Roberto Wagner

PRIMEIRO ATO: Posse do novo ministro da Justiça. Ambiente lotado, autoridades para tudo quanto é lado. Faltante, por motivos óbvios, somente o ex-ministro. Em seu discurso, o novo titular fez questão de desmanchar-se, perante o presidente e a primeira dama, em zumbaias e salamaleques. Encerrada sua fala pegajosa, dirige-se a Bolsonaro, a quem, com o corpo empertigado, bate continência, para, logo em seguida, aconchegar sua cabeça junto ao peito presidencial, apoiando-se nos braços do chefe da nação. Vassalagem da pior espécie. Sejamos francos e diretos: o que dá para esperar desse André Mendonça, que, a despeito do currículo que ostenta, seguramente não tem noção, pela grotesca subserviência demonstrada, da dimensão e respeitabilidade do cargo?

SEGUNDO ATO: Juntos, numa coletiva destinada a mostrar ao Brasil que o segundo continua prestigiado e tendo todo o apoio de Bolsonaro, os ministros Braga Netto, da Casa Civil, e Paulo Guedes, da Fazenda. Como se tivesse diante de si uma plateia de tolos e desinformados, o chefe da Casa Civil tenta convencer os jornalistas presentes que o chefe da Fazenda segue comandando a sua pasta com a mais absoluta   autonomia. Conversa para boi dormir, ninguém tem dúvida. Minado por todos os lados, tal como ocorreu com o outrora “todo-poderoso” ministro Onyx Lorenzoni (pelo menos ele se imaginava assim), Paulo Guedes segue, sim, em público e notório processo, digamos assim, de desidratação. É, portanto, outro fortíssimo candidato para, muito em breve, tomar o rumo de casa, já que, segundo se comenta, não demorará para se rebelar contra as cada vez mais frequentes intromissões do presidente, que de economia praticamente nada entende, na seara de seu ministério.

TERCEIRO ATO: Como se desmiolados e idiotas ambos fossem, os ministros Abraham Weintraub e Ernesto Araújo, da Educação e das Relações Exteriores, respectivamente, têm dado recorrentes demonstrações de que acham absolutamente normal que deles só se possa esperar bobagem em cima de bobagem. A última da dupla foi, sem base alguma, acusar o governo chinês de ter planejado essa pandemia da Covid-19, com o propósito de ressuscitar e expandir o comunismo mundo afora. Delírio puro, coisa que mais faz lembrar viagens lisérgicas. Vejam logo com quem eles dois, gratuita e desnecessariamente, foram arrumar confusão. É mole ou quer mais?

QUARTO ATO: Anunciado como novo diretor-geral da Polícia Federal, a posse de Alexandre Ramagem era uma questão de horas. Com ele no cargo, a voz era uma só, não apenas o próprio presidente, como os seus filhos, estariam protegidos. Veio o ministro Alexandre de Moraes, do STF, e, com um certeiro tiro no alvo, acabou com a farra. Acuado, Bolsonaro recorreu ao surrado expediente de fingir que, com a indicação do delegado Ramagem, imaginava que estava fazendo a coisa certa. É isso mesmo: até para preencher um cargo de segundo escalão, o presidente dá sinais evidentes de que deixou de lado qualquer compostura.

Finalizo esse, como sempre, singelo e despretensioso artigo trazendo à consideração das leitoras e leitores de O PROGRESSO mais uma passagem da vastíssima obra de Machado de Assis, recolhendo, desta feita, esse trecho da belíssima crônica “A Semana”, publicada em 9 de agosto de 1896, onde Deus, dando a sua resposta à provocativa afirmação de que “o mal é não cuidar do dia seguinte”, assim se manifesta: “Cuidar do dia seguinte é uma coisa; mas governar-se pelo que há de vir! Eu deixei aos homens o presente, que é necessário à vida, e o passado, que é preciso ao coração. O futuro é meu. Que sabe um tempo de outro tempo? Que semana pode adivinhar a semana seguinte?” 
Entenderam, né?

Então um bom fim de semana e até a próxima.