A cena é comum nos dias que antecedem a data 02 de novembro. Crianças e adolescentes envolvidos no trabalho de pintura dos túmulos a troco de gorjetas ou preços fixos, que variam de acordo com o tamanho do túmulo ou a cor da tinta utilizada. O PROGRESSO visitou os dois principais cemitérios de Imperatriz e conversou com alguns desses meninos, que chegam até a brigar por clientes.
“N”, como identificamos o adolescente de 15 anos, é morador do bairro Santa Inês. Segundo o garoto, a própria mãe ofereceu dinheiro para a compra do material usado para pintar túmulos nos dias 01 e 02 de novembro. Com R$ 20 ele foi até uma loja onde afirma ter comprado quatro pacotes de cal pelo valor unitário de R$ 4 e duas bisnagas, cada uma custando R$ 2. Baldes, rolo e pincel, “N” usou os mesmos do ano passado. A água para fazer a mistura é retirada de um poço dentro do cemitério Campo da Saudade.
“Tenho hoje (01) e amanhã (02) pra conseguir ganhar meu dinheiro. Vou fazer pelo menos uns R$ 180, igual no ano passado, que foi o primeiro ano que eu trabalhei. O menor preço que eu cobro é R$ 10 e o maior é R$ 50, são as covas grandes”, diz. Interrogado se não daria para faturar mais, “N” explica que a concorrência é grande, “e se não ficar esperto os outros tomam os clientes ‘no grito’”.
No cemitério São João Batista, “F”, de 14 anos, tem uma meta. “Meu pai disse que era pra eu ver se fazia pelo menos uns R$ 50 reais hoje e uns R$ 100 amanhã. No ano passado, eu fiz R$ 80 no dia 1º, no dia 02 foi mais fraco. Aqui o povo vem menos que no outro cemitério, aquele grande, nessa rua aqui, direto (Campo da Saudade), mas meu pai não deixa eu ir pra lá porque tem medo dos ‘caras’ maior tomar meu dinheiro”. “F” afirmou ter certeza que a meta não seria cumprida. “Hoje tem muito pintor aqui”, lamentou.
Edivaldo Veras é adulto, mas quando começou o trabalho em cemitérios ainda era adolescente. “Tenho minhas profissões: sou pedreiro, carpinteiro, encanador e pintor com curso na área, mas dias 01 e 02 de novembro eu trabalho é no cemitério, sempre descolo um dinheirinho extra”, conta.
A presença de crianças e adolescentes trabalhando nos cemitérios públicos da cidade, às vésperas do Dia de Finados, já preocupou a administração. “Procurei até o Conselho Tutelar e eles disseram que não podem fazer nada. Se chegarem aqui, dá pra lotar até duas Vans com meninos. Eles xingam, melam tudo, mas a gente não pode fazer nada. Então deixou ‘correr à vontade’, são apenas dois dias e criança gosta de ganhar seu dinheirinho, e muitos pais mandam, ou vêm e trazem os filhos”, declara Valdeci Marques, administrador dos cemitérios públicos de Imperatriz. (Hemerson Pinto)