O evento ocorria sempre no final da tarde, no entanto, bem antes os empolgados atletas com seus uniformes coloridos “paitrocinados”, ou patrocinados por empresas, políticos, pelas próprias escolas, e muitas vezes resultados de “vaquinhas”, começavam a chegar com um sorrisão do tamanho do mundo para se posicionar na Rua Coriolano Milhomem e aguardar o horário da entrada triunfal no Frei Epifânio para a solenidade de abertura dos jogos escolares.
Era emoção que não acabava mais e uma grande honra poder participar dos jogos, fosse como atleta ou técnico. Impossível não deixar correr uma lágrima no canto do olho na entrada do “fogo simbólico” ao som do clássico Carruagem de Fogo, e na hora do tradicional juramento do atleta.
Vivi a emoção dos jogos escolares nos anos 1980 nos dois extremos: como atleta - corri os 100, 400 e 800 metros rasos- pelas escolas Nascimento de Moraes (professor Itacy Barbosa), Dorgival Pinheiro (professor Manoel Messias Alves dos Reis) e Graça Aranha (professor Ribeiro); e anos depois como auxiliar-técnico e mais tarde técnico da Escola Dorgival Pinheiro quando esta ainda pertencia à Prefeitura de Imperatriz. Com nosso empenho a escola Dorgival foi várias vezes campeã geral de atletismo. Exerci igual função também na antiga Escola Técnica Amaral Raposo a convite do falecido professor Aldenir Barbosa.
O bom mesmo era ser campeão uma vez que com o título ganhava-se a oportunidade de representar a cidade nos Jogos Escolares Maranhenses, em São Luís. Fiz também esse caminho diversas vezes como atleta e também técnico.
A lembrança desse tempo é por conta da abertura, no final da tarde desta sexta-feira,16, da edição de número 33 dos Jogos Escolares de Imperatriz, evento majestoso, aqui lembrando o ex-prefeito Ribamar Fiquene em cuja gestão foram concebidos os Jogos Escolares no formato de hoje e que marcou a meninice de muitos quarentões da cidade como eu.
A impressão que se tinha naquele tempo era de que a cidade parava por causa dos jogos. A pé, de bicicleta, em automóveis, ou em ônibus alugados sob a responsabilidade dos técnicos, para todo lado que se olhava via-se os meninos-atletas chegando aos locais de competição. Não havia muitos espaços e quase todas as modalidades eram realizadas no Centro Esportivo Barjonas Lobão, Juçara Clube ou no 50º BIS.
Não querendo puxar sardinha para meu esporte mais a pista de atletismo era a que atraia o maior número de expectadores, e não era por acaso: os pontos ali conquistados poderiam ser decisivos na contagem geral que determinaria, ao final de uma semana, o campeão geral dos jogos.
A cobertura jornalística das competições era intensa, principalmente pelas rádios. Logo cedo os repórteres começavam a disputar os boletins oficiais emitidos pela comissão organizadora. Era bom demais ouvir pela rádio os resultados das competições coletivas e individuais e os destaques de cada partida ou corrida.
Os JEIS, integram o calendário de eventos fixos da cidade, e como diria o jornalista Raimundo Primeiro em “priscas eras” costumavam mesmo mobilizar a cidade. A imersão dos protagonistas do evento, ou seja os atletas e professores era total. Os diretores das escolas deixavam o conforto de suas salas e iam para a beira dos gramados, quadras, piscinas e pistas de atletismo torcer pelas equipes de suas escolas.
Não raro os atletas de escolas públicas, ou privadas que se destacavam ganhavam “bolsas de estudos” e iam para escolas melhores. Existia ali uma saudável disputa, fora das quadras, pelos melhores atletas.
Bem aqui, uma pausa para um reconhecimento: se até hoje a cidade de Imperatriz abriga os maiores jogos escolares do interior do Maranhão deve-se a uma personalidade sempre lembrada quando se fala em desporto no Maranhão. Trata-se da minha ex-professora Mary Araújo de Pinho. É certo que há outros personagens, mas a Mary marcou toda uma geração por ter sido pioneira, como secretária municipal de Desporto e Lazer na execução dos Jogos Escolares de Imperatriz, nomenclatura que substituiu as antigas Olimpíadas Colegiais de Imperatriz (OCOI).
Para quem não sabe, os Jogos Escolares surgiram dessa competição que era realizada nas dependências do Batalhão-50º BIS e que revelou muitos dos profissionais de educação física que a cidade conhece ou conheceu e que ajudaram a formar o caráter de muita gente boa hoje no mercado no exercício de várias atividades laborais.
Professores de educação física como a Mary de Pinho, Izaias, Aldenir Barbosa, Itiberé Wanderley e Parente, protagonistas dos primeiros jogos e que já foram transferidos para o plano superior pelo Criador, merecem a imortalidade pelo legado em prol do desporto e pelos milhares de “filhos do esporte” aqui deixados.
O hoje vereador Esmerahdson de Pinho é um desses filhos do esporte. Influenciado diretamente pelo ambiente em que cresceu seguiu os passos da mãe como desportista, professor e agora parlamentar. Ele se lembra dela com emoção e ao mesmo tempo orgulho pela herança que deixou e também, pela condição de ter sido sempre uma mulher à frente de seu tempo, quebrando paradigmas e preconceitos ao atuar num ambiente, naquele tempo, tipicamente masculino. Não tinha um aluno ou sequer um professor, que não a respeitasse.
Aquela emoção primeva dos jogos escolares iniciados pela professora Mary de Pinho já não tem a mesma intensidade de antes e só é resgatada, às vezes, pelas lágrimas dos ex-atletas e dos professores quando viajam no tempo e revivem as cenas do passado.
O tempo passou, as competições foram divididas em etapas, novos interesses passaram a despertar, e a chamar a atenção dos jovens tendo como consequência a perda do glamour e do tamanho dos Jogos Escolares de Imperatriz que mesmo assim permanecem como os maiores do interior do Maranhão.
A gestão do prefeito Sebastião Madeira tem mantido a tradição e hoje no final da tarde no Frei Abadia a cidade chancela a edição de número 33 dos JEIS um momento, que mesmo não tendo a mesma força de antes, merece o respeito e atenção de todos por encerrar muito da história da cidade.
Certamente, mais uma vez no meio de jovens professores de Educação Física lá poderão ser vistos veteranos como Messias, Ribeiro, Isnande, Giorvane de Pinho, Jessé, Ozanilda, Onildo Fernandes, todos professores remanescentes das OCOI ainda em plena atividade. Um prazer revê-los e reviver a emoção de um tempo vivo na mente daqueles que num passado não muito distante nesse tempo ocupavam as quadras, piscinas e pista de atletismo da cidade.
Elson Mesquita de Araújo, jornalista.
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