Roberto Wagner
Crises políticas há em que, pela natureza e pelos contornos da situação, o respectivo desenlace só comporta duas hipóteses: ou o quadro existente se mantém, com pouca ou nenhuma alteração, ou é substituído por outro, em tudo ou quase tudo diferente daquele que restou deflagrado pela crise.
,Pelos rumos que os acontecimentos vêm tomando, é praticamente certo que, ao final da crise que engolfou o governo Bolsonaro, final esse que, ao que tudo faz crer, está mais próximo do que muitos imaginam, ou o presidente, à absoluta falta de qualquer outra alternativa, renunciará, ou será apeado do poder, por via de impeachment, cuja decretação, dada a enormidade da crise, poderá ocorrer em tempo legal e constitucional recorde.
É que tem partido do próprio presidente, curiosamente, todas as providências e iniciativas sem as quais esse desfecho não seria tão rápido. De fato, é o próprio Bolsonaro, com as inacreditáveis atitudes que cotidianamente, e de forma invariavelmente tresloucada, faz questão de protagonizar, todas elas, paradoxalmente, em seu próprio desfavor, o primeiro a se esforçar para que o capítulo final seja esse.
Na improbabilíssima hipótese de que consiga conservar o mandato que conquistou nas urnas (de maneira indiscutivelmente legítima, reconheça-se), Bolsonaro precisaria baixar a crista e concordar em dividir o poder com o que de pior e mais execrável existe no Congresso Nacional, ou seja, exatamente com aqueles que ele, ao longo de toda a campanha, jurou de pés juntos querer a máxima distância.
Ainda assim, essa remotíssima hipótese só seria viável, convém destacar, caso Bolsonaro parasse, agora, de cometer tantas atrocidades em desabono próprio. Como não é crível que isso vá acontecer, a possibilidade infinitamente maior é que, à inexistência de substrato fático minimamente consistente para que se conceba um terceiro prognóstico, lhe sobrevenham as duas hipóteses a que alude o título dado por este escriba ao presente artigo: ou a renúncia imediata, ou a saída por via de impeachment.
É isso. Termina-se esse, como de costume, singelo e despretensioso artigo, em tempos em que o presidente que temos teima em desmentir, atirando em tudo e em todos, o que, por estar documentado, não pode ser desmentido, trazendo à reflexão das leitoras e leitores de O PROGRESSO o que, justamente para situações terminais como a que se encontra, diz esse velho e sábio provérbio chinês: "Não compense na ira o que lhe falta na razão."
Um bom fim de semana a todos e até a próxima. ,
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