Quatro anos depois de implantado, o curso de Licenciatura Interdisciplinar em Estudos Africanos e Afro-Brasileiros, da Universidade Federal do Maranhão, UFMA, terá sua primeira turma diplomada no mês de junho. Pioneiro no Brasil, o curso foi implantado em maio de 2015 por iniciativa do então reitor Natalino Salgado. Em tempo: a iniciativa foi elogiada pela comunidade acadêmica de todo país, com repercussão internacional.
A formação em licenciatura de nível superior deverá contribuir de maneira definitiva para que seja efetivada a Lei 10.639, que torna obrigatório o ensino de História e Cultura Africana e Afro-Brasileira.
À época de sua criação, o reitor da instituição de ensino superior, Natalino Salgado, manifestou o desejo de ter seguidores em outros estados. "Esperamos que esta iniciativa pioneira inspire outras universidades brasileiras a implantarem cursos semelhantes com estudos africanos e afro-brasileiros", afirmou Salgado por ocasião da aula inaugural.
O Maranhão continua sendo um exemplo isolado. Cursos dessa natureza (Licenciatura em Estudos Africanos) são oferecidos por algumas universidades europeias e estadunidenses.
No mês passado, o curso recebeu o reconhecimento do Ministério da Educação, ou seja, passou oficialmente a fazer parte do organograma do MEC. Além do reconhecimento obteve nota 4, numa escala de 1 a 5, o equivalente a muito bom na avaliação do ministério.
Segundo Marcelo Pagliosa, professor da disciplina 'Educação em Direitos Humanos', por ser o Maranhão um dos três estados com maior percentual de população negra do país, é um território fértil e importante para o estudo da temática. Um dos principais eixos do curso é a formação em direitos. Pagliosa integrou a comissão que estruturou a proposta de criação do curso. Desta comissão participaram a atual coordenadora do curso, Kátia Régis, e o professor Carlos Benedito Rodrigues da Silva.
Destacado na história da educação superior brasileira, o curso de licenciatura tem como principal contribuição fazer emergir as histórias e sujeitos dos conhecimentos tradicionais africanos e afro-brasileiros.
Neste breve período de funcionamento, o curso interdisciplinar sofreu breves alterações na estrutura curricular para se adequar às novas normas colocadas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais das Licenciaturas.
Os alunos que serão diplomados em junho estão na fase de defesa de monografia. Após a diplomação poderão atuar na rede pública e privada de ensino básico. Com índice de evasão no mesmo patamar que os demais cursos da Ufma, o primeiro curso sobre estudos africanos e afro-brasileiros tem corpo discente formado majoritariamente por maranhenses, com participação de alunos procedentes de São Paulo, Pará e outros estados do Brasil.
Para os pesquisadores do tema e, principalmente, para sociedade a formação acadêmica integra um processo de concretização de proposições e denúncias feitas por movimentos negros ao longo das últimas décadas. A expectativa é a ocupação de posições de destaque no quadro de tomada de decisões das políticas públicas e que essa licenciatura transforme a visão dos estudantes sobre o continente africano e do 'protagonismo' do negro na formação da sociedade brasileira.
Os alunos do curso de Licenciatura Interdisciplinar de Estudos Africanos e Afro-Brasileiros perfazem o perfil escolar semelhante aos estudantes de outros cursos de licenciatura das universidades federais: de baixa renda e oriundos de escolas públicas. A partir da diplomação, os egressos do curso apontam para a formação de dois tipos de profissionais: professores da educação básica na área das Ciências Humanas; e gestores, formuladores e avaliadores de políticas públicas voltadas à população.
Publicado em Cidade na Edição Nº 16390
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