Carlos Nina*
Ao assumir a presidência do Grêmio Lítero Recreativo Português decidi resgatar a memória da contribuição dos portugueses que o dirigiram, pois não encontrei nenhum registro sistematizado dessa participação. É relevante o fato de o Lítero ser o único dos grandes clubes de São Luís, não vinculados a instituições financeiras, que sobreviveu às mudanças responsáveis pelo fechamento dos demais que pontificavam na capital ludovicense. A maioria dos dirigentes que lhe deram longevidade é de portugueses.
A presença portuguesa no Maranhão continua visível, apesar de ter-se diluído na integração dos imigrantes lusitanos com maranhenses. O casario da Praia Grande e seu entorno, os casarões azulejados espalhados nas ruas da cidade espelham a mesma antiga e ainda preservada arquitetura de bairros em cidades de Portugal.
Até há pouco tempo, “fazer a Lusitana” era sinônimo de ir às compras para o consumo diário, por força da rede comercial que tinha esse nome. Sem desdouro à importância desse e de outros grupos econômicos de origem lusitana, dois fatos novos me chamaram a atenção para a contribuição de portugueses no Maranhão, em iniciativas que os maranhenses ou brasileiros de outros estados poderiam ter tido, mas foram portugueses que as tiveram. Na área da cultura e da economia.
Na cultura, refiro-me à Livraria AMEI, no São Luís Shopping, onde o português José Viegas, através da Associação Maranhense de Escritores Independentes – AMEI, é o responsável pela manutenção de um espaço dedicado exclusivamente a escritores maranhenses, que ali já têm expostos mais de dois mil títulos, sobre os mais diversos temas. Adicionalmente com um espaço para eventos, gratuitamente disponibilizado ao lado da Livraria, a AMEI tornou-se um centro dinamizador da intelectualidade e da cultura maranhenses.
Na economia, um Terminal de Uso Privado (TUP), planejado pela Grão Pará Multimodal Ltda - GPM, sob a direção dos portugueses Nuno Silva, Nuno Martins e Paulo Salvador, é um projeto, já autorizado pela ANTAQ desde 2018, para transformar espetacularmente a economia do Maranhão e do Brasil. Bastou para tanto um olhar para o lado ocidental da Baía de São Marcos, na costa alcantarense, onde até a profundidade de 25m é maior do que a dos portos do Itaqui e da Ponta da Madeira, que, com seus 23m, destacam-se no mundo, igualando-se nesse item ao de Roterdã. O novo porto, em Alcântara, permitirá a atracação dos navios de maior calado que cruzam os oceanos.
A comunidade portuguesa no Maranhão tem tudo para orgulhar-se desses marcos, pois um – o cultural – já produziu e continua produzindo sensível transformação no cenário intelectual do Maranhão, onde academias de letras têm brotado de toda parte, já resultando na criação da Federação das Academias de Letras do Maranhão. O outro marco - o econômico - está abrindo uma enorme janela de esperanças porque o TUP da GPM trará consigo o crescimento da malha ferroviária e estimulará a melhoria das hidrovias, impulsionados pela necessidade de escoamento de uma produção com potencial reprimido, num círculo virtuoso que levará inevitavelmente ao desenvolvimento do Estado.
* Presidente do Lítero Português de São Luís (MA)
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