerá daqui para frente onde a recente decisão do Supremo Tribunal Federal possibilitou o fato ambíguo de termos, na prática, dois Presidentes aguardando o epílogo da novela no Senado Federal enquanto o barco continua navegando à deriva.
COLLOR foi afastado da Presidência logo após o julgamento na Câmara dos Deputados e ITAMAR assumiu imediatamente com todos os novos Ministros. “O caçador de marajás” renunciou durante o prosseguimento do processo no Senado mas sua decisão não foi aceita, seu impedimento confirmado e seus direitos políticos suspensos.
Muitas águas ainda vão rolar no conturbado cenário político nacional. Que tristeza!

DIÓGENES Dantas Filho é Coronel R1 do Exército Brasileiro, ex-Comandante do 50º Batalhão de Infantaria de Selva (50º BIS) e Doutor em Planejamento e Estudos Militares.